As exportações de insumos siderúrgicos devem atingir US$ 31,5 bilhões este ano, alta de 1,9% em relação a 2012. Essa previsão da Associação Brasileira do Comércio Exterior (AEB) reverte as expectativas do início do ano, de queda nas vendas externas do setor, e reforça o perfil exportador de commodities do Brasil. Para economistas e empresários, isso pode não ser ruim em especial se a tecnologia e os investimentos para escoar essa produção beneficiarem o desenvolvimento de outros setores da economia.
"O país tem grandes reservas minerais e quanto mais reservas mais exportaremos produtos minerais", diz o presidente da AEB, José Augusto de Castro. Em manifesto da instituição para a "reindustrialização" das exportações, recentemente divulgado, os exportadores pedem redução do custo Brasil, em especial no que diz respeito a pessoal e logística, para elevar a competitividade dos manufaturados e melhorar os resultados da balança desses produtos, que deverá fechar este ano com déficit de mais de US$ 100 bilhões.
As commodities já representam quase 60% da pauta de exportação, a mesma participação dos industrializados nas exportações há 13 anos. "O problema não é o que exportamos, mas o que não exportamos", explica Castro. O custo Brasil, ele lembra, é entrave para as exportações de manufaturados e também para as commodities. O bom desempenho nas exportações de minérios, segundo ele, só foi possível porque a Vale investiu em ferrovias e possibilitou o escoamento da mercadoria.
"Gostaríamos que houvesse outras empresas que investissem na infraestrutura, em outras áreas de commodities como a soja", afirma. Para o diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, a ideia de que agregar valor às commodities é um bom negócio é mal colocada. "O ideal evidentemente é a busca de maior agregação de valor, quanto mais transforma gera mais emprego e salário. Produzir e transformar minério, então, gera mais emprego."
A realidade, no entanto, segundo ele, não é bem essa. No setor siderúrgico há grandes players mundiais, como a China, com capacidade 20 vezes maior do que a do Brasil. Apenas a sua ociosidade é cinco vezes maior do que a produção do Brasil. "Há uma pressão da China sobre o aço que dificulta a verticalização da Vale", salienta.
Além disso, para agregar valor é preciso indústria competitiva. "Tenho de olhar a cadeia produtiva para frente e para trás. O aço agrega mais, mas se não houver indústria competitiva vou comprometer a indústria de outros setores que demandam o aço", afirma. O mais importante, para o professor, é que os investimentos em logística no setor mineral beneficiassem outros setores da economia.
Mais importante do que agregar valor é ver quanto o produto gera de renda considerando os insumos, matérias-primas e demais fatores de produção empregados, segundo o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Sérgio Giovanetti Lazzarini.
"Se vendo um iPad mas pago caro pelos insumos usados na sua produção, não vou conseguir adicionar valor", afirma. Por outro lado, explica o professor, é possível ser muito competitivo em commodities e ganhar muito com o volume exportado em relação aos fatores de produção.
Ele cita ainda dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do período de 1996 e 2009, que, segundo ele, ainda devem indicar o mesmo panorama. No período, o valor médio anual por trabalhador era de R$ 487 mil no setor de extração de minerais, crescimento de 4,28% ao ano. O setor de metalurgia, com maior valor agregado, teria adicionado R$ 246 mil, com queda anual de 0,68%.
No caso da mineração, destaca o professor, há fatores de produção bastante distintos, pouco disponíveis no mundo, como minas de ferro de alta qualidade. Por outro lado, ele lembra, qualquer país consegue montar uma siderúrgica. "Voltamos ao ponto inicial: que vantagem eu vou ter se eu vou vender um produto, o aço, que muita gente consegue produzir?"
A competição feroz, segundo ele, é justamente pelo minério, que o Brasil tem e do qual pouca gente dispõe. Para agregar valor, ele avalia, no caso das commodities, o ideal é pensar as cadeias produtivas de forma ampla. Não é necessário apenas adicionar valor para frente, processando ou industrializando mais um produto. "Eu posso adicionar para trás, isso é investindo em tecnologias, processos, maquinários, sistemas logísticos, que permitam tornar a mineração mais eficiente", conclui.
Exportar commodities é mais do que uma vocação brasileira, segundo o diretor administrativo do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais, Cristiano Monteiro Parreiras. É uma vantagem. "A venda de commodities garantiu um resultado invejável, entre 2000 e 2010, num período de turbulência global, que ajudou a equilibrar as contas externas e a promover o crescimento", afirma.
Fonte: Valor Econômico/ Salete Silva | Para o Valor, de São Paulo
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