Apesar de a presidente Dilma Rousseff dizer que a Petrobras "limpou o que tinha de limpar e está de pé", a primeira parte da frase ainda não é 100% realidade. Após dezenas de investigações internas e da presença de advogados externos contratados pela estatal no ano passado, a companhia ainda não "limpou" a corrupção do seu balanço, e a diretoria está se preparando para entregar as demonstrações de 2014 na última sexta-feira.
Enquanto isso, o clima na Petrobras continua desconfortável devido às investigações. Os que tiveram cargos gerenciais no período dos diretores investigados na Lava-Jato estão prestando depoimento para advogados do escritório Trench, Rossi & Watanabe, que trabalha em parceria com o americano Gibson, Dunn & Crutcher. Tablets, notebooks e celulares de dezenas de funcionários, inclusive de toda a diretoria passada, tiveram os dados copiados. Os dois escritórios conduzem uma investigação interna na Petrobras para apurar os esquemas confessados pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, pelo ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, assim como os relatos dos empresários que confessaram pagar suborno em troca de contratos.
Quando informou que o custo da investigação - incluindo suporte jurídico dos dois escritórios e a criação do Comitê Especial - deve ficar em torno de R$ 150 milhões por ano, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster disse que trabalhos desse tipo podem demorar dois anos. Os resultados da investigação interna serão apresentados à Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, que em novembro notificou a Petrobras sobre o início de uma investigação.
O Federal Bureau of Investigation (FBI), a agência federal de investigações americana, equivalente à Polícia Federal do Brasil, também já está no caso. Uma investigação criminal na esfera criminal já foi iniciada pelo Departamento de Justiça americano (Doj).
Várias ações coletivas e individuais já foram registradas por investidores naquele país contra a estatal, que pode ser condenada por violação da leis anti-corrupção americana (FCPA). Até nas reuniões do conselho de administração, segundo relato ouvido pelo Valor, o clima é policial. "Em todas as reuniões, a maior parte do tempo se ouve sobre a Lava-Jato", disse uma fonte. "Chega a ser cansativo."
Nesse clima pesado, muitos empregados preferem não falar em seus telefones. Alguns evitam até se comunicar por emails. Cerca de dez empregados prestaram depoimentos, voluntariamente, aos delegados da Polícia Federal do Paraná responsáveis pela investigações da Operação Lava-Jato. Alguns ouvidos pelo Valor notam que vários envolvidos em negócios suspeitos ainda permanecem na empresa.
Desde que as investigações começaram, empregados que já tinham tempo de serviço para se aposentar decidiram deixar a empresa. Gerentes das áreas de segurança empresarial e auditoria interna já pediram a aposentadoria. Em um ambiente como esse, não é difícil entender porque que o moral está baixo.
Muitos se ressentem do noticiário negativo sobre a companhia e da fama de que a Petrobras é uma empresa de corruptos. "Somos uma das maiores produtoras de petróleo do mundo e com um corpo técnico que qualquer companhia gostaria de ter", diz um deles.
A retomada do orgulho passa pelos trabalhos da nova diretoria de governança, que trabalha a todo vapor para aumentar os controles e evitar a repetição de esquemas que foram descobertos. Não por acaso, a divulgação do balanço de 2014 é uma das etapas mais esperadas.
Caberá à nova diretoria separar, dos R$ 88,6 bilhões em ativos expostos às empresas envolvidas na Lava-Jato, o quanto é corrupção, sobrepreço causado por ineficiências, má gestão, política de conteúdo local (que obriga a utilização de fornecedores nacionais) e custos causados, em parte, por interferências políticas.
A divulgação dos R$ 88,6 bilhões veio depois de uma exaustiva reunião do conselho de administração, onde a diretoria e representantes dos minoritários defendiam a divulgação, contrariando o entendimento do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, que presidia o conselho, e o conselheiro Sergio Quintella. Mas com a ameaça de denúncia à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o governo foi vencido. Dilma já conhecia o valor e tinha feito pressão contra a divulgação, mas a diretoria defendia que não divulgá-lo seria fraude contábil, conta uma fonte. Ele se tornou público na madrugada de 28 de janeiro, uma quarta-feira.
O fim de semana seguinte foi difícil. Os diretores, que já tinham colocado o cargo à disposição duas vezes, informaram a então presidente Graça Foster na segunda, dia 2 de fevereiro, que queriam sair. Na terça-feira, Graça e Dilma tiveram reunião difícil em Brasília. No final a mensagem foi que ela ficaria até a divulgação do balanço, mas no Rio, à noite, os diretores disseram que sairiam e que a decisão era irreversível. A renúncia de Graça e mais cinco diretores foi informada no dia 4 de fevereiro.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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