A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) suspendeu temporariamente, na última quarta-feira (01), a 17a Rodada de Licitação de áreas para exploração e produção de petróleo, que estava prevista para este ano. A decisão atendeu à determinação do Ministério de Minas e Energia. Em nota, a ANP afirmou que a decisão foi baseada no atual cenário econômico decorrente da pandemia da Covid-19. Especialistas reforçam que a queda no preço do petróleo teve importante peso nesta decisão.
Para a assessora estratégica da Fundação Getúlio Vargas (FGV Energia), Fernanda Delgado, a brusca queda no preço do petróleo em razão do contexto atual de crise tornou pouco atraente a venda das áreas. Ela afirmou que caso o leilão fosse mantido, provavelmente as áreas seriam arrematadas por baixos valores ou sequer teriam interessados.
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Fernanda explicou que a atual recessão economia reduziu em 30% o consumo de petróleo, provocando um excedente da oferta. Nesse contexto, portanto, tanto as áreas de menor custo quando as de custo elevado, como é o caso dos campos na área do pré-sal e pós-sal, se tornaram menos atrativas.
O professor de economia da FGV, Maurício Canêdo, destacou que o sucesso dos bônus de assinatura nos processos de licitação de área está diretamente associado ao preço do petróleo, ou seja, se este está muito baixo os valores dos bônus também tendem a cair. Para ele tanto a pandemia do coronavírus quanto a queda no preço do petróleo influenciaram na decisão da agência de suspender da 17a Rodada. “Numa recessão mundial não é um bom período para licitar essas áreas”, frisou.
A atual escassez da demanda do petróleo, de acordo com Fernanda, é um fenômeno raro na economia e tem provocado um impacto significativo no país. Isso porque o setor e óleo e gás representa de 5% a 6% do PIB nacional, isto é, um valor muito expressivo para a economia brasileira.
Ela ressaltou ainda que a falta de mercado para escoar a produção tem feito com que petroleiras, como é o caso da Petrobras, optem por cortes na produção. Recentemente a estatal anunciou um corte de 200 mil barris diários, além de redução de salário e cancelamento de novos projetos. Fernanda afirmou que além da Petrobras, outras petroleiras já reduziram investimentos no Brasil e que aquelas empresas menores talvez não suportem a drástica queda na receita.
Canêdo acredita que a decisão da Petrobras de reduzir a produção e cortar gastos foi uma forma de se adaptar ao atual cenário. Segundo ele, a redução na circulação de carros nas ruas e de voos devido ao coronavírus, fez com que houvesse uma diminuição considerável nos derivados do petróleo, sobretudo os combustíveis.