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Relação mais próxima

Crescimento de portos e cidades aponta necessidade de mais integração para solucionar impactos ambientais e estruturais

Prefeituras e administradores portuários têm o desafio de tornar sua convivência mais integrada nos próximos anos. A diretora da Squalo Consultoria, Vera Mafra, observa que a relação entre portos e cidades vem se tornando cada vez mais complexa no gerenciamento de impactos ambientais e estruturais. Ela acredita que a relação harmoniosa entre as duas partes depende de controle ambiental e da incorporação de padrões de sustentabilidade como a mitigação e compensação de impactos negativos. “O porto fica uma entidade isolada, dentro da cidade, regida e controlada por outros órgãos que não o municipal”, avalia Vera, que participou da 8ª edição do Ecobrasil — Seminário Nacional sobre Portos e Meio Ambiente, organizado pela Portos e Navios nos dias 24 e 25 de abril, no Rio de Janeiro.

A diretora da Squalo Consultoria explica que a maior parte dos problemas de adequação ocorre nos portos mais antigos devido a questões de estrutura física. Alguns não podem sofrer alterações no projeto original sem a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Já os novos portos nascem com conceitos de sustentabilidade e integrados às cidades. Ela cita o porto do Açu (RJ), que inclui o projeto de uma nova cidade, já que o município de São João da Barra não possui estrutura suficiente para atender ao empreendimento.

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Atualmente, a região portuária do Rio de Janeiro está passando por uma série de obras de infraestrutura, seguindo os exemplos de Puerto Madero, na Argentina, Barcelona, na Espanha, e Belém, no Pará. Vera destaca que a revitalização dos portos é um exemplo de tentativa de mudança na relação entre porto e cidade. Apesar disso, ela ressalta que algumas infraestruturas do município, como dutos e galerias de águas pluviais, passam pelo porto. E lembra de um caso recente de hidrocarbonetos na galeria de águas pluviais no porto do Rio, cuja responsabilidade ambiental não ficou bem definida.

Por conta disso, a diretora da Squalo Consultoria defende que os portos demonstrem interesse em colaborar com o desenvolvimento das cidades e a solução dos impactos. “Se a entidade porto não chamar a cidade, a cidade não vai chamar o porto. Com os problemas que a cidade tem, é mais fácil ‘ignorar’ o porto”, analisa Vera.

O chefe da divisão de licenciamento do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), Maurício Couto, também participante do evento, diz que um dos principais impactos negativos de um porto para a cidade é a interferência na malha viária de acesso ao terminal. Segundo ele, essa é uma das maiores reclamações colhidas nas audiências públicas. Couto aponta como soluções a execução de um subprograma para controle de tráfego e a sinalização adequada dos acessos ao porto, com objetivo de orientar motoristas e pedestres.

Já os impactos positivos para a cidade incluem o crescimento da demanda de bens, serviços e dinamização da economia, além do aumento da arrecadação de impostos. Couto ressalta a importância de canais de comunicação entre empreendedor e a sociedade, como a criação de uma ouvidoria para reduzir conflitos sociais decorrentes do empreendimento.

De acordo com o professor Cláudio Neves, do programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, a atenção com temas climáticos também deve ser uma preocupação, na medida em que os municípios costeiros concentram aproximadamente 20% da população brasileira. Portos, exploração de recursos minerais, turismo, aquicultura e áreas de conservação ou de proteção ambiental, além de moradia, são as principais ocupações nesses locais.

Neves destaca a dependência econômica das cidades costeiras em razão dos portos e defende que sejam avaliadas as vulnerabilidades e a capacidade de resistência e adaptação desses portos às condições climáticas das próximas décadas. “É preciso começar a reavaliar o que será para o futuro. Cenários mudam em 50 anos”, alerta Neves, que também palestrou no Ecobrasil 2012.

