O ex-presidente da Petrobras e atual secretário de planejamento da Bahia, José Sérgio Gabrielli, disse que a refinaria americana de Pasadena, adquirida pela estatal em 2005, durante a sua gestão, terá problemas para se converter em um negócio interessante para a companhia, mesmo no longo prazo. Em entrevista ao Valor, Gabrielli reafirmou que a aquisição fez todo sentido à época, mas que o sucesso da operação dependia de investimentos posteriores de até US$ 2 bilhões, o que não ocorreu.
"Do jeito que Pasadena está hoje, dificilmente vai se consolidar como um negócio sustentável e lucrativo no longo prazo. Ela exige investimentos para aumentar sua capacidade de conversão, que era a lógica do negócio inicialmente. É o que precisa ser feito para tornar a usina capaz de processar petróleo pesado", comentou Gabrielli.
Quando a usina foi adquirida, disse o ex-presidente da Petrobras, tinha "uma capacidade muito pequena" de processar petróleo. "Refinaria é assim. Você compra com baixa capacidade de conversão, investe no aumento dessa capacidade, para processar o petróleo pesado e ganhar margem lá adiante."
Gabrielli culpou os embates judiciais que a Petrobras enfrentou com a sua sócia na refinaria, a Astra, pela decisão de cancelar investimentos. "Esse investimento não foi realizado porque nós entramos em conflitos e litígio com o sócio. Eu não vou fazer investimento em uma refinaria onde estou com conflito", comentou. "O que aconteceu é que durante 2006 e 2007, tínhamos várias desavenças sobre a operação, sobre a prioridade, o que era importante investir, como fazer a preparação para o investimento. Ficou evidente que nós deveríamos acabar a sociedade."
Durante a gestão de Gabrielli na Petrobras, a estatal investiu na aquisição de apenas duas refinarias fora do país, a de Pasadena e a de Okinawa, no Japão. Em 2005, Pasadena foi comprada pela belga Astra, por US$ 42,5 milhões. No ano seguinte, a Petrobras entrou no negócio ao desembolsar US$ 360 milhões por 50% da refinaria. A partir daí, as sócias mergulharam em uma sequência de conflitos judiciais, por conta de compromissos que, segundo Gabrielli, não foram cumpridos pela sócia belga. Em 2009, um tribunal de arbitragem definiu que a Petrobras teria de pagar mais US$ 466 milhões pelos 50% restantes da operação, além de valores atrelados a estoques de petróleo que a empresa detinha. A disputa seguiu na Justiça, levando a Petrobras a desembolsar mais US$ 820,5 milhões pelo controle. Um acordo extrajudicial pôs fim a todas as pendências mútuas entre Petrobras e Astra. A estatal assumiu o controle definitivo de Pasadena e de sua comercializadora, finalmente pelo custo total de US$ 1,18 bilhão. Gabrielli reiterou que a transação seguiu preço de outras aquisições de refinarias firmadas à época e que não houve irregularidades.
O Valor questionou o ex-presidente da Petrobras sobre o desfecho de participação da PDVSA, estatal de petróleo da Venezuela, na sociedade da refinaria Abreu e Lima, em construção em Pernambuco. Segundo Gabrielli, a sociedade não vingou. "A PDVSA está fora da refinaria, não participou do negócio. Ela tinha uma declaração de intenções de assumir 40% da refinaria, mas não colocou nada. A Petrobras construiu 100% da refinaria. Ela não colocou recursos, está fora. A usina já está em fase de conclusão", disse Gabrielli.
A Petrobras nunca oficializou a saída da PDVSA. Procurada, a empresa informou que não iria se pronunciar sobre o assunto. Em maio, a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que a refinaria seria concluída com ou sem a participação da estatal venezuelana. À época, Graça teve um encontro com o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, e tratou do assunto. "Seria realmente bom que a PDVSA viesse. Mas estamos fazendo a refinaria, independentemente da PDVSA", afirmou Graça, à época.
Fonte: Valor Econômico/André Borges | De Brasília
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