O uso de Identificação por Radiofrequência (RFID - Radio Frequency Identification) em sistemas industriais e comerciais para controle e gestão de estoques vem abrindo novas possibilidades de controle de dados em tempo real dentro da indústria naval. Embora não seja uma tecnologia tão recente, sua aplicabilidade para o monitoramento de ativos fixos e passageiros em embarcações marítimas e fluviais mostra-se como algo inovador.
A experiência vem sendo testada pela equipe do pesquisador Newton Narciso Pereira, professor Adjunto da Universidade Federal Fluminense Escola de Engenharia Industrial Metalúrgica (UFF), com bons resultados para a garantia de maior segurança quanto a rastreamento de materiais perigosos a bordo e quanto ao acompanhamento de passageiros a bordo. As primeiras experiências foram apresentadas no painel “Indústria naval fluvial - cenário e perspectivas”, durante o último dia da Navegistic Navalshore Amazônia, realizada em Manaus, de 10 a 12 de abril, no Centro de Convenções do Amazonas Vasco Vasques.
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A pesquisa tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e deve ser concluída até 2025, mas já apresenta resultados satisfatórios que vão ao encontro do interesse do Brasil no setor de reciclagem de embarcações.
Anualmente, aproximadamente 800 navios são enviados ao sul da Ásia, especialmente em países como a Índia, Pasquitão, Bangladesh e Turquia para desmontagem e reaproveitamento de materiais. A atividade gera uma cadeia reversa de materiais reaproveitáveis, porém, da forma como é feita hoje não há um controle exato a respeito de materiais perigosos que representam risco à saúde humana.
Com a entrada em vigor da Convenção Internacional de Hong Kong para a reciclagem segura e ambientalmente adequada em navios, a partir de 2025, novos procedimentos se fazem necessários. Além disso, as exigências para envio de embarcações europeias para reciclagem ocorre somente em estaleiros credenciados pela União Europeia, o que confere uma oportunidade para um mercado em que o Brasil começa a despontar, principalmente no setor offshore.
A primeira experiência que coloca o país no cenário de players globais ocorre com as plataformas P32 e P33 da Petrobrás, que têm previsão para serem desmontadas em 12 meses, no Estaleiro Rio Grande (RS). Ambas foram arrematadas em leilão pela Gerdau para reaproveitamento do aço.
“Existe uma forma de automatizar o processo de rastreamento de materiais perigosos a bordo. Até então, isso sempre foi feito por meio de um inventário disponível a bordo, mas gerenciar essa base de dados não é fácil. O que estamos propondo é a automatização desse processo, que vai conferir uma inspeção remota, segura e em tempo real”, explica Newton Narciso Pereira.
O campo de pesquisa é o navio-escola "Ciências do Mar III" da UFF e vem sendo acompanhado por meio de etiquetas instaladas para testar e validar a tecnologia e a durabilidade do material impresso contendo o chip de RFID. De acordo com o pesquisador, as sociedades certificadoras já demonstram interesse no sistema.
Além disso, ele aponta o campo para controle de passageiros com etiquetas impressas em formato de braceletes como algo promissor que ajuda a identificar quantidade de passageiros e possibilidade de localização remota, em caso de acidentes. Outra aplicabilidade é no controle de contêineres em terminais portuários.