Após um ano de instabilidade na balança comercial brasileira, 2014 deve apresentar um cenário mais favorável. Há perspectiva de que a valorização do câmbio dos últimos meses impacte nos novos contratos de venda a serem firmados e ajude a reduzir o volume de importações. No entanto, o caminho até o superávit pode ser complicado.
A possibilidade de redução do crescimento da China, a instabilidade da relação com a Argentina e a tendência de queda nos preços das commodities poderão definir os rumos das transações verde e amarelas. Além disso, o prosseguimento ou não da política de estímulos econômicos dos Estados Unidos pode ser determinante. “Caso os estímulos sejam encerrados, a taxa de câmbio sobe, porque reduz a liquidez no mercado. Só que o Banco Central vai intervir para que o câmbio não aumente. O governo vai utilizar artilharia pesada, até porque será um ano eleitoral”, projeta José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O dirigente da AEB estima para 2014 um dólar na casa de R$ 2,25, com exportações atingindo US$ 239 bilhões. A tendência é de balança superavitária, na faixa de US$ 7,2 bilhões, conforme estudo divulgado pela associação. No ano passado, o Brasil finalizou novembro com déficit acumulado de US$ 89 milhões. O resultado de dezembro (ainda indisponível), porém, vai tornar a balança superavitária. “O superávit de 2013 deve ficar em US$ 700 milhões.”
Já o Rio Grande do Sul, às vésperas de uma nova supersafra de grãos, pode colher um bom resultado na balança comercial. “Não vamos ter um crescimento tão alto, porque em 2013 viemos de uma base de comparação baixa de 2012. Mas acredito que 2014 será um bom ano para as exportações gaúchas, que devem ser puxadas novamente pela soja”, enfatiza Guilherme Risco, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Um motivo para o otimismo apontado pelo economista da FEE é o dólar mais valorizado. Como a mudança de taxa ocorreu com mais velocidade em 2013, os contratos vigentes ainda não tiveram o efeito do câmbio, algo que passa a acontecer a partir de agora. “Se o câmbio se mantiver nesse patamar valorizado, isso vai ter um impacto forte nas exportações. Mas é importante que não haja oscilações fortes, pois isso gera um clima de incerteza”, pondera Guilherme Risco.
A Federação das Indústrias do Estado (Fiergs) prevê que as exportações gaúchas atingirão um patamar entre US$ 20,4 bilhões e US$ 21,9 bilhões e que as importações ficarão entre US$ 16,1 bilhões e US$ 17,7 bilhões. O desempenho seria distinto do projetado para 2013, quando as vendas internacionais vão finalizar em US$ 24 bilhões, e as compras, em US$ 16,8 bilhões. “Alguns produtos industriais começam a ser tornar viáveis para a exportação, em função do câmbio. Em relação às commodities, viemos de um ano com preços valorizados, que não devem se repetir. Por isso, devemos exportar o mesmo volume de grãos, mas obtendo um valor menor”, diz Heitor Müller, presidente da Fiergs.
Exportadores gaúchos traçam cenários distintos
Com expectativas diferentes, dois dos principais setores exportadores do Rio Grande do Sul traçam suas estratégias de comércio exterior para 2014. Os calçadistas preveem mais um ano de dificuldades, enquanto os moveleiros creem que o câmbio favorável e a renovação de benefícios do governo federal para exportação, como o programa Reintegra, podem representar um estímulo para o segmento. “Temos perspectiva de queda nas exportações em 2014. O consumo nos principais países compradores do Hemisfério Norte segue caindo, assim como a competitividade do produto brasileiro. Somado a tudo isso, estamos tendo dificuldades na entrega dos produtos para a Argentina”, explica Heitor Klein, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Segundo o dirigente, o embargo argentino resultou em um prejuízo de US$ 15 milhões em 2013.
De janeiro a outubro de 2013, as vendas internacionais renderam US$ 900,7 milhões ao País, queda de 1,2% frente ao desempenho do ano anterior. Somente as transações com a Argentina apresentaram retração de 12,1%, chegando a US$ 107,4 milhões. As vendas totais do Rio Grande do Sul atingiram US$ 319,6 milhões, diminuição de 0,2%.
Cansados da instabilidade do mercado argentino, os fabricantes de móveis gaúchos passaram a priorizar outros mercados, tendência que deve se consolidar em 2014. “Vamos esquecer a Argentina e trabalhar em mercados como Peru, Chile e Uruguai. A retomada da economia dos Estados Unidos também deve render novos contratos em 2014”, salienta Ivo Cansan, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs). Ele lembra que as exportações de 2013 devem atingir US$ 750 milhões em todo o País, com o Estado sendo o principal vendedor.
Fonte:Jornal do Commercio (POA)/Fernando Soares
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