Aos solavancos e vagaroso como o arranque das antigas locomotivas a vapor, o transporte ferroviário no Rio Grande do Sul, aos poucos, encarrilha. Os indícios surgem com o crescimento médio de 10% ao ano no volume de cargas que cruza o Estado sobre trilhos, a proximidade da reativação de trechos e novos projetos de revitalização do modal.
Para o trem voltar a ser sinônimo de progresso, a boa nova, mesmo que ainda distante, pode ser a construção de um novo trecho da Ferrovia Norte-Sul que partiria de Panorama (SP) e chegaria ao Porto de Rio Grande. Incluído no PAC 2 como estudo, o texto passou pela Câmara dos Deputados no ano passado e agora está na Comissão de Infraestrutura do Senado.
Na Serra, está próximo do fim a análise de viabilidade do transporte de passageiros entre Bento Gonçalves e Caxias do Sul, como opção às rodovias. Para os nostálgicos, os trens de turismo planejados por diversos municípios são a esperança de reviver a época áurea.
- O Estado está saindo da letargia e voltando a ver que a ferrovia tem papel importante - diz o engenheiro Daniel Lena Souto, especialista em transportes e membro do Conselho de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
No curto prazo, por pressão do Ministério Público Federal (MPF) e do governo novos trechos devem começar a ser operados pela América Latina Logística (ALL), empresa que arrematou a malha sul na privatização das ferrovias, no final de 1996. Dia 17 de dezembro, em reunião do Mercosul, no Paraná, o governo brasileiro anunciou a reativação do ramal entre Livramento e Cacequi, inoperante por alegada falta de viabilidade econômica. A reativação permitirá a integração ferroviária com o Uruguai.
- Estamos licitando a empresa que fará a recuperação da linha, e o trecho Santana do Livramento-Cacequi deve operar em 2012 - diz o gerente da Unidade de Produção da ALL no Estado, Roberto Fischer Machado.
Como a concessão previa que a ALL teria de operar toda a malha que recebeu, o MPF trava uma batalha jurídica pelo cumprimento dos contratos. À frente da luta, está o procurador federal Osmar Veronese, de Santo Ângelo, que desde 2003 se esforça para a ALL ampliar as operações e, a partir do município, fazer o transporte ferroviário chegar também a Santa Rosa e São Luiz Gonzaga. Segundo Fischer, o trem chegará a São Luiz Gonzaga em 2012 e, em até três anos, Santiago. Ainda em dezembro, a Justiça Federal determinou que a ALL reative o trecho entre Getúlio Vargas e Marcelino Ramos.
- A ALL recebeu 3,2 mil quilômetros no Estado e cerca de mil quilômetros estão desativados - sustenta Veronese.
Mesmo crescendo, a fatia do modal nas cargas transportadas no Estado ainda é modesta. Os trens têm participação de 9%, ante 25% no Brasil, percentual baixo se confrontado com outros países de extensão continental. Apesar do avanço dos produtos industrializados, os granéis, puxados pela soja, são o carro-chefe da ALL. Ano passado, 68% dos grãos exportados por Rio Grande chegaram via ferrovia.
MEIOS DE TRANSPORTE
> Rodovia: até 400 quilômetros
> Ferrovia: de 400 quilômetros a 1,5 mil quilômetros
> Hidrovia: de 1,5 mil quilômetros a 3 mil quilômetros
Competitividade comparada
> Um vagão graneleiro leva 100 toneladas de carga
> São necessários 3,57 caminhões (de 28 toneladas de carga) para se igualar a um vagão
> Um trem composto por cem vagões vale por 357 caminhões
Fonte: Log-In Logística Intermodal/Caio Cigana
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