O crescimento de volume nos portos e a perspectiva de que a curva de movimentação de cargas continue ascendente a médio prazo puseram em marcha uma série de investimentos da iniciativa privada na ampliação de terminais. Segundo a Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), em quatro anos o Brasil chegará a quase 1 bilhão de toneladas, ante aproximadas 760 milhões deste ano. Os aportes recaem sobre todo tipo de instalação - desde as que movimentam commodities (carga de menor valor agregado) até as que operam contêineres, onde tradicionalmente são acondicionadas as mercadorias mais nobres.
A Companhia Siderúrgica Nacional está apostando R$ 410 milhões na expansão dos seus dois terminais arrendados no porto de Itaguaí (RJ) - o Tecar, dedicado à movimentação de granel sólido, e o Sepetiba Tecon, que manuseia contêiner.
O Tecar responde por cerca de 60% do volume de granel sólido escoado por Itaguaí, o segundo porto público em tonelagem, atrás de Santos. Neste exercício a CSN embarcará 27 milhões de toneladas de minério de ferro, bem perto da capacidade estática do terminal, de 30 milhões de toneladas. Já em 2011, a projeção é exportar 31,3 milhões de toneladas. "Estamos fazendo algumas melhorias operacionais que vão permitir passar o pico da capacidade instalada", diz o diretor de Portos da CSN, Davi Emery Cade. Os R$ 270 milhões destinados ao Tecar permitirão capacidade para movimentar 45 milhões de toneladas anuais. A expectativa é que em 2012 já seja possível chegar próximo à marca. "E aí os investimentos continuam para atingirmos outras capacidades", explica o executivo, dando o tom da necessidade mundial por minério, que tem a China como maior destino.
A demanda é tamanha que a Companhia Docas do Rio de Janeiro está com um pedido na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para implantação de um novo terminal no porto fluminense - além da CSN, a Vale conta com um empreendimento no complexo.
A nova instalação deverá ter capacidade para 25 milhões de toneladas. "Aí serão três terminais para granéis com capacidade total que passaria de 80 milhões de toneladas", diz o presidente da autoridade portuária, Jorge Mello.
Em Vitória (ES), a saída é a construção de um novo porto, conhecido como Superporto de águas profundas
Outro que figura entre os líderes no ranking de movimentação por tonelagem, o porto de Tubarão (ES), controlado pela Vale, responde por 80% da movimentação de carga geral da companhia e por cerca de 34% do mercado transoceânico de minério de ferro e pelotas da empresa no Brasil. No acumulado do primeiro semestre, escoou 48,28 milhões de toneladas de minério de ferro - a totalidade da carga vai para o mercado externo.
A Vale não faz projeções, mas mantido no segundo semestre o ritmo da primeira metade do ano, poderá encerrar o exercício com mais de 96,5 milhões de toneladas do granel escoadas, ante 80,48 milhões de toneladas alcançadas em 2009. Ainda assim, abaixo das 98 milhões de toneladas de minério de 2008.
A ampliação portuária está na agenda do dia. O porto de Vitória (ES), por exemplo, tem dois terminais arrendados, um para contêineres e outro para fertilizantes e carga geral. Por ano, são menos de 10 milhões de toneladas. Ocorre que o complexo está encravado na cidade e tem sérias limitações que dificultam a operação de navios de grande porte. Hoje está restrito a receber os chamados handysize, com capacidade para até 2 mil Teus (contêineres de 20 pés). Com o projeto de dragagem e derrocagem, será possível atrair os panamax (até 4.500 Teus). Um avanço necessário, mas insuficiente. "Esse é um investimento que dá uma sobrevida ao porto, mas não temos como avançar além disso. Em outras palavras, Vitória não poderá operar grandes conteineiros e graneleiros", diz o diretor-presidente da autoridade portuária de Vitória, Angelo Baptista .
A alternativa será a construção de um novo porto do zero, o chamado Superporto de águas profundas, que ficará na região de Praia Mole. Será um multipropósito mas com foco principal em contêiner. Atualmente estão em curso os estudos de viabilidade e a ideia é que o empreendimento, com profundidade de 18 metros, tenha capacidade para movimentar 2 milhões de Teus e 50 milhões de toneladas de granéis sólidos. A perspectiva é que em 2012 seja possível licitar a obra.
"É uma necessidade do país. Na Europa existem vários portos concentradores. Não dá para imaginar que Santos sozinho vai atender isso. É o grande porto e continuará a ser, mas é razoável termos de três a quatro portos no arco da região Sudeste atendendo a demanda futura, olhando no grande prazo", diz Baptista.
Responsável por quase um quarto da balança comercial passando por seu canal de navegação, Santos opera no limite e aposta num ambicioso plano de duplicação da área para atender um volume projetado de 230 milhões de toneladas em 2024 - aumento de 140% sobre as 95,5 milhões de toneladas estimadas para 2010. Para dar conta do recado atual, estão em curso investimentos que perfazem R$ 3,18 bilhões em ampliações e novos terminais. Dois deles terão dimensões semelhantes ao Tecon Santos - Embraport e BTP, cujos investimentos representam R$ 1,2 bilhão e R$ 1,6 bilhão, respectivamente, segundo a autoridade portuária.
Apesar de defender a tese do ganho de escala, que privilegia grandes instalações para baratear os custos de operação, o presidente do porto de Santos, José Roberto Serra, alerta para a necessidade da existência de empreendimentos médios. "Não é certo pensar que Santos só vai receber megaembarcações. Nós vamos continuar com navios de porte médio, de 3ª e 4ª gerações. Os de 5ª e 6ª vão chegar para os grandes terminais. Mas quem atende os menores? E a cabotagem? São os terminais de porte médio", responde.
Tanto faz sentido, diz Serra, que o Tecondi está investindo cerca de R$ 185 milhões na ampliação de sua capacidade para movimentar 700 mil Teus por ano.
De toda maneira, a expansão da oferta para contêineres em Santos é premente. O porto já trabalha muito próximo do teto de 3 milhões de Teus que o conjunto de instalações pode operar anualmente: 2010 deve recuperar os patamares de 2008, quando foram escoados 2,8 milhões de Teus em Santos.
"Existe uma discussão imensa sobre se a capacidade atual portuária brasileira é suficiente. Na minha visão, o maior problema não é falta de porto, é a infraestrutura de acessos", diz Cade, da CSN.
Especificamente sobre o segmento de contêineres, ele sustenta que vários terminais têm planos de expansão e boa parte tem capacidade ociosa, como é o caso do Sepetiba Tecon, em Itaguaí. Hoje o terminal está operando com 60% de seu potencial, que é de 450 mil Teus por ano. As obras de ampliação preveem R$ 140 milhões em equipamentos e complementação do berço de atracação para aumentar a oferta, que saltará para 600 mil Teus. "Estamos a 300 quilômetros em linha reta e temos capacidade para ajudar a desafogar Santos", avisa.
Fonte: valor Econômico/Fernanda Pires | Para o Valor, de Santos
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