A Arábia Saudita está acelerando planos de fazer a Oferta Pública Inicial (IPO, nas iniciais em inglês) da gigante petrolífera estatal Saudi Aramco, de acordo com pessoas a par dos planos da empresa. A meta é abrir o capital de uma parcela da companhia em sua bolsa doméstica até o fim deste ano.
A iniciativa fará com que seja comercializado inicialmente apenas 1% do capital da Saudi Aramco, a maior empresa do mundo em termos de receita. A operação seria feita na capital, Riad, atendendo a pressões do príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, que pressiona para que a oferta de ações seja mais acelerada. Nos últimos 10 dias, o príncipe herdeiro, o governante de fato do reino, fez uma drástica reformulação do relevante setor energético, ao afastar Khalid al Falih como ministro da Energia e presidente do conselho de administração da Aramco.
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Ele promoveu seu meio-irmão, o príncipe Abdulaziz, a ministro da Energia, ao mesmo tempo em que instalou Yasir al-Rumayyan, o diretor do fundo soberano do país e seu assessor próximo, como presidente da gigante estatal.
Planos de vender até 5% da Aramco foram anunciados, originalmente, pelo príncipe herdeiro Mohammed - que é amplamente conhecido como MBS - três anos atrás, como o ponto central de seu plano de reformar radicalmente a economia do reino e reduzir, em última instância, sua dependência em relação ao petróleo, mas eles passaram por frequentes adiamentos.
Ao abrir apenas 1% do capital da empresa, inicialmente, pessoas familiarizadas com plano dizem que o reino espera comprovar a viabilidade de uma abertura maior, que vem sendo anunciada como a maior oferta da história.
A Saudi Aramco extrai mais de 10% da oferta mundial de petróleo bruto, e é detentora da única licença para explorar os recursos energéticos do reino. Na terça-feira o executivo-chefe da Saudi Aramco, Amin Nasser, confirmou que a abertura do capital seria realizada "muito em breve" com um lançamento primário de ações em sua bolsa de origem, a Tadawul de Riad, mas enfatizou que a data exata seria decidida pelo governo.
"O lançamento primário será local, mas estamos preparados para registrar ações fora do reino", disse ele à imprensa em simpósio de energia em Abu Dhabi.
A Saudi Aramco poderá também registrar em bolsa mais uma parcela de 1% do capital em 2020, na medida em que o governo pretende captar recursos para abastecer os depauperados cofres fiscais e continuar a realizar o ambicioso programa de reformas da economia interna do príncipe.
O drástico afastamento de Khalid al-Falih como ministro da Energia e presidente do conselho de administração da Saudi Aramco foi interpretado como uma medida para acelerar a realização dos planos de IPO. Falih era respeitado em amplos círculos do setor energético, mas era visto como pouco favorável aos planos do príncipe de realizar a abertura de capital.
Altos dirigentes de bancos acreditam que um lançamento doméstico de ações, antes do fim do ano, é viável, e os maiores bancos do mundo pressionam para garantir seu envolvimento. Prevê-se em amplos círculos que o J.P. Morgan assumirá papel destacado no processo devido aos antigos laços que mantém com o reino. O Morgan Stanley, o Citi e o HSBC são encarados como favoritos a um cargo de primeiro escalão na hierarquia dos coordenadores mundiais. Os esforços de "lobby" do Goldman Sachs para conquistar uma função de destaque também poderão render frutos. Os altos executivos de bancos dizem que a Saudi Aramco deverá anunciar sua decisão em breve às instituições de crédito.
Ao abrir apenas 1% do capital inicialmente, acredita-se que a empresa também cuidará para que essa parcela não supere a demanda da parte dos investidores, disse um alto dirigente do banco familiarizado com o processo.
Mohammed que presidente a principal comissão de supervisão do processo de IPO, tem pressionado por uma avaliação da empresa em nada menos que US$ 2 trilhões, mas os altos executivos dos bancos levantaram dúvidas sobre a viabilidade de avaliar a empresa em mais de US$ 1,5 trilhão.
Nasser confirmou ontem que o governo saudita manterá o controle sobre a produção e a capacidade de produção de petróleo mesmo quando ela for parcialmente pública, o que permitirá que o ministro da Energia continue a fixar a política pública para a Aramco. A Arábia Saudita tem restringido a produção como parte do acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) com a Rússia, voltado para sustentar o preço do petróleo.
Uma abertura de capital posterior em bolsas mundiais maiores ajudará a maximizar a avaliação da Saudi Aramco, mas a ameaça de processos judiciais em comarcas como as dos Estados Unidos impediu uma iniciativa desse gênero.
Outros lugares, como Londres e Hong Kong, também foram aventados como bolsas em potencial para um lançamento secundário de ações no exterior, mas eles passam por seus próprios problemas internos, como o Brexit e a agitação política. Os altos dirigentes de bancos e autoridades minimizaram notícias sobre um potencial registro secundário de ações em Tóquio.
Nasser disse que a Aramco estava preparada para IPO em vários lugares, e que a decisão definitiva cabe ao governo.
Fonte: Valor