Incertezas em relação à economia chinesa aumentaram a volatilidade nos preços das commodities metálicas e do petróleo durante agosto. O turbulento mês, contudo, trouxe valorização para o minério de ferro e para o próprio petróleo, enquanto os metais não ferrosos sofreram queda.
O próprio pregão de ontem, último do mês, escancarou a instabilidade das negociações com petróleo. A variação dos preços dos barris, de US$ 3 durante o dia, levou uma queda de 2% pela manhã para alta de mais de 8% no fim do dia. No caso do Brent, negociado na ICE de Londres, o avanço foi de 8,1%, a US$ 54,99, enquanto o WTI ganhou 8,6% em Nova York, terminando em US$ 49,93. As cotações representaram altas de 4% e 5% no acumulado do mês, respectivamente.
Mas a preocupação de investidores de que a China pode encarar um "pouso forçado" em sua economia - ou seja, de desaceleração maior que a esperada - fizeram o Brent valer US$ 44 na mínima de agosto e o WTI, US$ 38. "Para ser sincero, nós ficamos surpresos com essa queda exagerada das últimas semanas", admite Norbert Ruecker, que comanda a equipe de commodities do banco suíço Julius Baer. "O mercado futuro teve um impacto bem maior que o normal nos preços ultimamente."
A instituição, por outro lado, prevê que o barril continuará barato por um longo tempo. A perspectiva nos próximos 12 meses é de patamar próximo a US$ 55 para o Brent. A consultoria Capital Economics, em relatório, escreve que em termos de fundamentos econômicos, o que mais joga contra a recuperação é a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A entidade elevou sua produção acima de sua cota definida previamente e o analista Thomas Pugh, responsável pelo texto, aposta que a boa saúde financeira da Arábia Saudita permite que o crescimento da oferta se intensifique.
O cartel, contudo, afirmou ontem que "permanece pronto para falar com todos os produtores" para alcançar "preços justos" da commodity. "Mas somente em igualdade de condições", acrescentou. Na visão do Julius Baer, o efeito Opep sobre a cotação do petróleo é superestimada. O banco crê que a redução da capacidade nos Estados Unidos, pela exploração não convencional do xisto, e o próprio consumo do país, que "surpreendeu na ponta positiva", são os principais fundamentos para evitar uma depressão maior dos preços.
Durante o mês, a desvalorização do yuan, o aumento das taxas de juros e de depósitos compulsórios e discursos do governo chinês de que os estímulos impediriam o "pouso forçado" demoraram a conquistar os investidores - e analistas acreditam que até agora não foram suficientes, de fato. As bolsas de Xangai e Hong Kong desabaram em agosto e propiciaram um fluxo grande capital especulativo que apostou na queda das commodities.
Se no caso do petróleo a dinâmica virou no fim do período e os preços subiram, com os metais o cenário foi diferente. Os contratos de três meses do cobre, negociados na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês) caíram 2,8% no mês passado, para US$ 5.075,50 a tonelada. O alumínio recuou 3,7%, para US$ 1.564, o níquel perdeu 9,8%, para US$ 9.865, e o zinco caiu 7,1%, para US$ 1.794.
A Capital Economics opinou que a confiança nas commodities nunca, ou raramente, este tão baixa quanto nesses dias de volatilidade por conta da China. Mas cálculos da consultoria dão conta de que a parte mais relevante da desaceleração econômica da China já passou. De acordo com Leon Westgate, analista de commodities do Standard Bank, o ambiente atual de maior propensão à tomada de risco pode favorecer os metais daqui para frente.
Ao largo da instabilidade, figurou o minério de ferro. A commodity com teor de 62% negociada no porto chinês de Tianjin avançou 5,3% em agosto, para US$ 55,70 a tonelada. Uma explosão no porto teria reduzido a confiança de importadores, mas Melinda Moore, do Standard Bank, afirma que a alta foi motivada pela chegada de carregamentos menores na China. Com a dinâmica atual, o insumo valeria de US$ 50 a US$ 55, projeta.
Fonte: Valor Econômico/Por Renato Rostás | De São Paulo
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