De acordo com Neves, a combinação da expansão térmica e do aumento do volume dos mares pelo derretimento das geleiras localizadas nos continentes resultaria num aumento considerável do nível médio do mar neste século. Além disso, as ondas podem ter seu regime alterado para condições que ainda não foram estudadas para o Oceano Atlântico Sul.

O professor destaca que essas mudanças podem transformar a geopolítica até o ano de 2100. Neves lembra que o planeta está próximo da abertura de passagens permanente nos mares do norte e que o aumento do nível dos oceanos no sul deverá atrapalhar o tráfego de navios nessa região. Com isso, o oceano pacífico passaria a ser a rota mais importante da navegação mundial. Por essa nova dinâmica, o Brasil ocuparia um lugar mais afastado na comparação com as principais rotas da navegação mundial atuais. “Precisamos vencer desafios políticos. Antes que as mudanças ocorram, precisamos estar preparados para fazer alguma coisa”, afirma Neves.

O Brasil possui uma representação permanente junto à Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês), por meio da Comissão Coordenadora dos Assuntos da IMO (CCAIMO). O grupo, coordenado pelo Comando da Marinha, formula posições da delegação brasileira e propõe medidas a serem implementadas no país. O coordenador da CCAIMO no Brasil, Jorge Mauro Fiorito, afirma que falta regulamentação no Brasil para o cumprimento do anexo VI da Convenção Internacional para a prevenção da poluição de embarcações (Marpol), que trata da poluição do ar e dos gases de efeito estufa.

Fiorito afirma que essa discussão sobre como as emissões de CO2 serão reduzidas ainda está num debate muito embrionário. Outra questão, segundo ele, é que os países em desenvolvimento haviam ficado de fora das metas do protocolo de Kyoto. A redução do CO2 demandará medidas como a adoção de motores mais eficientes e conjunto motor/casco mais dinâmico.

Por outro lado, o coordenador da CCAIMO no Brasil lembra que foram revistos os índices de enxofre permitidos no óleo combustível dos navios. Fiorito explica que o enxofre é o principal dentre os gases mais poluentes e lembra que o teor do gás nos combustíveis possui metas de redução até 2020. No entanto, ele diz que essa fiscalização é difícil porque não depende dos navios, e sim das refinarias. “Um dos problemas causados pela poluição no ar é que as cidades com portos mais movimentados sofrem mais com doenças pulmonares”, lamenta Fiorito.

 

PNC ganha novo impulso

Em fase final de elaboração, minuta do Plano Nacional de Contingência amadurece após experiência com acidente no campo de Frade

O Plano Nacional de Contingência (PNC) está em fase final de elaboração. De acordo com o coordenador de atendimento a emergências ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Marcelo Neiva de Amorim, o papel dos principais órgãos envolvidos em acidentes marítimos está praticamente definido e o texto necessita apenas de alguns ajustes. A expectativa é que tudo seja finalizado ainda no primeiro semestre de 2012. Após o término da minuta, o PNC seguirá para sanção presidencial.

Uma das conclusões foi que o Ibama não possui a logística necessária para chegar a grandes distâncias da costa. Sendo assim, o órgão ambiental ficará responsável pelas águas interiores. Amorim, que acompanhou de perto o vazamento no campo de Frade, afirma que o Brasil conseguiu encontrar uma forma eficiente de contingência, inspirada no modelo americano, mas adaptada à realidade nacional.

Ele cita o fato de os Estados Unidos possuírem órgãos e funções diferentes, como a Guarda Nacional americana, que não possui um órgão correspondente no Brasil. “Chegamos ao meio termo. Parte da competência está bastante clara”, avalia Amorim, um dos palestrantes da 8ª edição do Ecobrasil — Seminário Nacional sobre Portos e Meio Ambiente, realizado nos dias 24 e 25 de abril no Rio de Janeiro.

