A decisão da Petrobras de cortar em 37% os investimentos previstos para os próximos anos promete mudar não só a curva de produção da companhia, como de ao menos outras cinco petroleiras. Atrasos e suspensão de projetos, que levaram a estatal a reduzir em 1,4 milhão de barris/dia sua previsão de produção de petróleo para 2020, devem mexer com os negócios de empresas como Galp, Chevron, Barra Energia, Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) e Shell, que herdará os ativos da BG, todas elas sócias da brasileira.
A lista de projetos suspensos pela Petrobras inclui a produção de áreas como Júpiter e Carcará, no pré-sal de Santos, e Maromba, na Bacia de Campos. Previstos para produzir entre 2018 e 2019, os três ativos foram retirados do horizonte até 2020 do plano da estatal, o que representará de dois a três anos de atraso, pelo menos, em seus respectivos cronogramas.
Em meio à baixa dos preços do barril, a notícia não chega a ser ruim para algumas sócias, já que reduz os compromissos de investimentos das empresas num momento de receitas mais fracas. Um analista financeiro consultado pelo Valor lembra, por exemplo, que a Galp está comprometida com vultuosos investimentos em Lula e que ganha, com o atraso de Carcará e Júpiter, mais tempo para uma nova fase de desembolsos. Pelo menos até 2017, quando prevê fluxo de caixa positivo no Brasil.
No bloco BM-S-24 (Júpiter), os efeitos do corte da Petrobras foram praticamente imediatos. A Galp já sinalizou que investimentos na perfuração de dois poços na área, previstos para este ano, e a declaração de comercialidade da área foram postergados.
Se por um lado alivia o fluxo de investimentos das petroleiras num cenário de preços baixos, a suspensão dos projetos, por outro, mexe com as metas de crescimento da produção da Petrobras e parceiras. Com a possibilidade de mudanças do operador de Carcará e Júpiter, incluídos na venda de ativos da estatal, e sem um cronograma definido para essas áreas, as sócias ainda não sabem ao certo quando começarão a gerar receitas com os novos projetos, apurou o Valor.
João Carlos De Luca, presidente da Barra Energia, conta que a Petrobras ainda não sinalizou aos parceiros quando Carcará, de fato, entrará em produção. "Estamos achando que não se dará em 2020. Em 2021 é possível", disse o executivo, que se mostra tranquilo com o andamento do projeto.
De Luca destaca que os investimentos na avaliação da descoberta, ao contrário de Júpiter, seguem normalmente e que a estatal tem se reunido periodicamente com os sócios para atualizar o progresso do projeto. "Não foi tirado um dólar dos investimentos em Carcará. O adiamento do projeto se deu ao atraso na contratação da sonda MPD [com perfuração com pressão monitorada] e à necessidade de acharmos uma solução para escoamento do gás", explicou.
Para a Chevron, que detém 30% de Maromba e produz 2,6 milhões de barris/dia de óleo equivalente, a suspensão dos investimentos não chega a comprometer a curva de produção da companhia. Mas para empresas menores, como Barra e a QGEP, donas de 10% de Carcará cada uma, os rearranjos da Petrobras podem se traduzir num adiamento de seus planos de crescimento.
O projeto representa, por exemplo, a metade dos ativos da Barra, que também possui 30% de Atlanta, Bacia de Santos. Para a QGEP, as indefinições em torno de Carcará mexem também com as perspectivas de fluxo de caixa. O presidente da empresa, Lincoln Rumenos, disse que conta com o ativo para estabilizar a produção da companhia.
"[Carcará] Estabilizaria nossa produção, após o declínio de Manati. Sabemos que deverá haver algum atraso da produção, mas contamos com essa produção no inicio da década que vem", afirmou. "Para nós Carcará é muito importante. Esperamos que seja uma descoberta transformadora para nós", disse.
Nenhuma outra empresa, contudo, tem mais ativos em sociedade com a Petrobras que a Galp. A portuguesa é sócia da estatal em Carcará (14%), Júpiter (20%) e em Lula, principal campo em produção no pré-sal. Recentemente, o presidente da empresa, Carlos da Silva, disse que Júpiter e Carcará não chegaram a impactar o plano de negócios da companhia, mas que a suspensão dos projetos pode atingir os investimentos.
Além da suspensão dos projetos, a Petrobras confirmou também o atraso médio de um ano na entrada em operação das FPSOs replicantes (plataformas semelhantes), construídas no Brasil e contratadas para operar no BM-S-11, operado pela Petrobras (65%), com a Galp (10%) e BG (25%).
O presidente da BG, Helge Lund, disse recentemente, a investidores, que a empresa está preparada para "implementar planos de mitigação para minimizar o risco de novos atrasos". O discurso é compartilhado pela Galp, que vinha considerando em seu plano de negócios a postergação das plataformas.
Os reais sobrecustos do atraso dos projetos, frente aos orçamentos iniciais, ainda não estão claros. Silva minimiza a situação. Questionado por investidores sobre as despesas da relicitação do contrato rescindido com a Iesa para entrega dos módulos de compressão das plataformas replicantes, ele disse que os custos da medida estão "completamente controlados". "Não estamos tendo nenhum custo adicional", afirmou a investidores, em julho.
A Petrobras já sinalizou que as duas últimas replicantes (P-72 e P-73) não ficarão prontas antes de 2020 e que o consórcio precisará contratar uma nova unidade para compensar o atraso da plataforma que operaria em Lula Oeste. Procurada, a estatal esclareceu que os investimentos realizados pelas sócias já foram ressarcidos com a venda das duas unidades para a Petrobras, que as utilizará futuramente na cessão onerosa, e que cada sócio "contribuirá proporcionalmente à sua respectiva participação no consórcio" na contratação da plataforma de Lula Oeste.
Fonte: Valor Econômico/André Ramalho | Do Rio
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