Com fôlego ainda jovem e muitos projetos pela frente, a Shell completou este ano um século de atividades no Brasil. A organização anglo-saxônica chegou ao país como uma pequena companhia voltada à distribuição de querosene, lubrificantes, gasolina e óleos combustíveis e acabou por se transformar numa das principais organizações mundiais na área de exploração e produção de petróleo e seus derivados. No Brasil expandiu suas atividades para o setor de biocombustíveis e fortaleceu a sua marca em iniciativas na área da cultura e de meio ambiente.
Eleger os momentos de maior destaque deste período não é tarefa fácil. Para Fábio Caldas, diretor de assuntos externos para América Latina, há pelo menos quatro marcos em que a presença da Shell esteve alinhada com o pioneirismo no setor energético brasileiro. "Em 1957, a bandeira Shell foi a primeira a chegar a Brasília. Fomos o primeiro posto de abastecimento e serviços da então futura capital", conta. O segundo momento foi em 2003, cinco anos após a flexibilização da lei de monopólio do petróleo. Naquele ano, lembra Caldas, com o início da produção do campo de Bijupirá & Salema (na Bacia de Campos), a Shell tornou-se a primeira companhia a produzir petróleo após a Petrobras.
O terceiro destaque aconteceu em 2009, quando o projeto Parque das Conchas, localizado no bloco BC-10, na costa do Espírito Santo, iniciou a sua produção de petróleo. "Ampliamos a nossa parte de Upstream e fomos a primeira organização internacional a desenvolver no Brasil um projeto desde a fase de exploração até o primeiro óleo", afirma.
Desde então, o programa já produziu mais de 70 milhões de boe (barril de óleo equivalente). Para este projeto, foram aplicadas tecnologias de ponta, como a separação do óleo e do gás e aumento de pressão no fundo do mar. Foi utilizado ainda um sofisticado sistema de BOP (Blow Out Preventers), que consiste em uma válvula de grande porte para selar, controlar e monitorar os poços. Esse sistema controla a pressão no fundo do oceano e evita o fluxo desordenado de petróleo e gás até a plataforma.
A formação da Raízen, em 2011, fruto da joint-venture entre a Shell e a Cosan, ampliou o portfólio da companhia para atuação na produção de açúcar e etanol e também na distribuição de combustíveis na rede de postos. A Raízen conta com cerca de 40 mil funcionários e possui valor de mercado de US$ 12 bilhões, sendo uma das "cinco maiores do país em faturamento", segundo Caldas. A Raízen também é responsável pela rede de 4.700 postos de serviços e pelas 800 lojas de conveniência Select, que atendem cerca de 1,5 milhão de clientes ao dia.
O objetivo da parceria com a Cosan é o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas no campo da energia, como o etanol de segunda geração, a possibilidade de criação de biorrefinarias, maior eficiência de processos industriais, concentração e biodigestão de vinhaça e desenvolvimento de novas matérias-primas, como o sorgo sacarino.
Com a Raízen, está sendo possível aprimorar a qualidade da família de combustíveis Shell V-Power, direcionada para automóveis em pistas de corrida. Em 2010, a Shell havia lançado o Shell V-Power Etanol, o primeiro etanol aditivado do mundo.
O combustível é usado com sucesso nas competições de Stock Car. O objetivo é torna-lo referência nas pistas nacionais, a exemplo do que acontece com a gasolina mundial Shell V-Power, utilizada pela escuderia Ferrari na Fórmula 1.
Para os veículos que trafegam em rodovia, o empenho da Raízen está no constante aprimoramento da linha Shell Evolux Diesel, voltada para ônibus e caminhões. Os produtos oferecem até 3% de economia em relação ao diesel comum, melhor potência e performance do motor e menor emissão de CO2. "Além do aprimoramento técnico, temos cuidados especiais na armazenagem e na entrega dos combustíveis aos revendedores", afirma Caldas. A companhia não divulga números de investimentos no Brasil, mas Caldas diz que, em 2012, foram investidos globalmente US$ 1,3 bilhão em P&D.
Na área de lubrificantes, o principal destaque é a família de óleos Helix, com opções para todos os modelos de carros de passeio. A produção fica na unidade fabril na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Segundo a Shell, a participação no mercado brasileiro gira em torno de 14,5%.
Há ainda a presença da Shell Marine Products, que atua na venda de lubrificantes e serviços de suporte técnico para o mercado marítimo, atendendo desde a Marinha Mercante até clientes de apoio portuário, atendimento offshore, estaleiros e empresas pesqueiras. São mais de 100 tipos de lubrificantes marítimos para motores a diesel, óleo combustível marítimo e turbinas a gás.
Para os próximos anos, o principal objetivo da Shell será ampliar a sua participação no setor de 'upstream' (exploração, desenvolvimento, produção e transporte). "Trata-se de um ciclo de longo prazo. Estamos atentos para novas oportunidades em leilões. O Brasil é um país estratégico em nível global", afirma Caldas. Em 2012, a Shell global produziu 3,3 milhões de boe/dia. Em águas profundas, a produção mundial da companhia foi de cerca de 330 mil boe, sendo o Brasil responsável por 65 mil barris.
Atualmente, a Shell possui uma concessão onshore (perfuração em terra), o bloco SF-T-81, na Bacia de São Francisco, em Minas Gerais e mais seis concessões offshore (em alto mar), situadas na BM-S-54 (Bacia de Santos), MM-ES-23 (Bacia do Espírito Santo), BM-ES-27 (Bacia do Espírito Santo); Bijupirá & Salema (Bacia de Campos) e Parque das Conchas (BC-10/Bacia de Campos).
Desde 1998, a empresa já investiu mais de US$ 4,4 bilhões em sua atuação de upstream no Brasil. Atualmente em andamento, o redesenvolvimento de Bijupirá & Salema envolve a perfuração de quatro novos poços de produção. Estima-se que os campos atinjam um pico de produção de 35 mil boe/dia em 2014.
Na área cultural, a Shell oferece desde 1989 o Prêmio Shell de Teatro, que seleciona as melhores peças e profissionais da cena teatral brasileira. Durante 30 anos (1981 a 2010), a Shell manteve o Prêmio Shell de Música, que homenageava a cada ano os maiores nomes da MPB. Entre os premiados, estiveram Tom Jobim, Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, Caetano Veloso, Baden Powell e Milton Nascimento.
Fonte: Valor Econômico/Guilherme Meirelles | Para o Valor, de São Paulo
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