O comandante Tarcisio Alves de Oliveira, da gerência de meio ambiente da Diretoria de Portos e Costas da Marinha (DPC), afirma que a atuação em conjunto e a troca de informações entre a Marinha, o Ibama e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) foi essencial para os avanços no texto do PNC. Oliveira destaca que os dados desse acidente eram atualizados e divulgados em conjunto pelas três instituições, o que evitou o surgimento de informações desencontradas. “Não tínhamos feito algo parecido, talvez por nunca ter havido um acidente desta natureza”, analisa Oliveira.

Amorim e Oliveira acreditam que o vazamento no campo explorado pela Chevron não ativaria o PNC caso ele já estivesse em vigor. “O acionamento do PNC só se daria se o Ibama ou a Marinha do Brasil verificasse que era uma questão de segurança nacional”, explica Oliveira, da Marinha. Já Amorim, do Ibama, diz que a Chevron e outras empresas conseguiram conter o problema, o que, na prática, correspondeu a um Plano de Área (PA).

Amorim explica que o Plano de Área deve ser ativado quando o problema foge do controle do plano de emergência individual (PEI) da empresa, como aconteceu com a Chevron. Já o PNC só entraria em ação nesse caso se o plano de área não controlasse o vazamento. Amorim destaca que o PNC prevê a elaboração de planos de área, ficando as empresas sujeitas à multa pecuniária e até à suspensão da licença de operação, em casos de descumprimento.

A minuta do PNC também cria o Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), que deverá avisar sobre a necessidade de PNC e avaliar o trabalho do plano, assim como designar o coordenador (Marinha, Ibama ou ANP), de acordo com a situação. Segundo Amorim, apesar de o GAA não estar oficialmente implementado, ele já é conduzido pela Marinha, Ibama e ANP.

Amorim explica que o GAA será convocado e ativado por qualquer um de seus componentes, mesmo que o incidente de poluição por óleo não seja considerado como de significância nacional. O GAA designará uma de suas instituições integrantes como coordenador operacional, tendo por base a tipologia e características do vazamento. A coordenação operacional será exercida preferencialmente pela ANP no caso de incidentes de poluição por óleo, a partir de estruturas submarinas de perfuração e produção de petróleo.

A Marinha terá preferência de coordenar o GAA se houver incidente de poluição por óleo em águas marítimas, assim como em águas interiores compreendidas entre a costa e a linha de base reta, a partir da qual os espaços marítimos são definidos. Já o Ibama é o primeiro na escala para assumir os trabalhos do grupo no caso de incidentes de poluição por óleo ocorridos em águas interiores, com exceção de águas compreendidas entre a costa e a linha de base reta.

Amorim ressalta a necessidade de a legislação não ser engessada para a tomada de decisões rápidas. Há burocracia que atrasa o processo, como a compra imediata de passagens aéreas que, por lei, deve ser comprada com antecedência para servidores públicos. Em casos de viagem no fim de semana, por exemplo, essas ações se tornam mais complicadas.

Amorim conclui que a avaliação e o acompanhamento conjunto entre Marinha, Ibama e ANP demonstraram eficiência, mesmo não sendo o incidente considerado de grande porte. Ele também destaca o surgimento de um canal para troca de informações rápidas e eficientes. Segundo Amorim, a estrutura organizacional se tornou mais flexível e as informações passadas para imprensa, conjuntas.

Em abril de 2010, influenciado pelo acidente no Golfo do México, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a definição do decreto do PNC até o final daquele ano, o que acabou não acontecendo. Em dezembro de 2010, a minuta do decreto do PNC estava concluída e foi encaminhada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) à Casa Civil, sendo devolvida por questões administrativas.

Já em 2011, o PNC pouco avançou em termos de tramitação. Oliveira, da Marinha, acredita que a discussão em torno do PNC tenha caminhado pouco devido à prioridade dada a outros projetos, como o do Código Florestal, que ainda está em discussão. Entre novembro e dezembro de 2011, o grupo de trabalho interministerial (GTI) reuniu-se diversas vezes e realizou alterações na minuta do decreto do PNC.

