SÃO PAULO (Reuters) - A América Latina Logística negocia com clientes de cargas de varejo novos contratos para aumentar a produtividade de sua malha em um segmento que normalmente não tem a ferrovia entre as suas opções.
Com o plano, a ALL vê oportunidades de avançar sua participação no transporte de contêineres, que recorre mais ao transporte rodoviário por conta de seus baixos volumes, se comparado ao tradicional filão da empresa de transporte de milhões de toneladas anuais de grãos do Centro-Oeste do país para exportação.
"Vamos dar um salto grande em contêineres. Ferrovia tem vocação de atacado, mas com escala e regularidade se consegue montar um sistema (ao varejo) que dê retorno", disse o executivo em entrevista nesta terça-feira durante o Reuters Latin American Investment Summit, afirmando que a empresa está montando estrutura para atender esse tipo de cliente.
Segundo Hees, a ALL, que tem uma malha de 21.300 quilômetros de ferrovia, está focada em obter o máximo de sua atual estrutura, que liga São Paulo, Centro-Oeste e Sul à Argentina. Apesar disso, oportunidades de aquisições não estão descartadas no futuro.
"Se tiver oportunidade, vamos olhar. Temos uma história nessa direção", afirmou o executivo, lembrando a aquisição da Brasil Ferrovias em 2006. "Mas, por ora, temos muita comida no prato", brincou, referindo-se à densidade que considera ainda baixa diante do potencial que o crescimento do transporte ferroviário no país possui.
A ALL, que nasceu em 1997 com a privatização da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), transportou em 2009 cerca de 36 bilhões de TKUs (tonelada por quilômetros úteis). Hees vê espaço para ampliar esse número, sem expansões significativas de malha, entre quatro e cinco vezes, para cerca de 120 bilhões de TKUs, com base em índices de ferrovias nos Estados Unidos e na Europa. "Nossa densidade é um sétimo da ferrovia norte-americana."
Ele não estimou um prazo sobre quando esse potencial pode ser atingido. "Não dá para fazer isso do dia para a noite, se quisermos, não teremos nem maquinistas suficientes", afirmou o executivo, que ocasionalmente conduz locomotivas da ALL para conferir in loco a operação da empresa.
O executivo afirmou que a participação de mercado da ferrovia no Brasil corresponde a 22 por cento do transporte total de carga, "se tiramos minério de ferro é de 12 a 13 por cento", enquanto nos EUA o montante é de 45 por cento, 50 por cento na Europa e 55 por cento no Canadá.
"A oportunidade da ferrovia no Brasil ainda é muito grande", disse Hees. Contudo, ele reconheceu que as ferrovias brasileiras nunca serão tão produtivas quanto as norte-americanas.
A ALL planeja investir um recorde de 1 bilhão de reais em 2010, valor 45 por cento acima do injetado em 2009. Desse total, 300 milhões de reais serão aplicados no projeto que levará os trilhos da companhia por mais 260 quilômetros até a fronteira agrícola de Rondonópolis, no Mato Grosso.
Os investimentos incluem a contratação de 600 funcionários, dos quais 400 maquinistas que reforçarão o quadro atual de 1.600 operadores de trens da empresa, disse Hees.
Além da estratégia para o transporte de contêineres, o executivo comentou que a ALL negocia com a Vale projeto para transporte futuro de 15 milhões a 20 milhões de toneladas de minério de ferro da mina de Corumbá, comprada pela gigante da mineração da Rio Tinto em 2009. Em 2008, a mina produziu 2 milhões de toneladas.
Paralelamente, a ALL acertou no início deste mês parceria de 235 milhões de reais com a Usiminas para escoamento de produção de aço das usinas do grupo em São Paulo e Minas Gerais em direção a Paraná e Rio Grande do Sul. A empresa também fez acordo com a Rumo Logística, empresa da Cosan, para a criação de um corredor de transporte de açúcar conectado ao porto de Santos.
Fonte:Reuters
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