Os produtores de Mato Grosso já exportaram 6,2 milhões de toneladas de soja e 1,3 milhão de milho no primeiro trimestre, e cerca de 50% desse total foi escoado pelos portos do chamado Arco Norte. Melhorias na logística, como a conclusão do asfaltamento da BR-163, e a redução dos fretes influenciaram o avanço.
“A tendência é que em 2020, pela primeira vez, registremos metade dos grãos sendo exportados pelo norte e metade pelo sul”, afirmou ao Valor o superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca. Em 2019, saíram pelo portos do Norte 45% dos embarques de grãos de MT. O aumento da participação previsto equivale a 3 milhões de toneladas.
PUBLICIDADE
O ganho do produtor, segundo Latorraca, está no custo menor de escoamento pelo Norte em relação aos portos de Sudeste e Sul. Barcarena e Santarém, no Pará, são os mais utilizados, com 2,2 milhões de toneladas de soja e milho de janeiro a março.
O superintendente do Imea conta que a conclusão da BR-163 jogou os preços dos fretes rodoviários para baixo no início da safra. Os valores caíram de mais de R$ 200 por tonelada para R$ 170 entre Sorriso (MT) e Miritituba (PA). Hoje, com impactos da pandemia do novo coronavírus, o valor subiu para R$ 186, ainda longe dos picos motivados pelos riscos de atoleiros no percurso até os portos.
Por outro lado, a dependência dos portos do Sudeste e do Sul continua grande por causa da chegada dos fertilizantes importados - daí a importância do novo terminal em Itaqui (ver acima). “O frete de retorno está pouco estabelecido nos portos do Norte. Recebemos muito fertilizante de Santos e Paranaguá”.
Cerca de 42 milhões de toneladas de soja e milho deverão ser exportadas pelos portos do Arco Norte em 2020, 10 milhões a mais que há dois anos. O cálculo inclui a produção de Mato Grosso e do Matopiba.
O coordenador do Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, diz que a “grande virada” para o escoamento de grãos e a chegada de insumos pelo Norte ainda pode ocorrer com a construção e ampliação das ferrovias, como a aguardada Ferrogrão em Mato Grosso. Outro desafio é tornar o eixo mais lucrativo ao produtor. Segundo ele, apesar de reduzir as distâncias em relação aos portos do Sul, o agricultor ainda não sentiu reflexos no bolso.
“No caso dos fertilizantes, o ganho pode ser direto, o produtor terá domínio melhor do valor. No grão, essa margem está ficando com a trading, ainda não conseguimos capturar esse valor”. O custo para enviar a soja produzida na região de Sorriso para a China pelo porto de Paranaguá é o dobro do que pagam os agricultores dos Estados Unidos e da Argentina. Em média, os estrangeiros pagam US$ 57 e US$ 56 por tonelada, respectivamente. Os brasileiros chegam a pagar US$ 110.
Fonte: Valor