Mudança de mentalidade


Criador de site para usuários do porto do Rio defende mais postura das empresas para cobrar eficiência nos terminais - Insatisfeitos com a operação do terminal privado da Libra, usuários, transportadores rodoviários e despachantes aduaneiros do porto do Rio de Janeiro elaboraram uma lista com 29 problemas vivenciados nas instalações da empresa. André de Seixas, diretor comercial da IRO-LOG Logistics & Trading, apresentou denúncia à Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) em julho, cobrando melhorias na operação do terminal, que projeta dobrar de capacidade nos próximos anos. No dia 27 de agosto, a Antaq fiscalizou o terminal da Libra no Rio.

No dia 9 de setembro, Seixas lançou um site para os usuários do porto do Rio de Janeiro (www.uprj.com.br), com objetivo de colher reclamações e sugestões dos usuários. Eles questionam, principalmente, os problemas de agendamento por conta do sistema, considerado lento e instável, mesmo após recente substituição do servidor. As melhorias cobradas pelos usuários para a gestão do terminal da Libra também passam pela redução dos custos de operação e da alta carga tributária.

Seixas diz que a Libra possui a tabela mais cara entre os portos do Rio. As empresas também acusam o terminal de operar com excesso de carga. As 29 questões foram formuladas por profissionais que executam serviços junto ao terminal e submetida ao Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do Rio de Janeiro (Sindaerj). Seixas estima que 85% das reivindicações dos usuários do terminal são referentes à gestão.

Para ele, a mudança de mentalidade dos usuários em direção à cobrança de melhorias no porto é mais importante do que a formação de associações e grupos de trabalho. “Não sei se vamos virar uma associação ou não. Os usuários do porto do Rio ainda não estão preparados para ser uma shipppers association. Eles não têm dimensão do que podem fazer juntos e que o poder deles é maior que operadores portuários”, enfatiza Seixas.

Procurada pela Portos e Navios, a Libra informou que está trabalhando com diferentes planos de atuação para cada uma das 29 questões levantadas. A empresa ressalta que cada caso exige diferentes medidas e prazos. “A Libra Terminais promove encontros presenciais com seus parceiros para ouvir suas considerações e encontrar soluções em busca de um porto modelo não só para a cidade do Rio de Janeiro como para o país”, afirmou Wagner Biasoli, diretor presidente da Libra Terminais.

Sobre a fiscalização da Antaq no terminal, a Libra alega que se antecipou e procurou a agência para comunicar os problemas no sistema e as altas taxas de ocupação no pátio, que geraram impactos operacionais. Biasoli diz que a migração do banco de dados da Libra para uma empresa especializada gerou instabilidade no sistema de gerenciamento do terminal.

O executivo acrescenta que as altas taxas de ocupação foram registradas entre a última semana de julho e a primeira semana de agosto, devido a cargas retidas durante os feriados da Jornada Mundial da Juventude. Além disso, sete navios teriam ‘omitido’ o porto do Rio de Janeiro, deixando cerca de 1,3 mil contêineres de exportação armazenados.

Até o fechamento desta edição, a Libra não havia recebido nenhum parecer da Antaq a respeito da fiscalização. A empresa considerou a inspeção positiva, na medida em que a empresa pôde apresentar o plano de melhorias para sua operação. “Muitas das ações planejadas já foram concluídas e outras estão em curso. Foram solicitadas também diversas informações sobre a nossa operação e todas elas respondidas com as respectivas evidências”, garante Biasoli.

Ele afirma que o índice de ocupação da Libra no Rio está dentro do limite de funcionamento de um terminal. De acordo com a empresa, as médias das taxas de ocupação são de 69%, para exportações, e de 79,5%, para importações. “Essas taxas indicam capacidade disponível de atendimento, nem sempre compatível com a data desejada pelos usuários”, pondera Biasoli.

O diretor-presidente da Libra Terminais conta que, entre a última semana de julho e a primeira semana de agosto, a empresa precisou reduzir a oferta de janelas de recebimento de contêineres por causa dos problemas operacionais influenciados pela alta taxa de ocupação. A medida, segundo Biasoli, impactou o desempenho do terminal na entrega de contêineres de importação. Nesse período, a taxa de ocupação média subiu para 80%, com picos de 100%.

Os usuários lamentam que a Federação Nacional das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) não atuem de forma mais incisiva para dar mais condições aos usuários do porto. Além disso, Seixas avalia que o Porto 24 horas não se converteu em melhorias de eficiência no porto, citando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como órgãos anuentes, que não funcionam 24 horas.