O advogado e professor do programa de pós-graduação da Universidade Católica de Santos (Unisantos), Raphael Vianna, explica que é extremamente importante detectar a origem do vazamento para identificar a legislação aplicável. Ele esclarece que o acidente ocorrido no Golfo do México foi diferente do vazamento no campo de Frade, já que somente o primeiro gerou repercussão na plataforma.

De acordo com Vianna, os derramamentos de produtos potencialmente poluidores estão relacionados, além do fator operacional, a fatores externos. Segundo ele, em alguns casos de derramamento de óleo aplica-se a convenção internacional sobre responsabilidade civil em danos causados por poluição por óleo, de 1969. “A análise dos riscos da atividade é de extrema importância, pois serve de parâmetro para a elaboração dos planos de emergência e contingência”, enfatiza Vianna.

O diretor de operações da Alpina Briggs, Dante Pozzi Neto, diz que o vazamento no campo de Macondo foi um grande laboratório para a British Petroleum (BP) testar novas tecnologias disponíveis, mas ressalta a necessidade de se buscar técnicas e equipamentos certificados. Apesar da repercussão dos acidentes em plataformas, ele diz que as causas mais comuns de derramamento ocorrem durante operações de carga e descarga, em colisões e com caminhões tanque na retroárea. Neto conta que a Alpina Briggs é acionada quase todos os dias.

Neto defende uma abordagem mais profissional no tratamento de resíduos, sobretudo os de produtos químicos que costumam vazar de contêineres. Ele explica que a maioria dos empregados não está preparada para manipular esses materiais, muitas vezes sem cheiro, e acabam correndo risco de morte. Amorim, do Ibama, diz que o nível de recolhimento nos portos brasileiros pode chegar a 100% em alguns casos.

O diretor de operações da Alpina Briggs ressalta que o PEI deve se organizar em tempo de respostas. Como a mobilização não se dá em tempo curto, ele defende que a estrutura deve visar atender a todas as hipóteses acidentais. “É uma atividade muito relacionada a planejamento. A estratégia é ter parte dos equipamentos no cais e parte na retroárea, armazém no galpão”, acredita Neto.

Neto fala da necessidade de diferentes equipamentos, como recolhedores, e recursos complementares como tanques de armazenamento temporário e embarcações de apoio. Os serviços exigem plano de manutenção preventiva e corretiva dos equipamentos. Ele cobra que é preciso que os portos estejam organizados e cientes de seus recursos para casos de acidentes. Além disso, ele defende o treinamento, planejamento e mão de obra para aumentar a segurança de portos e ambientes marítimos.

O engenheiro de meio ambiente da gerência de contingência da Petrobras, Rodrigo Cochrane, explica que a diretriz interna da empresa estabelece que as situações de emergência devam estar previstas e ser enfrentadas com rapidez e eficácia visando à máxima redução de seus efeitos. Cochrane diz que a estrutura da companhia com cerca de 30 centros de defesa ambiental (CDAs) é importante nesse conceito, que adota a prontidão como fundamento.

A organização da resposta a emergências offshore pela Petrobras baseia-se no software INFOPAE, em tecnologias de apoio e em inteligência e prevenção. O INFOPAE é um sistema para apoio à gestão de emergência desenvolvido há mais de 10 anos e aperfeiçoado em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). O software utiliza um banco de dados e dá suporte na elaboração de planos de controle, acompanhamento e monitoramento de emergência.

As salas de inteligência e situação da Petrobras realizam rastreamento de embarcações, previsão meteorológica, monitoramento de equipamentos dos CDAs, previsão meteorológica, sensoriamento remoto e previsão oceânica. Dentre as tecnologias de apoio, a Petrobras utiliza modelos matemáticos para previsão de temperaturas e correntes superficiais. Os aparatos da companhia usam câmeras de alta resolução com infravermelho que captam imagens por sensoriamento remoto.

