Imagine um país com mais de oito mil quilômetros de costa e uma infinidade de oportunidades navegando diante dos olhos. Pois bem, esse país é o Brasil, e a cabotagem, uma joia logística pouco explorada, tem o poder de revolucionar nossa economia. Trata-se de um gigante ainda adormecido, mas que, aos poucos, acorda para sua verdadeira vocação.
Atualmente, 58 empresas operam nesse setor. Onze delas possuem uma frota de 99 navios que, juntos, transportam impressionantes 2,5 milhões de toneladas. Mas os números por si só não contam a história completa. A verdade é que, além de ser eficiente, a navegação costeira é também sustentável, uma vez que emite quatro vezes menos CO2 do que o transporte rodoviário, por exemplo. E o que isso significa? Que poderíamos aliviar as rodovias, reduzir acidentes e, ao mesmo tempo, impulsionar negócios de Norte a Sul do país.
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Pense em um microempreendedor do Sul que quer vender seus produtos no Norte. Antes, os custos tornavam essa jornada quase impossível. Agora, com a cabotagem, as transações comerciais ganham uma nova perspectiva. Segundo o Plano Nacional de Logística e Transportes, os fretes podem ser reduzidos em até 62% com essa modalidade, algo que pode ser um divisor de águas para os negócios.
Além disso, a navegação costeira não se limita a grandes empresas. Do pequeno ao grande empreendedor, todos podem se beneficiar de um transporte porta a porta, seguro e competitivo. O risco de acidentes e roubos diminui consideravelmente, visto que os números provam isso: há cerca de 17 mil acidentes com veículos de carga registrados nas rodovias federais e mais de 18 mil roubos de mercadorias contabilizados até 2018, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal. Já no mar, o tráfego segue tranquilo, eficiente e previsível.
A cabotagem não chega para substituir ninguém. Pelo contrário. Todos os modais são essenciais para a logística do país. O segredo está em utilizar cada um no momento certo e na rota correta. Inclusive, é justamente aqui que a cabotagem brilha, afinal o Brasil é um país de dimensões continentais e, com isso, interligar cidades e estados de forma eficiente e sustentável não é luxo, mas sim necessidade.
Felizmente, as condições para que essa revolução aconteça são favoráveis. Nosso clima permite a navegação ao longo do ano todo, e os investimentos em portos e infraestrutura já começam a sair do papel. Programas como a BR do Mar incentivam o setor privado a apostar nesse modal, tornando o futuro mais promissor.
Nos próximos anos, veremos a modernização e a expansão dos portos, ampliando a interconexão entre os diferentes modais e facilitando o fluxo de mercadorias pelo país. No entanto, para que essa transformação aconteça de fato, precisamos de algo fundamental, isto é, uma mudança de mentalidade. Os tomadores de decisão precisam olhar para a navegação costeira como uma aliada estratégica. Lembrando que não basta enxergar o óbvio, é preciso agir.
Se quisermos um Brasil mais eficiente, sustentável e competitivo, precisamos repensar nossa logística. A cabotagem é uma oportunidade clara de alinhar nosso modelo de transporte às nossas vocações naturais e a hora de fazer isso acontecer é agora.
Fabian Lavaselli é diretor comercial e de atendimento ao cliente da Norcoast