O Brasil figura hoje na decepcionante 57ª posição, atrás de países quase inexpressivos do ponto de vista econômico como o Azerbaijão, uma das ex-repúblicas soviéticas.
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O desempenho brasileiro nesse ranking é ainda mais frustrante se considerarmos que, hoje, temos o sétimo maior Produto Interno Bruto (PIB) do planeta. O fato de sermos a sétima potência econômica reforça a necessidade de termos portos, aeroportos, rodovias e ferrovias compatíveis com nossas demandas de desenvolvimento.
Infelizmente, estamos investindo menos de 1% de nosso PIB (0,9% para ser exato) em infraestrutura, enquanto nossos maiores competidores, como os “companheiros” no grupo dos Brics, China à frente, chegam a investir mais de 5%.
Pois bem, para avançar as posições no ranking referidas no início, bastaria passar a investir 2% do PIB anualmente. Os efeitos para a economia, em termos de ganhos em produtividade e competitividade, seriam extraordinários, gerando um processo multiplicador para nossa cadeia produtiva e nosso comércio exterior.
O Brasil, nunca é demais lembrar, tem uma carga tributária estratosférica, beirando os 40% do PIB, se considerados não apenas os impostos como também contribuições previdenciárias e outros encargos. A receita desses tributos deve, portanto, ter a contrapartida do retorno em investimentos que garantirão o desenvolvimento sustentado do país.
As deficiências estruturais saltam aos olhos no setor portuário. São problemas facilmente identificados pelas empresas de transporte marítimos (armadores), mas cujos reflexos negativos têm repercussão para toda a economia. Com a gradual retomada da economia global, após a crise financeira 2008-2009, o gargalo tornou-se mais perceptível.
Para se ter uma melhor ideia do que significa isso, basta dizer que o aumento significativo do tempo de espera para atracação e embarque de navios nos 17 principais terminais brasileiros em 2010 provocou cerca de 850 cancelamentos de escalas ante 457 no ano anterior. Foram cerca de quatro mil dias de atraso, gerando custos adicionais para os armadores e seus clientes.
Esses dados foram levantados pelo Centronave - Centro Nacional de Navegação junto às empresas de navegação associadas. Como essas empresas, em conjunto, são responsáveis por 75% do transporte do comércio exterior brasileiro, fazendo com seus navios cerca de 12 mil escalas anuais nos principais portos do país, pode-se ter uma ideia dos transtornos e do impacto dos custos desses atrasos e cancelamentos em nossa cadeia produtiva.
O mercado calcula que, somente em Santos, os sobrecustos causados pelos atrasos em 2010 podem ter chegado a US$ 100 milhões ao ano — pressionando o chamado “custo Brasil”.
O gargalo tende a aumentar na mesma proporção em que o nosso comércio exterior se expande. Lembremos que nos últimos dez anos, o volume de contêineres movimentado nos terminais de Santos avançou 215%, enquanto houve aumento de apenas 23% no comprimento dos berços de atracação nos terminais portuários e de 20% nas áreas alfandegadas — o que explica o aumento nos congestionamentos.
Não podemos mais negligenciar os investimentos que eliminarão esses gargalos. Sem uma infraestrutura ágil, não alcançaremos o desenvolvimento sustentado que tanto almejamos. É preciso agir.
*Diretor-executivo do Centro Nacional de Navegação (Centronave), entidade empresarial que representa as 30 maiores companhias de navegação em atividade no Brasil. (elias.gedeon@centronave.org.br)