Em uma crise que vem se arrastando há meses e que tem piorado à medida que surgem novas denúncias da Operação Lava-Jato, a Sete Brasil, responsável pela construção de 28 sondas de perfuração para a Petrobras, está em uma encruzilhada. Sem dinheiro para pagar os estaleiros contratados, aos quais deve até agora US$ 850 milhões, a empresa corre contra o tempo para atender novas exigências dos financiadores do projeto. Capitaneados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os bancos passaram a fazer demandas adicionais à Sete para liberar cerca de US$ 5 bilhões em financiamentos depois que tornou-se conhecido, este mês, o conteúdo da delação premiada do ex-diretor operacional da empresa, Pedro Barusco.
Barusco, que também foi gerente-executivo de engenharia da Petrobras, afirmou na delação que houve pagamento de 1% de propina nos contratos das sondas, firmados pela Sete Brasil com cinco estaleiros. "Estamos trabalhando para conseguir cumprir as condições adicionais exigidas pelos bancos. São condições que surgiram após a divulgação do conteúdo da delação de Barusco. Os detalhes dessas condições são protegidos por acordo de confidencialidade, mas o que posso dizer é que são exigências bastante complexas", disse Luiz Eduardo Carneiro, presidente da Sete Brasil, conforme antecipado ontem pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
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O Valor apurou que entre essas exigências constam a apresentação de certidões de auditorias nos contratos e declarações de idoneidade das empresas envolvidas. No total, a Sete Brasil tenta fechar empréstimos de cerca de US$ 5 bilhões com BNDES, Caixa Econômica Federal e UK Export Finance, do Reino Unido, para garantir a continuidade da construção das primeiras sondas. Hoje há 17 sondas em construção de um total de 29, sendo que a empresa acredita que poderá entregar a primeira unidade à Petrobras ainda este ano. Das 29 sondas, 28 são para a Petrobras e uma será construída para ser oferecida ao mercado, segundo os planos da empresa. No total, os investimentos no projeto da Sete Brasil somam US$ 26,4 bilhões. Em janeiro, o BNDES ratificou a aprovação de crédito de R$ 8,8 bilhões para a construção de nove sondas da Sete Brasil, mas quando o contrato estava para ser fechado foi conhecida a delação de Barusco.
Em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo, em maio do ano passado, Carneiro falou em tom de desabafo: "Estamos com um elefante na sala chamado Lava-Jato", afirmou. O executivo disse que ao assumir uma das primeiras providências foi fazer auditorias em todos os contratos. Segundo ele, o auditor independente contratado pela Sete Brasil não identificou qualquer irregularidade nas licitações nem nos contratos de construção das sondas. "Os contratos estão dentro dos preços de mercado." Para Carneiro, a empresa está sendo "penalizada" uma vez que a Sete Brasil e seus acionistas não fizeram "nada de errado". As denúncias da delação, afirmou, envolvem irregularidades cometidas por ex-diretor da companhia.
Ele afirmou ainda que seria impossível para qualquer empresa identificar, via instâncias de governança, atos ilícitos denunciados pela Lava-Jato. "Seja qualquer instância de governança que exista em uma empresa, se um dirigente resolve, separadamente, fazer alguma coisa [ilegal], ninguém fica sabendo. Dentro dos processos de governança da Sete, que são legítimos, bem-feitos, de mercado, não foi feito nada fora do comum. Poderia ter acontecido com qualquer empresa. Aconteceu por fora, não foi por dentro. Foi da porta para fora, uma relação pessoal [de Barusco com os estaleiros]", afirmou.
Carneiro disse esperar que uma solução com os bancos seja possível o quanto antes. "O projeto, desde a sua concepção, foi previsto com o suporte do BNDES e em momento algum se pensou em colocar de pé a Sete só com recursos de curto prazo e de seus acionistas", afirmou. Ele descartou o aporte de dinheiro novo pelos acionistas, que já colocaram R$ 8,3 bilhões, equivalentes a 41% dos R$ 20 bilhões investidos na empresa até agora. "Nesse momento [um aporte] está descartado. Os acionistas entendem que já fizeram a parte deles, já botaram todo o recurso que estava previsto por eles e a ideia é que a Sete consiga botar de pé aquilo que estava programado desde o primeiro momento, na criação da empresa, que é a entrada de recursos do BNDES."
Hoje a empresa, com 120 funcionários, tem dinheiro em caixa somente para pagar despesas gerais e administrativas por meses. "Hoje, se perguntar, quanto recurso tenho para pagar os estaleiros, posso dizer: nenhum." Na semana passada, o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), de Pernambuco, enviou carta à Sete Brasil comunicando que pretende suspender o contrato para construção de sete sondas por falta de pagamento. Carneiro disse que a decisão do EAS não tem amparo no contrato com a Sete. "O EAS se valeu de uma abertura na legislação americana, não tem nenhuma base dentro do contrato", afirmou. Ele disse esperar que prevaleça o bom-senso. "O EAS vai entender que neste momento eles [os sócios do estaleiro] contribuíram para que existisse a Lava-Jato, que criou essa dificuldade para o financiamento [da Sete]", afirmou.
Nas últimas semanas, Carneiro se reuniu com o novo diretor-financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro: "A Petrobras e sua nova diretoria, bem como a antiga diretoria, tem dado todo o apoio à Sete. Já na primeira semana da nova diretoria tivemos um contato e eles ratificaram a posição de que estão interessados nas sondas e nos 28 contratos", afirmou Carneiro.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes e André Ramalho | Do Rio