Cochrane explica que se ocorresse com a Petrobras um vazamento de óleo semelhante ao do Campo de Frade, a companhia teria, em pouco tempo, um formulário com dados consolidados sobre o acompanhamento das ações. “Estamos evoluindo no conceito de contingência. Buscamos ótica no conceito de inteligência. Fazemos esforço para padronizar mais esses planos. A estratégia do Rio Grande do Norte, por exemplo, deve ser a mesma utilizada no Rio Grande do Sul”, revela Cochrane. (D.O.)

 

Solução sustentável em Santos

Projeto de descontaminação libera área para construção de terminal de granéis líquidos e contêineres em antigo lixão

O antigo lixão do bairro da Alemoa, na zona portuária santista, será destinado à construção de um terminal portuário para operação de contêineres e granéis líquidos. Em março de 2012, foi concluído o processo de remediação do terreno de 340 mil metros quadrados de área. A capacidade de armazenamento de líquidos e de contêineres por ano será, respectivamente, de 1, 2 milhão de litros e 1,1 milhão de TEUs. Ao todo, serão investidos R$ 1,6 bilhão na construção e recuperação da área desocupada em 2002 pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb).

A Essencis Engenharia e Consultoria participou da descontaminação do local para a ampliação do porto de Santos. Neste ano, começam as obras de construção do terminal que ocupará uma área contaminada com resíduos da construção civil, domésticos, hospitalares e industriais. O projeto também reúne as empresas Waterloo Consultoria e a construtora Andrade Gutierrez.
— O porto de Santos não tinha muito para onde crescer. Uma possibilidade era essa área contaminada por resíduos desde a década de 1950 — diz Giovanna Setti Galante, superintendente da Essencis e presidente da Associação Brasileira de Empresas de Consultoria e Engenharia Ambiental (AESAS). A previsão é que sejam gerados três mil empregos diretos durante as obras e nove mil quando o terminal entrar em operação.
Giovanna conta que havia resíduos enterrados com mais de 15 metros de profundidade. A investigação encontrou materiais como benzeno, mercúrio, cloreto de vinila e chumbo na área subterrânea. “É possível transformar uma área sem valor econômico numa área de uso”, defende Giovanna, que participou da 8ª edição do Ecobrasil — Seminário Nacional sobre Portos e Meio Ambiente, organizado pela Portos e Navios nos dias 24 e 25 de abril, no Rio de Janeiro.
A superintendente da Essencis destaca o trabalho em conjunto entre as empresas e diz que a integração é importante para a evolução dos segmentos de dragagem e engenharia no campo ambiental. Ela explica que o terreno contaminado foi subdividido em células de 20 metros x 20 metros para análises antes das escavações. O objetivo foi monitorar os gases e evitar a contaminação dos operários com metais. Giovanna esclarece que são necessários quatro anos de monitoramento após a remediação.
Até março de 2012, foram retiradas 1.138.203,18 toneladas de resíduos do antigo lixão. Parte dos resíduos retirados do terreno foi levada para uma área da Essencis, no município de Caieiras (SP). O restante foi armazenado em geobags — espécie de células gigantes recobertas por um material chamado geotêxtil, onde ficam encapsulados os rejeitos contaminados. Ao todo, foram realizadas 28.955 viagens para destinação dos resíduos em 336 dias de operação. (D.O.)

