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Gestores ambientais veem amadurecimento e recomendam cautela com efeitos climáticos

Antaq identifica baixa disponibilidade de dados climáticos oceanográficos em áreas portuárias e dificuldade de correlação entre informações. Agência pretende criar novos indicadores para o IDA


Gestores e agentes ambientais concordam que o setor portuário precisará estar cada vez mais precavido para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Durante o primeiro dia do 16º Ecobrasil — Seminário Nacional sobre Indústria Marítima e Meio Ambiente, os participantes destacaram o amadurecimento a partir de iniciativas próprias de autoridades portuárias públicas e de instalações privadas, além dos trabalhos junto à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) com indicadores ambientais e estudos sobre os efeitos de condições climáticas extremas na infraestrutura. O olhar também está mais aberto para as múltiplas oportunidades com fontes renováveis de energia e para a melhoria da relação porto-cidade.

A agência reguladora já identificou, entre outras dificuldades, a limitação orçamentária dos portos, a baixa disponibilidade de dados climáticos oceanográficos em áreas portuárias, além da dificuldade de correlação entre informações. O gerente de meio ambiente da Antaq, Uirá Cavalcante Oliveira, destacou que conhecer os riscos climáticos é essencial para orientar as medidas de adaptação necessárias e para compreender a escala de gravidade, que deve ser constantemente discutida pelas equipes. Em sua apresentação no evento, ele recomendou cautela na interpretação dos dados climáticos por conta da ausência de dados com maior resolução espacial.

A nova agenda ambiental de segurança aquaviária da Antaq (2023/2024) prevê a preparação da infraestrutura portuária para receber embarcações menos poluentes e para o fornecimento de energia elétrica limpa e renovável às embarcações atracadas. A agência busca avaliação ampla de referência internacional, a definição de metodologia, a fim de gerar um piloto e a apresentação de referências para elaboração de um inventário de carbono no setor portuário e medidas de mitigação. A Antaq também pretende adotar alguns indicadores novos do Índice de Desempenho Ambiental (IDA), que acompanha os avanços e desafios de portos públicos e terminais privados.

O assessor da Superintendência de Gestão Ambiental e Territorial da Infra S.A, Gustavo de Oliveira Lopes, disse que uma parceria com a Antaq tem o objetivo de desenvolver para o setor portuário um modelo metodológico sobre emissões de gases de efeito estufa. As etapas seguintes serão de execução do projeto piloto, ações de mitigação e elaboração de um guia de orientação para incentivar os portos a replicar ações bem sucedidas. “Estamos em fase de definição das metodologias (...) A ideia é começar com portos públicos e arrendatários para coleta de dados”, adiantou.

O diretor de meio ambiente da Portos RS, Henrique Ilha, destacou que a participação nos estudos da Antaq sobre impactos ambientais deixou o Porto de Rio Grande mais bem preparado para responder aos riscos climáticos, trazendo melhorias nos processos de planejamento. “A probabilidade de eventos de chuva e ventos se mantém alta. É possível que as paralisações sejam cada vez mais frequentes no futuro. Nossa estrutura tem se mostrado resistente”, ponderou.

O gerente de meio ambiente da Santos Port Authority (SPA), Luiz Oliva, destacou que a autoridade portuária já adotou uma série de critérios de sustentabilidade nas contratações. Ele citou o desconto tarifário para navios e para operações de terminais concedidos a partir de portarias publicadas em 2022. Entre os desafios para o eixo de infraestrutura do complexo portuário, Oliva mencionou o aprofundamento do canal de navegação, a ‘eletrificação’ do cais e a obra de ligação seca entre Santos e Guarujá. A SPA, que obteve índice de 95,35 no IDA em 2021, espera continuar a melhorar o indicador nas próximas aferições da Antaq.

Em suas palestras, os representantes dos portos de Pecém (CE) e Suape (PE) detalharam suas amplas agendas com programas e iniciativas em busca de atrair investimentos para os dois complexos do Nordeste, agregando positivamente às práticas socioambientais. O diretor de sustentabilidade do complexo industrial e portuário de Suape, Carlos Cavalcanti, disse que a administração olha o empreendimento por meio de uma plataforma ESG que pensa no porto, nas indústrias locais e no lado socioambiental.

Cavalcanti ressaltou que não é possível avançar com o desenvolvimento do hub portuário sem olhar para as comunidades ao redor do complexo. Ele contou que Suape investiu mais de R$ 60 milhões em um laboratório para pesquisa e desenvolvimento e que mantém conversas com o setor empresarial e com indústrias para dimensionar o potencial do hidrogênio verde no complexo. "Estamos tendo cuidado grande nessas discussões de hidrogênio verde, mas sobretudo criando bases", afirmou.

A gerente de meio ambiente e segurança no trabalho do complexo portuário do Pecém, Ieda Passos, considera que o estado do Ceará vem se preparando para se tornar um hub de hidrogênio verde, por meio de acordos celebrados e de uma legislação ambiental robusta e recente, que tem pouco mais de um ano. Ela detalhou que a infraestrutura do píer 2, que hoje opera granéis líquidos, será adaptada para tancagem compartilhada entre o porto e a área industrial.

O potencial de geração eólica identificado é da ordem de 117GW (offshore) e 94GW (onshore). Pecém espera conseguir atender a 25% da demanda por hidrogênio verde do seu parceiro desde 2018, o Porto de Roterdã, na Holanda. A nível nacional, o porto já tem memorandos de entendimento com mais de 20 empresas e pré-contratos voltados para hidrogênio verde com a Casa dos Ventos, EDP, AES Brasil e Fortscue Future Industries (FFI).

A União Europeia tem objetivos de expandir a utilização de todas as fontes renováveis e o hidrogênio verde é visto como vetor energético prefrencial durante o processo transição. O cônsul-geral adjunto dos Países Baixos no Rio de Janeiro, Niels Veenis, lembrou que a UE pretende instalar 40 GW nos países membros até 2030 e que precisará importar parte desta energia. A Holanda possui a meta de até 4GW neste período. Veenis acrescentou que o Brasil tem um potencial eólico offshore que deve ser viabilizado nas próximas décadas e poderá contribuir com parte do hidrogênio verde para a matriz energética holandesa. "Já existe muita colaboração entre Brasil e Holanda (...) Significa que já estamos trazendo tecnologias adaptadas para evitar impactos ambientais aqui", destacou.

O Ecobrasil 2023 é realizado pela Portos e Navios tem a coordenação técnica da Cisporto Consultoria. O evento tem os patrocínios Diamante da Hidroclean, Consulado Geral dos Países Baixos, Complexo Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros-SUAPE e da Oceanpact; patrocínio Platina da AllMaritim; patrocínio Coffee Break da CPEA e da Hidromares. Mais informações: https://www.portosenavios.com.br/servicos/ecobrasil ou ecobrasil@portosenavios.com.br.


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