Entre 2013 e 2018, os investimentos em infraestrutura no Rio Grande do Sul deverão totalizar aproximadamente R$ 40 bilhões. No Brasil, o montante previsto é de cerca de R$ 1,190 trilhão. Os números constam da pesquisa Principais Investimentos em Infraestrutura no Brasil até 2018, encomendada pela Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) às empresas Criactive e e8 Inteligência.
Um dos pontos que chama a atenção no estudo, divulgado na quarta-feira, é que mais da metade dos investimentos no setor de infraestrutura no Estado se concentrará no segmento de óleo e gás (R$ 20,2 bilhões). Nessa estimativa, está incluída a construção de boa parte dos oito cascos dos FPSOs (sigla em inglês para plataforma flutuante de petróleo) que serão feitos pela Ecovix no polo naval de Rio Grande. Em outras áreas, o documento destaca como obras relevantes o projeto da hidrelétrica Garabi (a ser instalada na fronteira com a Argentina) e a reforma do Beira-Rio, estimada em R$ 330 milhões.
O coordenador do grupo temático de energia da Fiergs, Carlos Faria, concorda com a projeção do levantamento de que a cadeia do óleo e gás puxará os investimentos na infraestrutura gaúcha. Além das encomendas de plataformas feitas pela Petrobras, que serão realizadas em Rio Grande, o dirigente ressalta que há a implantação do polo naval do Jacuí, em Charqueadas, que deve criar novas demandas.
Quanto à usina Garabi, Faria teme que esse empreendimento possa levar mais tempo para ser materializado. Entre os fatores que dificultam a realização desse projeto, estão a enorme área que precisará ser alagada e a burocracia que envolve uma obra binacional. De acordo com informações da Eletrobras, os aproveitamentos hidrelétricos de Garabi e de Panambi (hidrelétrica que será concretizada próximo à primeira) somam 2,2 mil MW de capacidade instalada. Os complexos devem receber investimentos de cerca de US$ 5,2 bilhões.
Sobre outras iniciativas que também deverão receber volumosos investimentos nos anos seguintes, o integrante da Fiergs cita os desembolsos bilionários que as principais distribuidoras gaúchas de energia (AES Sul, CEEE-D e RGE) farão, a perspectiva de início da construção da segunda ponte do Guaíba e a duplicação da BR-290 (entre Eldorado do Sul e Pantano Grande).
Segundo o trabalho da Sobratema, o Rio Grande do Sul é o estado da região Sul que receberá o maior investimento. No entanto, a região, como um todo, só terá um aporte maior de recursos do que a Centro-Oeste (R$ 30,8 bilhões). O vice-presidente da Sobratema, Eurimilson Daniel, acredita que o País enxerga a região Sul como bem mais organizada e estruturada e, comparada com as outras, a que menos teria necessidade de investimentos em infraestrutura. Em contrapartida, uma das prioridades do governo será o Nordeste (cerca de R$ 278,7 bilhões em investimentos, superado somente pelo Sudeste, com cerca de R$ 589,6 bilhões).
Vultosos investimentos em infraestrutura não significam necessariamente que do dia para a noite um local se tornará um paraíso. Nesse sentido, apesar de comemorar o crescimento econômico da região, o presidente da Câmara de Comércio de Rio Grande, Renan Lopes, alerta que o desenvolvimento de áreas como as de saúde e segurança precisam avançar no município. O dirigente recorda que, além dos cascos FPSOs da Ecovix, a empresa Quip já tem garantidas obras em plataformas para o próximo ano e que o estaleiro da companhia EBR está sendo implementado em São José do Norte.
Investimentos deveriam ser maiores, aponta Sobratema
Apesar de a palavra trilhão impressionar, o vice-presidente da Sobratema, Eurimilson Daniel, diz que esse nível de investimento em infraestrutura (R$ 1,195 trilhão) fica muito aquém do ideal. O dirigente frisa que o patamar de investimentos do Brasil, em geral, está abaixo de várias economias, não atingindo 20% do PIB, sendo que a China aplica 48%. Quando se fala em investimento direcionado à infraestrutura, esse volume cai ainda mais.
O dirigente enfatiza que o poder público também tem um papel importante como “locomotiva” do País. “Quando o poder público dá credibilidade, a iniciativa privada vem atrás”, justifica Daniel. Na área de infraestrutura, o vice-presidente da Sobratema lembra que um dos maiores impactos ocorreu em 2011, quando o Ministério dos Transportes paralisou diversas obras no País, ocasionando uma série de atrasos. Daniel reitera que o País é uma nação atraente para a iniciativa privada, porém, o governo precisa mostrar isso, não somente quanto à rentabilidade, mas também quanto à segurança jurídica e ao convívio social.
