O conjunto das obras na área de infraestrutura irá expandir a taxa de investimento do país de 18,14% em 2012 para 22,65% em 2013, pelas contas da agência de classificação de risco Austin Rating, a partir de estudo sobre os investimentos elaborado pela Associação Brasileira de Tecnologia para a Construção e Mineração (Sobratema). A entidade reúne as principais construtoras e fabricantes de máquinas e equipamentos nacionais.
A taxa de investimento de 22,65% ainda está abaixo da almejada pelo governo, de 24% - meta anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como sendo a ideal para que a economia tenha dinamismo. É também inferior à recomendação da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), de 27%, para garantir uma expansão econômica mais acelerada. Os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde) mantêm taxa superior a 35%, ressaltou a diretora-executiva da Cepal, Alícia Bárcena, em entrevista recente.
Se o total de obras sair do papel como o previsto é possível, entretanto, que já em 2014 a meta do governo seja alcançada e, em 2015, a recomendação da Cepal. A Sobratema prevê investimentos totais de R$ 1,19 trilhão de 2013 a 2018 - R$ 290 bilhões anuais, em média. O montante é suficiente para engordar a taxa de investimento em 4,5 pontos percentuais ao ano, segundo o cálculo do economista Alex Agostini, da Austin Rating, "desde que o governo consiga vencer os desafios e realmente viabilizar as obras". Ele ressalta ainda que o dinheiro será movimentado gradualmente, ano a ano, e que dependerá da aceleração do licenciamento ambiental e da liberação dos projetos por instituições públicas de controle - como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público - sobre os gastos e os impactos para as comunidades atingidas.
Quase a metade dos projetos previstos no estudo da Sobratema caberão à Petrobras, principal responsável pela produção de petróleo nas reservas do pré-sal e por construir novas refinarias para processar o petróleo. Mas, de olho nos projetos da estatal para os próximos anos, os fornecedores estão até mesmo dispostos a negociar contratos passados e, assim, viabilizar os investimentos futuros.
Do total de R$ 1,19 trilhão previstos, R$ 697 bilhões correspondem a projetos ainda na fase de intenção, dos quais R$ 350 bilhões sequer têm data para iniciar. "Estaríamos sendo muito otimistas se esperássemos que tudo que está em projeção venha a sair do papel", ressalta o vice-presidente da Sobratema, Erinilson Daniel.
Além da área de petróleo e gás natural, o segmento de logística também é bastante atrativo a construtoras e fabricantes de máquinas e equipamentos, de acordo com a Sobratema. "Há uma grande expectativa nas concessões em transporte. Ainda estamos apanhando, tivemos sucesso em duas rodovias apenas", diz Daniel. Em sua opinião, algumas rodovias não têm fluxo de veículos suficiente para garantir o retorno do investimento e, por isso, suas concessões estariam atreladas ao subsídio do governo.
O vice-presidente da Sobratema, assim como o sócio da área de Direito Regulatório do Siqueira Castro Advogados, Márcio Reis, aposta na entrada de construtoras estrangeiras nos próximos anos. Para Reis, entretanto, a tendência é que as companhias internacionais entrem como parceiras das nacionais.
"Do ponto de vista de mercado, como há grandes e potentes empreiteiras no Brasil, talvez as estrangeiras fiquem receosas em participar sozinhas dos leilões, por causa do déficit de conhecimento do mercado. É mais provável, em um primeiro momento, que arrematem participações", aposta Reis.
O trem de alta velocidade (TAV) é o projeto com mais dificuldade de atração de investidores, afirma o especialista. Já os aeroportos são os mais atrativos.
O economista da UFRJ João Saboia destaca ainda a morosidade dos projetos executados pelo governo e o clima de incerteza que atrapalha o investimento privado. "O Brasil tem muito espaço para investimento, um potencial enorme. Mas é preciso melhorar um pouco o clima geral", avalia Saboia. Para Reis, no entanto, o governo já deu sinais claros que o modelo de investimento daqui para frente é o de concessão. "O papel do Estado é fiscalizador, não de executor".
Fornecedores e Petrobras em busca de acerto
As construtoras e os fabricantes de equipamentos estão dispostos a negociar contratos passados com a Petrobras para contribuir com o caixa da empresa e na viabilidade de projetos futuros. Sobre as negociações que estão em processo, o vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), Erinilson Daniel, afirma que "há um esforço dos dois lados".
"A direção atual da Petrobras é técnica e está se organizando, com mais objetividade nos projetos e priorizando aqueles que estão mais próximos de entrar em operação", diz ele.
Diante do congelamento dos preços dos combustíveis e da necessidade crescente de investimento, principalmente, no pré-sal e em novas refinarias, a Petrobras vem apresentando dificuldades de caixa.Uma das alternativas da diretoria da empresa foi renegociar os contratos com os seus fornecedores, sobretudo no que diz respeito a valores adicionais àqueles previstos para as obras.
Segundo Daniel, uma sondagem recente realizada com as fornecedoras da estatal revelou que a maioria considera que a empresa tem uma postura positiva na condução das suas finanças e acredita que o governo irá conceder o aumento dos preços dos combustíveis para garantir os recursos necessários para a Petrobras levar adiante as obras planejadas. "As empresas percebem que a Petrobras está se organizando. A sensibilidade da pesquisa com os empresários da construção é que a empresa está no caminho certo.O que se espera é uma Petrobras mais robusta em 2014", diz ele.
As empresas fornecedoras da estatal foram pegas desprevenidas coma decisão de rever os contratos, segundo o executivo. E, somente agora, em meio à renegociação, "estão encontrando um caminho" que solucione os seus caixas.
Procurada, a Petrobras informou que não se posicionaria sobre os investimentos previstos e que, neste momento, revisa o seu plano estratégico para os próximos cinco anos.
Fonte:Brasil Econômico/Fernanda Nunes
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