O Senado começa a discutir este mês mudanças na legislação que prometem  tornar mais atrativas as Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs),  áreas de livre comércio com o exterior em que as empresas instaladas têm  isenções fiscais e regime aduaneiro e cambial especial. Enquanto isso,  no Rio Grande do Norte, o esforço é para viabilizar as duas áreas  autorizadas. O RN tem cerca de 90 dias para desmatar, terraplenar e  cercar as duas áreas, em Assu e Macaíba. O prazo para cumprir pelo menos  10% do cronograma físico-financeiro termina no início de junho. A ZPE  de Macaíba, alerta Helson Braga, professor aposentado de Economia da  Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente da Associação  Brasileira das Zonas de Processamento de Exportação (Abrazpe), corre o  risco real de 'caducar' se o governo não assumir efetivamente o projeto.
 
 O Conselho Nacional das ZPEs virá ao estado após o fim do prazo, em  julho, vistoriar as obras nas duas áreas, criadas em 2010.  Quase dois  anos depois, o que se vê no local que deveria abrigar distritos  industriais é apenas mato. A expectativa, porém, é que o projeto de lei  do Senado, que tramita na Comissão de Desenvolvimento Regional, acelere  construções e impeça que estados mais atrasados percam suas ZPEs.
 
 No país, há 23 Zonas aprovadas. Nenhuma delas em funcionamento. Deste  total, 14 estão sendo implantadas; quatro  concluíram a infraestrutura,  mas estão sendo readequadas; e quatro estão sendo relocalizadas (os  terrenos não estão mais disponíveis). A mais adiantada é a do Acre, que  deve começar a operar este mês. Exceção no país.
 
 O que emperrou a implantação das ZPEs no RN, de acordo com Amaro Sales,  presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern),  uma das entidades  que compõe a sociedade, foi a falta de dinheiro. Ele reconhece que a  implantação das ZPEs potiguares segue a 'passos de tartaruga' e já  convocou uma reunião com os outros dois sócios: prefeitura de Macaíba e  governo do estado.
 
 A ZPE do Sertão, em Assu, que está nas mãos da iniciativa privada, por  sua vez, "avançou em coisas que as pessoas não podem ver", explica o  controlador, o empresário inglês e presidente do Equator Group, Brian  Tipler. O terreno já foi adquirido, a empresa constituída, e a ZPE teve o  projeto de alfandegamento (espécie de autorização para começar a  executar a obra) aprovado pela Receita Federal.
 
 Antes de construir as instalações, o empresário inglês quer viabilizar a  logística. A ideia é investir cerca de US$ 5 bilhões no porto de Pecém  (CE), umas das principais portas de entrada e de saída de mercadorias do  Nordeste, na ferrovia Transnordestina e na construção de um aeroporto  de cargas na região, para escoar a produção. O dinheiro virá de fundos  de investimentos, como o Equator Fundos de Investimentos. 
 
 ZPE do Acre: última a ser criada e a primeira a operar
 
 Enquanto as empresas administradoras das Zonas de Processamento de  Exportação (ZPE) do Rio Grande do Norte correm para desmatar,  terraplenar e cercar áreas em 90 dias, a do Acre prepara-se para entrar  em operação. A ZPE de Senador Guiomard, próximo a capital Rio Branco,  foi a última a ser criada pelo governo federal e será a primeira a  entrar em operação.
 DivulgaçãoZPE de Macaíba: Área ainda não tem infraestrutura e corre para  se viabilizar...ZPE de Macaíba: Área ainda não tem infraestrutura e  corre para se viabilizar...
 
 A expectativa é que o 'habite-se' da Receita Federal, que autoriza a  instalação das empresas, saia até 15 de março. Os galpões foram  inspecionados pela Receita na última semana. O relatório só será  publicado na próxima terça, mas  já se sabe que não há pendências no  projeto. A ZPE largará na frente de outras com investimentos maiores da  iniciativa privada, como a ZPE de São Gonçalo do Amarante, no Ceará, com  siderúrgicas e a de Barcarena, no Pará, com fábricas de alumina.
 
 Segundo Edvaldo Guimarães, secretário de Desenvolvimento Econômico, da  Indústria, do Comércio e Serviços do Acre, 32 empresas já entregaram  cartas de intenções. Deste total, dez já apresentaram seus planos de  negócios e projetos. São empresas que atuam no setor madeireiro, de  computação, de energia, cosméticos e automobilístico. A previsão é que  as dez empresas empreguem 2,6 mil pessoas diretamente. O número de  empregos indiretos gerados é três vezes maior. Qual o segredo para  concluir tudo em tão pouco tempo? O próprio Edvaldo responde. "Decisão  política". O Acre, segundo ele, sempre foi olhado como final da linha.  "Com a implantação da ZPE e a construção da Transoceânica, o estado  deixou de ser o fim da linha e passou a ser a principal porta de entrada  e saída de mercadorias do Pacífico", completa.
 
 O governo investiu R$ 25 milhões no projeto. E não se arrepende. O  dinheiro foi aplicado em infraestrutura, logística, vigilância,  equipamentos. Sensação de dever cumprido? Não. Para o secretário, o  trabalho não acabou. "Só vamos comemorar quando pelo menos dez empresas  começarem a operar na nossa ZPE".
 
 Para Helson Braga, três fatores foram primordiais: localização (a ZPE  está próxima a Transoceânica); a infraestrutura (a zona foi implantada  numa área que receberia um porto seco); e decisão política, "o estado  conseguiu financiamento e não ficou só no recurso". Tudo isso, segundo  ele, explica porque o Acre começou atrasado e passou adiante.
 