Arquivo/Alan Bastos

Gestão ambiental integrada

Portos seguem investindo em ações sustentáveis, mas competência do licenciamento permanece em discussão

A busca por uma gestão ambiental mais integrada foi um dos principais temas discutidos no Ecobrasil 2012, seminário sobre portos e meio ambiente organizado pela Portos e Navios no mês de abril. A Superintendência do Porto de Rio Grande (SUPRG), representada no evento, busca uma gestão mais eficiente que permita licenciamentos menos burocráticos. A chefe da divisão de meio ambiente, saúde e segurança da SUPRG, Margareth Badejo, diz que Rio Grande discute com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) formas de tornar o processo mais ágil.
Margareth enfatiza que o problema de definições de competência para licenciamento ambiental no Rio Grande do Sul permanece. O assunto não é novo e já foi tema de debates em edições anteriores do Ecobrasil. Segundo ela, o licenciamento no porto público é de competência do Ibama, enquanto os processos que envolvem os terminais privados são conduzidos pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Ela conta que surgiram dúvidas na época de obtenção de licenças para a dragagem dos terminais privados.  “Havia certo mal entendido de quem faria licenciamento: a Fepam ou o Ibama”, lembra Margareth. O objetivo do porto é que seja definida uma mesma linguagem sobre as exigências e prazos.
A chefe da divisão de meio ambiente, saúde e segurança da SUPRG destaca que o porto de Rio Grande é um dos poucos com licença de operação. Em 2005, a LO do porto de Rio Grande foi renovada até 2013, abrangendo suas dragagens de manutenção. Essa ação, associada à ampliação dos molhes, foi finalizada em julho de 2010, com a dragagem de 16 milhões de metros cúbicos e R$ 200 milhões de investimentos. Outros seis milhões de metros cúbicos foram dragados entre dezembro de 2011 e abril de 2012. Margareth também ressalta que Rio Grande é o porto com o maior volume dragado no Brasil, segundo dados da Secretaria de Portos (SEP). A SUPRG recebeu autorização para a dragagem de um total de 35 milhões de metros cúbicos.
Também em 2005, o porto de Rio Grande iniciou o monitoramento ambiental. O processo funciona como uma ferramenta para o conhecimento dos impactos das dragagens, com a coleta de dados, o estudo e acompanhamento contínuo e sistemático das variáveis ambientais. O monitoramento ambiental continuado do porto de Rio Grande foi uma das exigências da licença de operação.
Durante o evento, o gerente de Meio Ambiente do porto de São Sebastião, Adriano Truffi Lima, também enfatizou que o impasse em torno das competências prejudica a elaboração de um sistema de gestão integrada. Ao contrário do porto de Rio Grande, São Sebastião raramente precisa realizar dragagens. Em contrapartida, a região ao redor do porto possui áreas de preservação ambiental que tornam mais complexo a obtenção de licenças. “É uma área crítica, pois o porto é cercado de unidades de conservação”, explica Lima.
Lima destaca que a regularização ambiental do porto é prioridade da Companhia Docas de São Sebastião (CDSS) desde quando ela foi criada, no final de 2007. Ele cita que existem questões a serem cumpridas como legislações estaduais e municipais, questões alfandegárias, licenças de operação, alvarás e projeto de incêndio. Segundo ele, existem licenças com mais de 40 condicionantes. Para atender a essa demanda, foi criada a gerência de meio ambiente, saúde e segurança.
A CDSS também firmou parcerias para realizar estudos de monitoramento ambiental. Um dos programas de monitoramento está compondo um banco de dados com informações desde pesquisas até estudos de impacto ambiental e relatórios da Petrobras. A CDSS também criou um programa de capacitação integrada com a Faculdade de Tecnologia (Fatec) de Jaú (SP). O curso, com duração de dois anos, é voltado para funcionários da CDSS, TPAs e funcionários dos operadores portuários. “O sistema de gestão passa a ser algo internalizado na empresa”, resume Lima.
Os desafios para estar em dia com as regras ambientais não são exclusividade dos portos públicos. O engenheiro de segurança do trabalho da Portonave (SC), Gabriel José Bueno Telles, destaca que a empresa cumpre 117 legislações ambientais. Ele conta que o terminal realiza uma série de medidas sustentáveis visando conseguir novas certificações até 2014. Entre 2009 e 2010 a Portonave foi certificada pela ISO 9001:2008 e ISO 14001:2004.
