O projeto de desenvolvimento de portos e hidrovias a partir da experiência e inteligência dos holandeses (que atuam no setor aplicando tecnologia em diversas partes do mundo), implementado inicialmente no governo Yeda Crusius, poderá ser retomado pela atual administração do Estado. Tema de reunião técnica ocorrida ontem pela manhã no auditório da Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH), órgão vinculado à Secretaria dos Transportes e Mobilidade (STM), e, no final da tarde, na Secretaria do Planejamento, o Master Plan (plano mestre prático), desenvolvido em 2010 em parceria com o governo da Holanda, propõe medidas de curto, médio e longo prazo - como melhorar as condições de navegação e modernizar embarcações - para desenvolver o sistema hidroportuário do Rio Grande do Sul. Atualmente, quase toda a carga transportada no Estado passa por rodovias.
"Nosso custo logístico é 19% mais caro do que em todo o Brasil", afirma o secretário de Transportes Pedro Westphalen. "Por outro lado, temos imenso potencial em termos de hidrovias, que é subutilizado pela dificuldade de manter as hidrovias dragadas." Ao atualizar informações do plano, o sócio da STC Nestra e desenvolvedor do Master Plan, Harrie de Leijer, destacou a necessidade de um terminal de contêineres na Região Metropolitana de Porto Alegre (o que, em breve, irá acontecer, com a reativação da movimentação de contêineres pelo terminal Santa Clara, em Triunfo), e da implementação do envio de granéis desde os Portos de Estrela e Cachoeira do Sul até Rio Grande, além do aumento máximo do transporte de cargas pelas hidrovias.
"Para oferecer um sistema de logística sustentável, será necessário pensar na integração de modais, além de atrair investimentos de empresas que precisem transportar suas cargas para expandir", considerou Leijer. O empresário afirmou que o porto do Rio Grande precisa alcançar os municípios do Interior, oferecendo seu serviço, em competição com outros estados, como Santa Catarina.
"Precisamos encurtar os trajetos dos caminhões nas estradas e usar os rios para trajetos mais longos", defende o diretor de infraestrutura da pasta, Ivan Bertuol. Ele destaca que, se implementado o plano, os 758 quilômetros navegáveis das hidrovias gaúchas poderão ser ampliados para até 1,2 mil quilômetros. "A utilização dos portos de Pelotas e Rio Pardo, além do de Porto Alegre, também podem contribuir com a melhoria da lojística." Entre outros benefícios - inclusive em aspectos sustentáveis -, um melhor aproveitamento dos rios do Estado ampliaria o escoamento das safras agrícolas e do transporte de insumos para a lavoura, diminuindo custos e também as filas de caminhões para o porto do Rio Grande, citou Westphalen.
"Uma barcaça pode transportar o equivalente a 150 carretas de soja", comparou. O secretário ainda enfatizou a necessidade de se desburocratizar sistemas envolvendo licenças ambientais e legislações, e destacou o projeto da hidrovia Brasil-Uruguai via lagoa Mirim, que tem como uma das alternativas fazer a circulação de mercadorias pela BR-471 para o intercâmbio comercial entre os dois países.
Aproveitamento dos rios exige pouco investimento
De acordo com o cônsul do Consulado Geral do Reino dos Países Baixos em São Paulo, Rogier Van Tooren, para o governo holandês, é "muito importante" criar sistemas de transportes eficientes e novos métodos para o desenvolvimento em todo o mundo. "Não é necessário grandes investimentos, mas pequenas soluções inovadoras, com grande impacto, como, por exemplo, um sistema multimodal."
Utilizar as hidrovias e aproveitar o know how dos holandeses é uma iniciativa que empolga o diretor técnico da Superintendência do porto do Rio Grande, engenheiro Darci Antonio Tartari. Segundo ele, atualmente, das 35 mil toneladas/ano movimentadas em Rio Grande, menos de 10% chega por hidrovias. "Este é um momento oportuno, com projetos como o da Celulose Riograndense, que está trazendo grande parte de sua carga de Guaíba por barcaças até Rio Grande."
Fonte: Jornal do Commercio (POA)/Adriana Lampert
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