 Macaíba: Indefinições e impasse
 
 O secretário de Desenvolvimento Econômico do RN, Benito Gama, disse que  as obras da ZPE de Macaíba serão iniciadas a tempo, mas não fixou data  para o início nem disse de onde viria o dinheiro. Segundo ele, o recurso  deveria ser alocado pela prefeitura de Macaíba, que detém mais de 80%  da participação na ZPE. "A empresa é municipal", justificou. Helson  Braga, presidente da Associação Brasileira das ZPEs, discorda. "Não está  escrito em lugar algum que quem coloca dinheiro é o sócio majoritário".  Para ele, o processo só foi liderado pela prefeitura porque o governo  do estado se omitiu. "Nos outros estados, é o governo quem está a frente  do processo. Não a prefeitura".
 Rodrigo SenaApesar de a ZPE ainda ser cercada por indefinições, o  governo espera que a área esteja pronta antes do Aeroporto de São  Gonçalo do AmaranteApesar de a ZPE ainda ser cercada por indefinições, o  governo espera que a área esteja pronta antes do Aeroporto de São  Gonçalo do Amarante
 
 Na avaliação de Helson, Macaíba já fez sua parte, disponibilizando  terreno e apresentando projeto de criação da ZPE em Brasília. Para não  perder a autorização, a prefeitura, porém, está disposta a fazer ainda  mais. De acordo com José Wilson, secretário de planejamento, o Município  pretende levantar recursos e cumprir os 10% do cronograma  físico-financeiro, mesmo sem apoio. "Precisamos desmatar, terraplenar e  cercar a área. Não será tão difícil mobilizar o maquinário".
 
 Apesar de assumir a responsabilidade mais uma vez, José concorda que o  dever não é apenas do Município. "A ZPE será implantada em Macaíba, mas  ela é do Rio Grande do Norte". Segundo ele, o dinheiro tem que sair da  composição societária e não só de um dos sócios. O problema é que,  segundo José, ainda não se sabe quanto cada um aplicará na execução do  projeto.
 O governo quer aumentar sua participação na sociedade, tornando-se sócio  majoritário, segundo Benito. A proposta, entretanto, precisaria passar  pela Assembleia Legislativa, o que levaria ainda mais tempo.  José  Wilson não vê nenhum problema na alteração. "Se o governo quer se tornar  sócio majoritário, que venha e nos ajude a tirar o projeto do papel".  Para Helson, proposta não precisaria passar pela Assembleia Legislativa,  que já havia aprovado a entrada do governo na sociedade. Basta aplicar  recursos na ZPE e  participação subirá automaticamente.
 
 Embora não tenha detalhado os planos do governo para tirar pelo menos  parte do projeto do papel até a vistoria do Conselho Nacional das ZPEs,  Benito garantiu que os 10% serão cumpridos até junho, em menos de quatro  meses. A obra ficará pronta antes do aeroporto de São Gonçalo do  Amarante, garantiu. A previsão é que o aeroporto esteja pronto no  primeiro semestre de 2014. Para o secretário, 'este (a ZPE) é mais um  projeto que ficou da gestão passada e a governadora vai tirar do papel'.  A associação só não sabe se a tempo da vistoria.
 
 Para Abrazpe, prazo do RN é apertado
 
 O presidente da Associação das Zonas de Processamento de Exportação  (ZPE), Helson Braga,  virá à Macaíba acompanhar de perto a execução do  projeto. Segundo Helson, que acompanha a implantação das ZPEs há 25  anos, ora como presidente da Abrazpe ora como presidente do Conselho  Nacional das ZPEs, o prazo para tirar as ZPEs potiguares do papel está  muito apertado. Se não cumprir pelo menos 10% do cronograma  físico-financeiro, o Rio Grande do Norte corre o risco de perder as  autorizações e recomeçar todo o processo do zero. O prazo, entretanto,  poderia ser prorrogado, caso os administradores das ZPEs apresentassem  'argumentos plausíveis' e conseguissem convencer o Conselho Nacional das  ZPEs.
 
 As ZPEs potiguares, relembra Helson, foram autorizadas ainda no governo  anterior. "A atual governadora parece disposta a dar continuidade, mas a  associação  não tem sentido ações concretas", observa. Os terrenos já  foram adquiridos e as empresas administradoras constituídas. Mas no caso  de Macaíba ainda não está definido de onde virá o dinheiro para  preparar terreno e erguer instalações. O caso, segundo ele, é  sintomático. "Ilustra o tipo de empenho que o governo está tendo". "Nós,  da Associação, damos todo o suporte para fazer o projeto andar, mas não  podemos fazer o papel do governo", completa. Segundo ele, ainda há  muito dever de casa pra ser feito. "E eu não vejo muita preocupação do  estado com isso".
 
 As duas empresas administradoras já deram entrada nas licenças, mas  ainda não sabem quando iniciarão as obras. Além de construir os  distritos, será necessário instalar rede de esgoto, água, energia,  telecomunicações e construir os acessos. "O investidor quer encontrar  tudo no lugar antes de investir seu dinheiro", reconhece Brian Tipler,  controlador da ZPE do Sertão, em Assú.
 Segundo Helson Braga, o estado está em desvantagem quanto a sua  logística. "O RN está localizado no ombro do Brasil e não conta com  portos bons nem ferrovias que o liguem ao restante do Brasil". Depois  pondera: "Mas o Acre está no final do Brasil e deu um jeito de andar".
 
 Quem fez o dever de casa, não se arrepende. De acordo com a Organização  Internacional do Trabalho (OIT), mais de 130 países usam ZPEs, que  empregam diretamente cerca de 70 milhões de pessoas e geram US$ 500  bilhões em exportações líquidas (exportação menos importação).
 
 Fonte: Tribuna do Norte (RN) Natal/Andrielle Mendes
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