Terlogs aposta em escala e aumenta produtividade em seu terminal em São Francisco do Sul - Desde que foi adquirido em outubro de 2011 pela trading japonesa Marubeni, o Terlogs Terminal Marítimo Ltda., terminal de grãos em São Francisco do Sul (SC), reduziu a variedade de produtos que movimenta e aumentou a eficiência na operação de embarque de mercadorias para exportação. Agora a empresa prepara um pacote de investimentos de pelo menos R$ 200 milhões em infraestrutura para curto, médio e longo prazo. “O importante não é o valor a investir, mas atender a nossa própria demanda de carga, que já chega ao limite este ano”, diz José Nolasco, diretor de operações da unidade de grãos da Marubeni Brasil e do Terlogs.
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A Marubeni atua há 60 anos no país, em áreas diversas, como energia, maquinários, fertilizantes e café. Na área agrícola, o foco da empresa é a negociação de grãos. Em 2006, a multinacional adquiriu 25,5% de participação no Terlogs. Em 2011 comprou os 74,5% restantes e assumiu o controle do terminal. Começou assim a operação da companhia no ramo de logística no Brasil.
Até 2011, o terminal embarcava de cinco a seis produtos que totalizavam cerca de dois milhões de toneladas por ano. No ano seguinte, com o foco de atuação limitado a soja e milho, esse valor subiu 45% para 2,9 milhões de toneladas. No ano passado, ele alcançou 3,97 milhões, crescimento de 34,4% sobre os 12 meses anteriores.
Para este ano, a companhia quer embarcar cerca de 6,5 a sete milhões de toneladas, aumento de 66,6% ante 2013, e um montante que corresponde à metade do total de 14 milhões de toneladas de grãos brasileiros. “De fevereiro a agosto trabalhamos no embarque de soja. De setembro a janeiro, com milho”, explica Nolasco.
Na primeira semana de fevereiro, o Terlogs deu início ao embarque da safra recorde de soja de 2014 com navio classe Panamax. A operação começou após o término da safra de milho, cuja movimentação somou 1,65 milhão de toneladas do cereal no ano passado, 53% acima do montante exportado da safra anterior.
O executivo diz que o principal trabalho da Marubeni no Terlogs foi “casar” o fluxo dos caminhões e dos vagões de trem que chegam ao porto com o de navios fretados pela empresa. “Com isso, conseguimos girar a nossa capacidade estática três vezes em um mês. Apesar de ser um porto pequeno, o porto de São Francisco do Sul é eficiente. Trabalhamos juntos com outros terminais, principalmente no embarque de soja, e conseguimos aumentar a produtividade de todos”, afirma.
De acordo com Nolasco, o tempo médio de espera de embarque nos navios é de 12 a 13 dias em São Francisco do Sul. No ano passado, o tempo médio de espera no porto de Paranaguá (SC) foi de 40 dias. “Conseguimos administrar bem os fluxos. Isso é muito importante, pois o produto não fica parado. Ele consegue sair rapidamente. Uma coisa importante do porto de São Francisco do Sul é que ele conta com uma ferrovia, o que é essencial no caso de exportação de grãos”, aponta. O Terlogs escoa a produção de soja e milho de empresas média e grande de várias regiões do país, como Paraná (PR), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS) e Rio Grande do Sul (RS).
Outra caraterística do Terlogs é conseguir realizar o carregamento de um navio Panamax (com capacidade de 55 mil toneladas de grãos) em 30 horas, ante as 72 horas (ou três dias) de alguns outros terminais do país. “Isso acontece porque temos duas fitas de embarque, o que nos permite igualar a nossa performance diante dos melhores terminais graneleiros do Brasil.”
No momento, a companhia está desmontando um armazém de fertilizantes que não é mais utilizado, para construir três silos de 25 toneladas cada. Com isso, a capacidade estática do Terlogs passará de 107 para 181 toneladas. “Devemos começar a construir os silos em abril para que eles estejam operacionais até a safra de soja do ano que vem”, diz. Só nessa ampliação da capacidade de armazenagem serão investidos de R$ 85 a R$ 95 milhões.