Seixas acrescenta que o Conselho de Autoridade Portuária (CAP) não fez nada em prol dos usuários desde quando vigorava a antiga lei dos portos (8.630/1993). “Infelizmente o CAP não se fez útil no porto do Rio a favor dos usuários. E de que adianta o Porto 24 horas se a operação é cara e ineficiente?”, conclui. Mesmo com a troca dos servidores para aumentar a capacidade, Seixas relata que o sistema de agendamento ficou seis horas com problemas no final de agosto.

Um usuário do porto do Rio observa que a concorrência no complexo está longe do nível de competitividade vivenciado entre os terminais que operam em Santos. A solução, segundo a fonte, seria a colocação de mais portos secos e impedir que grupos que já participam de portos secos participem de licitações. Com isso, ele acredita que haveria mais opções para liberar a carga.

Seixas, da IRO-LOG, lembra que a Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport-BA) é um bom exemplo de união entre os usuários, mas ressalta que o modelo de associação não é a única solução para dar melhores condições aos usuários. Ele conta que existe interesse da Usuport-BA em criar uma entidade semelhante no Rio de Janeiro e outros estados. Por outro lado, ele diz que os usuários do Rio precisam mudar o comportamento, sair da passividade e tornar suas necessidades públicas. “Se vai virar uma associação ou não eu não sei, mas precisamos mudar essa mentalidade. Dá mais efeito reclamar e tornar público. Cada usuário tem o porto que merece”, acredita Seixas.

Atualmente, a Libra Terminais Rio possui uma área de 136.272 metros quadrados e dois berços de atracação com 545 metros de cais. As obras em andamento permitirão dobrar a capacidade de movimentação de contêineres, que saltará de 315 mil para 630 mil de TEUs. Até o fim de 2015, a empresa pretende ampliar o berço em 170 metros, possibilitando a operação de dois navios pós-Panamax simultaneamente. Já o armazém passará de seis mil metros quadrados de área total para 12,6 mil metros quadrados.

A Libra prevê ampliação da retroárea para 40 mil metros quadrados até maio de 2014, sendo que a meta é que nove mil metros quadrados já entrem em operação em outubro. A empresa adquiriu dois porteinêres e novos pórticos RTGs, que devem entrar em operação no quarto trimestre de 2014. Para o primeiro trimestre de 2015, a Libra prevê a utilização do equipamento RMG, que permitirá o posicionamento e a retirada de contêineres por cima, gerando aumento de produtividade. Todas as melhorias previstas são da ordem de R$ 300 milhões, segundo a empresa.


Um dos motivos para o ‘colapso operacional’ no terminal da Libra no Rio apontado pelos usuários está relacionado ao fato de a maior parte do desembaraço ser realizada dentro do porto. Seixas defende que a Receita Federal deveria licitar portos secos, permitindo aumentar a concorrência aos importadores.

Biasoli, da Libra, ressalta que a dinâmica portuária é bastante complexa e envolve outros atores. Ele cita as mudanças de rotas, que deixam cargas paradas na Libra Terminais Rio. Além disso, ele lembra que o mau tempo nos portos do Sul costuma causar atrasos na cadeia e alguns armadores acabam decidindo por omitir o porto do Rio. Segundo Biasoli, essas omissões contribuem para as altas taxas de ocupação.

Em reunião no terminal da Libra no dia 7 de agosto, transportadores rodoviários trataram de problemas operacionais do terminal. Na ocasião, eles entregaram uma ata com 16 itens à administração do terminal. No dia 21 de agosto, em nova reunião, a ata foi apresentada já com os 29 itens. Segundo Seixas, o terminal nem preencheu, nem assinou os documentos baseados nas listas de necessidades dos usuários. O mesmo ocorreu em reuniões nos dias 11 e 12 de setembro.

Num dos pontos, os usuários do porto do Rio se posicionam contra a cobrança de armazenagem por período e pedem à Libra que reveja essa mudança. A redução dos períodos de armazenagem de 10 para sete dias causou indignação entre os usuários, pois esses dias cobrem domingos e feriados. “Entendemos que esta é uma questão comercial que deve ser tratada durante as negociações com os clientes”, afirmou Biasoli, da Libra.

Para os usuários, quando o terminal se negou a assinar a ata, comprovou a tese de que ele não submeteu as reclamações ao planejamento. “Basta ler os documentos e verificar que o que está disposto ali não diz respeito às obras, que vem sendo a desculpa do terminal para o caos ali estabelecido. Em outras palavras, 85% dos problemas elencados dizem respeito à má gestão que ali está presente. Mais uma vez, o Terminal Libra Rio frustra os usuários dos portos do Rio de Janeiro”, diz Seixas.



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