KPMG observa tendência de fusões e aquisições no setor portuário >> O número de fusões e aquisições realizadas pelo setor de portos e aeroportos teve, no primeiro semestre de 2014, um crescimento de 166% em relação ao mesmo período de 2013. Nos primeiros seis meses do ano, foram contabilizados oito negociações contra três no mesmo espaço de tempo de 2013. Do total de operações no período, três foram ‘domésticas’ — entre empresas brasileiras.
Três foram empresas de capital majoritário estrangeiro adquirido, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no Brasil. Em outras duas, uma empresa de capital majoritário estrangeiro adquiriu, de estrangeiros, capital de empresa estabelecida no Brasil. Os dados constam em uma pesquisa realizada pela KPMG com 43 setores da economia brasileira.
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Das oito negociações verificadas, sete foram feitas no setor portuário, com destaque para a participação do porto de Roterdã no projeto de construção do porto Central, no município de Presidente Kennedy (ES). O porto holandês garantiu 30% de participação no projeto, estimado em R$ 5 bilhões. A TPK Logística é a principal sócia da operação, com 70% do negócio. No final de 2013, o grupo norte-americano EIG, assumiu o controle da LLX, que passou a ser chamado Prumo Logística. A nova empresa controla o projeto do porto do Açu em São João da Barra (RJ).
Maurício Endo, sócio da KPMG no Brasil e líder para o setor de governo e infraestrutura, diz que a Lei dos Portos (12.815/2013) contribui para futuros movimentos de fusões e aquisições. Ele observa na nova regulamentação mudança radical no setor que ainda está sendo absorvida. “Em função da falta de investimentos públicos nos portos públicos, iniciativa privada tem buscado alternativas para garantir capacidade, seja para operação de carga própria, seja para investimentos de operadores internacionais com oportunidade de expandir seu negócio na operação portuária no Brasil”, analisa Endo.
O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli, diz que hoje existe pouca movimentação das empresas do setor no sentido de consolidação, mas acredita que essa é uma tendência em função dos grandes navios com necessidade de calado e de cais. Ele observa que os grandes terminais portuários precisarão cada vez mais de escala para agregar competitividade. Manteli destaca que no Brasil já existem grandes terminais de contêineres e de granéis e alerta para as exigências do mercado internacional para carga e descarga.
A ABTP defende que os terminais tenham calados mais profundos e cais de frente de, pelo menos, 400 metros para poder receber navios de grande porte. “O agronegócio se desenvolveu e a indústria vai se recuperar. Navios grandes querem escala para atracar e desatracar. O navio não pode chegar a um terminal pequeno”, analisa Manteli. Segundo o presidente da ABTP, os terminais de menor porte precisarão buscar aumento de capacidade e ganhos de escala para continuarem competitivos. Ele acrescenta que o governo deve pensar em escala durante a seleção de novos projetos.
As perspectivas de movimentação de carga no Brasil nos próximos anos são positivas, sobretudo por conta das commodities. As exportações de grãos e minerais estão em crescimento e o setor acredita que os portos precisam de aumento de capacidade e melhorias operacionais para reduzir o custo logístico. No caso dos contêineres, a importação e exportação também estão aumentando, sobretudo pela tendência de conteineirização de diversas cargas.
Para Endo, da KPMG, o processo de consolidação já está acontecendo no Brasil e vai continuar nos próximos anos. “À medida que o volume de carga aumenta, operadores e investidores de maior porte tendem a chegar ao mercado e consolidar operações menores para criar operação de maior porte, ganhando escala”, explica. No passado, algumas empresas iniciaram operações logísticas — muitas vezes somente para atender sua demanda de carga própria — e outros gestores resolveram construir terminais privados menores para atender à necessidade de demanda local.
A nova lei portuária nasceu com objetivo de atrair mais investimentos para o setor, mas a nova regulação não foi totalmente absorvida no mercado. Endo lembra que as licitações de novas áreas portuárias dentro dos portos organizados previstas pelo governo ainda não foram realizadas, criando um hiato de aumento de capacidade e impedindo investimentos dos operadores atuais em portos públicos. Com isso, vários empreendedores começaram a fazer mais expansões em operações em terminais privados. “Enquanto essa nova regulamentação não for consolidada e efetivada, vamos continuar a ter transações privadas no mercado”, afirma.
O sócio da KPMG aponta que os portos são o modal mais deficitário da infraestrutura brasileira. Segundo ele não houve investimentos relevantes em novos portos de grande porte nos últimos 20 anos, enquanto o setor de rodovia sempre tem investimentos acontecendo. O sócio da KPMG acredita que a nova lei permitirá atrair investimentos privados para o setor portuário e acelerar aumento da capacidade, possibilitando acelerar o escoamento de carga para o exterior.
O Brasil ainda enfrenta questões burocráticas desde a abertura de firma até questões trabalhistas nos portos e problemas alfandegários. Para Endo, burocracia sempre será uma barreira a ser vencida. Ele ressalta que a consolidação do setor segue uma tendência irreversível adotada pelo governo em vários modais de transportes, como no caso dos aeroportos. “No setor de portos não será diferente e haverá cada vez mais investidores estrangeiros de olho no mercado. São questões que precisam ser assimiladas pelos investidores que, a princípio, estranham bastante. Mas, uma vez assimilados, entram num processo operacional e passam a fazer parte da operação”, resume Endo.