Mais R$ 5 milhões deverão ser aplicados na modernização dos trilhos da linha ferroviária que serve o porto de São Francisco do Sul — operada pela América Latina Logística (ALL) — com o objetivo de permitir a descarga de mais vagões no Terlogs. “Estamos melhorando a capacidade de manobra dos vagões da ALL, através de reforma de duas linhas do pátio ferroviário do porto. Essa obra deverá ficar pronta até o começo de março”, explica. Essas duas obras fazem parte da primeira fase de investimentos planejada pelo Terlogs. “O Terlogs ficará ideal do ponto de vista recebimento e armazenagem.”
A segunda fase consiste na construção de um novo berço de atracação para o embarque de grãos no porto de São Francisco do Sul. O Terlogs usa hoje o berço 101 e está pleiteando a obra junto à Secretaria Especial dos Portos (SEP). Segundo Nolasco, a construção de um novo berço é um projeto antigo do porto de São Francisco do Sul e que finalmente poderá ser executado. “A ideia é que seja privado. O espaço deverá ficar ao lado do atual berço que exporta grãos, o que otimizaria toda a estrutura já existente”, revela. Segundo a Marubeni, o novo píer permitirá o embarque de até 16 milhões de toneladas por ano.
O porto de São Francisco do Sul é o sétimo porto do país em movimentação de cargas e o segundo maior emcarga não conteinerizada. De janeiro a dezembro do ano passado, o porto movimentou 13 milhões de toneladas, valor 20% maior do que no ano anterior. Deste total, foram exportadas 7,8 milhões de toneladas a granel (31% a mais que em 2012) e 1,6 milhão de toneladas a granel importadas (crescimento de 63% sobre o ano anterior) e 3,7 milhões de toneladas de carga geral. Um novo recorde.
Um dos principais gargalos locais ainda é o acesso terrestre, como o modal rodoviário. No ano passado, o porto recebeu investimentos no valor de R$ 40 milhões. A obra que recebeu a maior parte desses recursos foi o berço de atracação 201, cuja inauguração em novembro contou com a presença da presidente Dilma Rousseff e que ampliou a capacidade de movimentação de carga em dois milhões de toneladas por ano. Em março, está planejada uma nova dragagem de manutenção. A ampliação da bacia de evolução também está prevista, mas, no momento, está na fase de licenciamento ambiental.
Ao comparar a movimentação de carga em tonelada entre 2011 e 2013, percebe-se que o Terlogs ganhou participação na movimentação total do São Francisco do Sul. Enquanto o terminal era responsável por 20,4% de tudo que passava no porto em 2011, no ano passado esse percentual pulou para 30,5% — crescimento de 10,1 pontos percentuais.
Para Vitório Donato, consultor do Núcleo de Gestão da Produção, Logística e Qualidade do Senai Cimatec, “as deficiências na logística nas exportações brasileiras são tantas que qualquer melhoria traz resultados surpreendentes. As deficiências vão desde a baixa qualificação da mão de obra, passando por gargalos na infraestrutura, até a tremenda burocracia aduaneira. O caso da Marubeni mostra o quanto é necessário que as empresas melhorem nos processos logísticos”, diz.
Donato, frisa, porém, que todo investimento em infraestrutura deve vir acompanhado de um mapeamento da cadeia logística de exportação de grãos, com foco na identificação das resistências aos fluxos logísticos. “As empresas têm que conhecer todos os gargalos físicos, econômicos e legais que afetam o livre movimento dos fluxos logísticos entre dois pontos fundamentais, isto é, do ponto expedidor do produto ao ponto receptor”, assegura o consultor.
É a mesma opinião de José Nolasco, da Marubeni e do Terlogs. “Você tem que adequar os fluxos de chegada de carga, em vagões de trem e caminhões, com os embarques dos produtos. Isso é fundamental para nós, que somos um grande player internacional na área de soja”, frisa. “Com as obras que planejamos fazer, queremos melhorar as condições do local para todos da região, não apenas para nós”, conclui.