Estoques em baixa provocaram uma corrida dos países importadores, o que gerou um gargalo nos portos brasileiros
Procura é tão grande que os compradores estão pagando um ágio de 5,7% pelo açúcar brasileiro
Os preços elevados do açúcar fizeram os consumidores adiarem as compras do produto à espera de um valor mais favorável. O resultado foi uma "queima" dos estoques, que já eram pequenos devido ao deficit mundial do produto. Caíram para patamares críticos.
Ao retornar ao mercado, os países importadores estão encontrando dificuldades de abastecimento, principalmente no Brasil, o maior fornecedor mundial de açúcar e, neste momento, o único.
Essa dificuldade se deve a um problema de logística de portos, agravado ainda pelas chuvas.
Esse gargalo nos portos é provocado por uma "realidade de mercado", quando todos os países consumidores estão recompondo estoques, diz Plinio Nastari, presidente da Datagro.
Como o apetite dos importadores é grande, os portos brasileiros estão com dificuldades na capacidade física de embarques.
A recomposição de estoques vem de refinarias autônomas -de Dubai, Arábia Saudita e Nigéria- e de países consumidores -Paquistão, China, Rússia e Estados Unidos-, diz Nastari.
ÁGIO
A procura por açúcar é tão grande que os importadores pagam um prêmio pelo produto brasileiro, uma situação inusitada em relação ao que ocorre normalmente nesse período do ano.
O açúcar está sendo negociado a 19,4 centavos de dólar por libra-peso em Nova York, o que corresponde a US$ 445 por tonelada para o produto brasileiro. Além desse valor, há um acréscimo de US$ 25,2 por tonelada como ágio, ou seja, 5,7% a mais.
Normalmente se observa um desconto no açúcar brasileiro nesse período, devido à boa oferta do país no mercado, diz Nastari.
"A situação pode piorar ainda mais", adverte Antonio de Padua Rodrigues, assessor técnico da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). "Não há falta de açúcar, principalmente porque a safra se desenvolve bem, mas a expectativa de uma nova frente fria e de mais chuvas vai continuar dificultando os embarques."
Para Arnaldo Luiz Corrêa, da consultoria Archer Consulting, a trajetória de alta do açúcar neste momento surpreende a todos.
Cotado a 13,67 centavos de dólar por libra-peso no início de maio, o contrato de outubro fechou a 19,40 ontem em Nova York.
Padua diz que "bateu um desespero" em muitos importadores. Há navios na fila de espera nos portos brasileiros que nem fecharam os negócios ainda.
Corrêa concorda com Padua e diz que essa puxada nos preços internacionais não se deve à falta de açúcar, mas à conjugação da corrida dos consumidores aos portos brasileiros e às questões climáticas e de logística.
Passado esse estrangulamento momentâneo de embarque do produto, o diretor da Unica acredita que as coisas voltem ao ritmo normal, principalmente porque "essa está sendo uma safra mais açucareira".
Devido ao preço mais favorável do açúcar em relação ao do álcool, as usinas brasileiras aumentaram a porcentagem de cana moída para a produção de açúcar.
(Fonte: Folha de S.Paulo/MAURO ZAFALON/DE SÃO PAULO)
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