O estudo da Sobratema indica 8,3 mil obras em andamento no Brasil, em projeto ou intenção, em oito setores da economia – óleo e gás, transporte, energia, saneamento, indústria, infraestrutura de habitação, esportiva e outros. O segmento da economia que responde pela maior fatia desse investimento é o de transportes. Estão estimados R$ 369,6 bilhões para o período 2013-2018, o que corresponde a 30,94% do total previsto. O trem de alta velocidade (TAV) ainda é a obra de maior visibilidade e valor, na ordem de R$ 34,6 bilhões.
Os modais que concentram os maiores montantes são as ferrovias, com 34,5%, os portos e hidrovias, com 25,3%, e as rodovias, com 14,3%. Os recursos destinados a essas três modalidades são estratégicos para reduzir os gargalos existentes na área logística, o que resulta em custos adicionais para toda a cadeia produtiva de diversos setores, em especial, do agronegócio. Em 2012, o investimento aplicado na área de transportes representou apenas 0,92% do Produto Interno Bruto.
Com números próximos aos de transporte no País, está o setor de óleo e gás, com aportes financeiros estimados em R$ 346,6 bilhões, o que representa 29,02% do total. O novo Plano de Negócios da Petrobras (PNG 2013-2017) definiu 947 projetos com previsão de investimentos totais de US$ 236,7 bilhões. Na exploração e produção (E&P), que representa 62,3% do montante geral, os valores mais expressivos estão no desenvolvimento da produção, ligados principalmente às reservas descobertas nas áreas do pré-sal.
Falta de planejamento é obstáculo que precisa ser superado pelas autoridades
A falta de um planejamento que contemple todas as áreas de infraestrutura e a interação entre esses segmentos, com definição das fontes dos recursos, período em que seriam aplicados e os benefícios gerados, é um dos graves problemas que precisam ser solucionados pelas autoridades brasileiras. A opinião é do sócio-diretor da Brain Energy Energias Renováveis, Telmo Magadan, que já exerceu a presidência da Ventos do Sul (empresa que atuou na implantação do primeiro parque eólico gaúcho, em Osório) e o comando da secretaria de Planejamento do governo Pedro Simon.
“A própria cidade de Porto Alegre, como outros municípios brasileiros, está confundindo execução de obras com planejamento”, critica o empresário. Magadan acrescenta que é possível identificar diversos planos, mas nada integrado. Para o executivo, o planejamento envolve, primeiramente, uma definição de estratégia e de eixos estruturais.
“Não podemos confundir obra com planejamento, obra é uma decorrência de um processo de planejamento”, sustenta o dirigente. Magadan gostaria de ver o Rio Grande do Sul implantando um plano integrado de sistema de transportes. Uma visão que contemplasse todos os modais: rodoviário, ferroviário e hidroviário. O empresário comenta que uma ferramenta dessas precisa abranger questões como a ambiental e a do transporte público, entre outras.
Sobre um tema que conhece bem, Magadan comenta que o processo de desenvolvimento de energia eólica no Brasil e no Rio Grande do Sul atingiu um patamar importante, porém, é possível evoluir. Particularmente no caso do Estado, o empresário afirma que seria viável instalar na região uma grande indústria de aerogeradores para dar suporte aos parques eólicos.
Área de saneamento básico do País é deficiente e tem que recuperar atraso
Conforme a pesquisa, um dos grandes desafios na área de infraestrutura no Brasil está no setor de saneamento básico, cuja universalização do sistema de escoamento e tratamento de esgoto ainda está distante. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em 2011, somente 48% da população tinha seu esgoto coletado e 37,5% tinha o esgoto tratado.
No levantamento da Sobratema, até 2018, esse segmento deve receber investimentos de R$ 55,6 bilhões. No entanto, o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) prevê que sejam aportados recursos da ordem de R$ 508,5 bilhões em obras de abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto e lixo e em ações de drenagem entre 2014 e 2030. Do total de investimentos previstos, R$ 298 bilhões virão de recursos federais e R$ 210 bilhões, de outros agentes.
No setor de habitação, o programa Minha Casa Minha Vida tem apresentado a maior taxa de realização do PAC 2. Até agosto de 2013, concluiu empreendimentos no valor de R$ 278 bilhões, entregando 1,32 milhão de moradias e beneficiando mais de 4,6 milhões de brasileiros. Os investimentos previstos apenas para a infraestrutura de habitação até 2018 são da ordem de R$ 10,5 bilhões.
A infraestrutura esportiva também está contemplada no estudo Principais Investimentos em Infraestrutura no Brasil até 2018. As arenas, os estádios e as instalações para a Copa do Mundo 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 terão investimentos totais de R$ 5,5 bilhões no período de 2013-2018. O setor composto por hotéis e resorts, shopping centers, hospitais, universidades, teatros e edifícios públicos deve receber aporte de R$ 65,4 bilhões. O setor industrial deve ter investimentos de R$ 145,3 bilhões no período. “A Copa gerou muita mídia, muita expectativa de que o mercado iria aquecer, mas a Copa é a cereja do bolo, representa pouco dos investimentos da pesquisa”, conclui Eurimilson Daniel, da Sobratema.
Fonte: Jornal do Commercio (POA)/Jefferson Klein
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