Entre as ações ambientais estabelecidas pela Portonave está um plano integrado de controle emergência (PCE), que envolve cenários de segurança e meio ambiente. Segundo Telles, o PCE engloba a proteção contra poluição ou acidentes ambientais; incêndios ou explosões; vazamento de produtos perigosos; queda de homem ao mar; socorro a acidentados; e condições adversas de tempo.
Outra medida de segurança ambiental do PCE é a realização de um cerco preventivo durante o abastecimento de embarcações e a realização de simulados periódicos de vazamento de óleo. Para o combate a produtos químicos perigosos, o PCE estabelece o uso de vestimentas de proteção nível A. Uma viatura de combate a incêndio foi incorporada aos equipamentos e fica disponível 24 horas por dia no porto.
A Portonave também integra um plano de ajuda mútua (PAM) com ações conjuntas dos portos e terminais de Santa Catarina em situações de emergência. O PAM do complexo Itajaí/Navegantes possui a participação da Portonave, APM, Superintendência do Porto de Itajaí, Petrobras, Navship, Teporti e Gomes da Costa. Telles diz que a estrutura evitou que a Portonave fosse afetada pelas chuvas que atingiram Itajaí (SC) em 2008 e em 2010.
Telles destaca que a Portonave possui uma equipe de gestão ambiental própria formada por engenheiros e técnicos especializados na área ambiental. Entre os programas realizados estão: o monitoramento das águas subterrâneas e das águas do canal de dragagem. Os técnicos também realizam o monitoramento da qualidade das águas no estuário e o controle da potabilidade da água. Parte das águas do Portonave passa por uma estação de tratamento. O sistema de tratamento e reuso das águas de lavação dos equipamentos possibilita economia de até 10% no consumo.
Outra medida adotada pelo porto é o monitoramento da qualidade do ar, sobretudo para gases como o CO e NOx. As ações incluem um inventário de emissões de carbono.
“A Portonave notifica caminhões e transportadoras reprovadas no monitoramento de ar”, conta Telles, que também participou da 8ª edição do Ecobrasil, Seminário Nacional sobre Portos e Meio Ambiente, organizado pela Portos e Navios nos dias 24 e 25 de abril, no Rio de Janeiro.
Os ruídos ambientais também são monitorados pelo terminal. Em 2011, 33 animais foram resgatados com a ajuda do centro de recuperação de animais marinhos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). A Portonave possui ainda um programa de monitoramento de água de lastro. Em fase de implantação estão: a redução e neutralização da emissão de gases de efeito estufa e a avaliação da viabilidade técnica do uso de energia solar na parte administrativa do porto. A Portonave promove o gerenciamento de resíduos sólidos, que são separados por latas e caçambas de lixo coloridas.
No Ecobrasil 2012, o gerente de Meio Ambiente da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Marcos Maia Porto, afirmou que as atividades produtivas possuem o desafio de reduzir a geração de resíduos, fazendo o processamento e a destinação adequados do material. Atualmente, cerca de 80% dos resíduos são depositados em lixões, enquanto apenas 20% são levados para aterros sanitários ou controlados.
Maia Porto destaca que os instrumentos desse marco regulatório para os portos estão na Política Nacional de Resíduos Sólidos — PNRS (Lei 12.305/2010) e na resolução Antaq 2.190/2011, que trata da retirada de resíduos de embarcações. Entre os maiores princípios da PNRS, segundo Maia Porto, está estabelecer a responsabilidade do gerador dos resíduos.
A resolução 2.190/11 identifica a embarcação como a geradora e responsável pelos resíduos e coloca a autoridade portuária como controladora. A resolução também institui o credenciamento de prestadoras de serviços de resíduos e obriga que a autoridade portuária forneça informações para a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês).
“A disposição final ambientalmente adequada de resíduos nas instalações portuárias consiste na distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos”, comenta Maia Porto. (D.O.)

 



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