Empresas brasileiras passaram a embalar sucos, água mineral e refrigerantes com plástico vindo do outro lado do mundo. A Ásia trouxe de países como China para o Brasil, via Mercosul, uma concorrência considerada desleal que ameaçaria a gigante italiana Mossi & Ghisolfi (M&G), grupo que tem no Estado a maior fábrica de resina PET do mundo, e a PetroquímicaSuape (PQS), da Petrobras, um investimento de R$ 6 bilhões ainda em fase de pré-operação e que teria atrasado por causa do problema. Argentina, Paraguai e Uruguai usam um benefício fiscal para comprar resina PET asiática e depois vender sua produção também isenta no Mercosul, o que seria uma distorção “desastrosa” para o polo de PET em Suape, segundo a Associação Brasileira da Indústria PET (Abipet).
Concorrência Asiática no mercado PET from Giovanni Sandes
O risco à indústria do setor é levado a sério pelo sistema brasileiro de defesa da concorrência. Em 2010, a Abipet fez uma consulta formal à Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda, para que o assunto fosse analisado pelo governo brasileiro de acordo com a Lei Antitruste. A Seae viu risco para o setor e enviou o assunto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que no próximo dia 9 vai realizar em Brasília uma audiência pública para discutir o assunto e, se for o caso, adotar medidas legais ou administrativas.
A concorrência considerada desleal é o uso, pela Argentina, Paraguai e Uruguai, de um mecanismo legal chamado drawback, que permite a indústrias de um determinado país importar matéria-prima sem impostos, com o compromisso de exportar toda a produção. A distorção é que esses países depois usam outra isenção, por participarem do Mercosul, o que retira da produção um imposto de importação que deveria ter alíquota de 18%.
Assim, fábricas brasileiras de sucos, refrigerantes e água mineral, por exemplo, importam desses países as pré-formas, pequenos tubos de plástico que parecem “tubos de ensaio”. Antes de serem preenchidas com líquidos, as pré-formas passam por máquinas chamadas sopradoras, que literalmente sopram ar muito quente para o plástico assumir a forma da embalagem final, como garrafas de 2 litros de refrigerante.
As pré-formas com plástico chinês causaram prejuízo às fábricas do mesmo produto localizadas em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De quebra também passaram a concorrer com as companhias de resina PET de Suape, principais fornecedoras brasileiras. “Tal cenário irá gerar perdas gigantescas aos investimentos já realizados na produção de resina PET em território nacional. O maior exemplo é o projeto industrial do Porto de Suape em Pernambuco”, informa parecer assinado pela GO Associados, a pedido da Abipet.
A preocupação aparece no balanço de 2012 da M&G, que inaugurou sua fábrica de Suape em 2007, hoje com capacidade para 700 mil toneladas por ano. Ela comemora ter mantido participação em um mercado em ebulição há 15 anos, mas com as brasileiras abaladas pela Ásia: “Mesmo em um ambiente em que a indústria nacional sofreu um recuo e os volumes de importações oriundas da Ásia continuam a ser uma realidade, o market share do segmento resina PET foi praticamente mantido. O mercado de resina PET ainda está em fase de crescimento no País alavancado pelo alto crescimento das classes sociais B e C, bem como pelas novas aplicações que já são realidade no País, tais como sucos, leite longa vida e etc.”
Fonte: Jornal do Commercio (PE)/Giovanni Sandes
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