Grupos empresariais do país com interesses na mineração, principalmente siderúrgicas, devem se articular para disputar a compra do Porto Sudeste, pertencente à MMX e um dos principais ativos do grupo EBX, de Eike Batista. A entrada de grupos nacionais ligados à siderurgia e mineração no processo de compra do Porto Sudeste busca assegurar acesso a um porto próprio para o escoamento do minério de ferro produzido em Minas Gerais e que tem como destino a exportação.
Ao mesmo tempo, segundo apurou o Valor com fontes do setor, o movimento tentaria evitar que o porto caia em mãos de tradings estrangeiras, como a suíça Glencore Xstrata e a holandesa Trafigura, com as quais a MMX já confirmou negociações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Fontes do setor avaliam que se a Glencore comprar o porto Sudeste vai passar a ter poder de influenciar o mercado de minério de ferro no Brasil, com eventuais efeitos negativos para os mercados de grupos nacionais ligados à siderurgia e à mineração. Esses grupos já estariam fazendo uma análise sobre o tema e poderão entrar na briga pelo Porto Sudeste, que está previsto para iniciar operação no fim deste ano.
O porto terá capacidade inicial de embarcar 50 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. A expectativa é que atinja esse volume de forma gradual até 2016. O plano da MMX prevê uma duplicação. Tal decisão, no entanto, caberá ao seu futuro controlador. O processo de licenciamento para 100 milhões de toneladas/ano está em fase de análise no Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Segundo a empresa, já foram realizadas duas audiências públicas.
O terminal portuário da MMX tornou-se um ativo cobiçado no mercado não só pela crise no grupo EBX, mas também em função do novo marco regulatório do setor portuário, que permite a terminais privados, como o Porto Sudeste, movimentarem não só carga própria, mas também embarcar cargas de terceiros, observou uma fonte do setor.
Entre os grupos nacionais, os maiores interessados no porto Sudeste são companhias que investem em minério de ferro, mas não têm porto próprio, caso de Usiminas, Gerdau e ArcelorMittal. A Vale e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) já contam com terminais portuários próprios em Itaguaí (no litoral do Rio), por onde embarcam sua produção de minério.
Um movimento solo tanto de Vale quanto de CSN, certamente, enfrentaria fortes restrições do Cade, órgão antitruste do país, avalia outra fonte. A Vale costuma fazer leilões para disponibilizar ao mercado volumes de embarque de minério do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais em seu porto. Mas para fontes do setor, essas "janelas" de embarque representam volumes pequenos, insuficientes para uma Gerdau ou Usiminas. A CSN também vende capacidade no seu terminal de Itaguaí, em um negócio bastante rentável para a companhia.
Vale, CSN, Gerdau e Usiminas são sócios na MRS Logística, a antiga malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal, que faz a ligação das reservas de minério de ferro do Quadrilátero e da região de Serra Azul (MG) a portos no Rio, inclusive ao Porto Sudeste. A MRS poderia participar como minoritária em um consórcio formado por siderúrgicas nacionais, segundo apurou o Valor. Segundo uma fonte, a concessionária não está envolvida no momento, mas seus acionistas certamente estão.
Com a conclusão e possível venda da MMX e seu porto, executivos do setor acreditam que não haverá mais necessidade de o governo licitar uma área vizinha, no porto de Itaguaí, conhecida como "porto do meio", para abrigar novo terminal de exportação de minério. Isso porque a demanda por embarque de minério seria toda atendida no Porto Sudeste.
A Usiminas, que tem uma área adjacente adquirida anos atrás para fazer um terminal, chegou a sugerir a Eike Batista uma união. Serviria como retroárea do Porto Sudeste, ganhando espaço para movimentação de carga diversificada.
Fonte: Valor Econômico/Por Francisco Góes e Ivo Ribeiro | Do Rio e de São Paulo
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