Há luz no fim do túnel da Ferrovia Norte-Sul. Só não há trem, trilhos ou dormentes. Depois de 26 anos em obras, o principal projeto ferroviário do país ainda é uma caricatura do que deveria ser. Estudos deficientes, corrupção, burocracia e falta de planejamento minaram o empreendimento. Um flagrante dessa situação pode ser visto nos 855 quilômetros de malha que ligam Palmas (TO) à Anápolis (GO). Prometia-se a conclusão do trecho até outubro de 2010. Até hoje, nenhum trem passou por ali.
Um festival de contratos aditivados contaminou a obra e desfigurou o projeto original. Há empreiteiras que chegaram a assinar 17 termos aditivos. Todas já deixaram as obras e tiveram seus contratos considerados concluídos pela estatal Valec. Para trás, ficou um rastro de obras irregulares e construções não executadas, irresponsabilidades que custarão mais R$ 430 milhões aos cofres públicos.
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O Valor visitou trechos da Norte-Sul. Em Anápolis, um túnel de 360 metros foi entregue, mas a malha de ferro que deveria passar por ele, não. Falta o ramal de 7 km de trilhos que chegaria ao porto seco da cidade. Taludes de concreto do túnel já apresentam rachaduras causadas pela infiltração das chuvas. Em Jaraguá, previa-se um pátio logístico. O que existe é um acesso por terra, sem nenhum tipo de instalação. São apenas alguns exemplos dos problemas encontrados.
A reportagem procurou as cinco empreiteiras que atuaram no traçado problemático. Todas alegam ter cumprido o que estava no contrato. O novo presidente da Valec, Josias Cavalcanti, promete cobrar as empreiteiras sobre serviços irregulares ou não executados. Apesar de toda a confusão, a Valec afirma que 88% do trecho está pronto e que, até dezembro, ele será concluído. Prevista para cortar o país numa viagem de mais de 2,3 mil km, entre Barcarena, no litoral do Pará, e Estrela D'Oeste, em São Paulo, a Norte-Sul só é realidade hoje para a mineradora Vale, que trafega nos 719 km que ligam Açailândia (MA) à Palmas.
Fonte: Valor