Maior produtora da América do Sul, a Granja Mantiqueira distribui cerca de 2 bilhões de ovos a cada ano com uma frota própria de 166 caminhões. Mais da metade deles são da Volvo, 20 dos quais turbinados pelo serviço Dynafleet, plataforma de gestão dos dados de sensores instalados nos veículos e enviados por GSM para a central de atendimento na Suécia. Para o gerente de frota, Marcos Blaese, a possibilidade de acompanhar informações como o número de vezes em que o freio foi acionado pelo motorista ou as variações do tanque vai ajudar a gerir melhor itens como o consumo mensal de 600 mil litros de combustível. "O sistema pode ajudar a combater roubo de diesel", exemplifica.
O Dynafleet retrata o estágio atual da comunicação máquina a máquina (M2M), uma das tendências por trás da inovação. A Volvo tem uma unidade especializada, Wireless Car, fornecedora de serviços de conectividade para marcas de automóveis de passeio como BMW, Volvo, Audi e Land Rover, que possibilita ações como acesso a internet, e-mails, gestão do veículo, integração com smartphones para ligar o ar condicionado ou travar as portas. "Agora começa a incorporar segurança", diz Christiano Blume, responsável pela área de telemática no Brasil.
A medida é estimulada pela Resolução 245, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que obriga as montadoras a equipar veículos com rastreamento para reduzir roubos e furtos e deve entrar em vigor este ano. A regra dará gás extra ao M2M, em que o setor de rastreamento veicular é um dos mais ativos - outro é o de POS para sistemas de pagamento.
"A internet das coisas é o próximo grande espaço de comunicações. Mais de 50% das conexões da internet já não têm a interferência de uma pessoa", diz a especialista do Gartner Elia San Miguel. A capacidade de juntar informações em torno de pessoas, segundo ela, é uma das principais alavancas da inovação, estimulando aplicações relacionadas a áreas como saúde, recursos naturais, educação e entretenimento e enorme potencial de melhoria de qualidade de vida. "As telecomunicações são a tecnologia básica estruturante da inovação e a mobilidade sustenta sua expansão", acrescenta o presidente do CPqD, Hélio Graciosa.
Na área da saúde, o Hospital do Coração (HCor) acaba de realizar testes clínicos com o eletrocardiograma de bolso Nexcor, inovação brasileira nascida da parceria entre a Corcam e o Flextronics Instituto de Tecnologia (FIT). O aparelho envia dados a uma central de monitoramento, que alerta o responsável como o médico ou o resgate em caso de alterações.
"As telecomunicações ampliam o alcance da medicina", diz o diretor de ensino do HCor, Dr. Otavio Berwanger. A instituição é um dos seis Hospitais de Excelência a serviço do Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com o Ministério da Saúde, e mantém uma central de monitoria com cardiologistas de plantão para atender 400 unidades avançadas do Samu equipadas com eletrocardiogramas portáteis, cujos dados são recebidos em segundos.
A Ericsson, cujo orçamento de pesquisa e desenvolvimento chega a R$ 65 milhões anuais no Brasil, aposta em telecomunicações para desenvolver projetos nas áreas de saúde, educação, mobilidade. Já levou a banda larga para comunidades amazônicas, conectando o hospital flutuante Abaré via 3G com centros de saúde ao redor do mundo, apresentou os sistemas de aprendizado eletrônico móvel à comunidade carioca Via Cruzeiro e conectou 2,5 mil ônibus e 650 pontos de ônibus em Curitiba. "O tráfego de automóveis diminuiu 1%", diz o diretor de inovação Edvaldo Santos. Agora está apostando em conexões M2M para soluções de tráfego e em sistemas de imagens para aplicações de segurança pública.
Na educação, a rede de ensino superior Estácio apostou R$ 45 milhões para criar um modelo de ensino que tem na migração do material didático do papel para tablets um de seus pontos altos. Em um ano e meio, distribuiu 24 mil equipamentos e espera atingir mais 21 mil no segundo semestre. O próximo passo, explica a diretora de inovação Lindália Sofia Junqueira, é desenvolver estudos de big data e entender até que ponto a medida impactou o desempenho. "Hoje já observamos maior demanda e satisfação", diz. Também estão em desenvolvimento o uso da linguagem de aprendizado através de games e smartphones.
A programadora Globosat também está recorrendo a big data para entender o comportamento do consumidor frente à complexidade trazida pela internet e pela distribuição de vídeo sobre IP a múltiplos dispositivos. "Temos uma base de dados monstruosa minuto a minuto por usuário, device, horário", registra o diretor de novas mídias Gustavo Ramos. O aprendizado se reflete em estratégias com diferentes pontos de contato, como pacotes com segunda tela para complementar a experiência da TV que já atendem torcedores de futebol e estarão no ar na TVZ ainda este ano.
Outra área beneficiada pelo avanço das telecomunicações é a de energia, graças ao conceito smart grid (rede inteligente). Um dos pilotos em curso é o da distribuidora Ampla, que investiu R$ 38 milhões em Búzios (RJ), onde até dezembro serão instalados 6 mil medidores inteligentes para tarefas como leitura, ligação e interrupção de fornecimento. A cidade será conectada à sede da empresa, em Niterói, por 58 km de fibra ótica, permitindo iniciativas como o controle da intensidade da iluminação pública a distância.
Três casas ganharam micromedidores nas tomadas integrados a dispositivos celulares para monitoria do consumo de energia. Parte do projeto é financiado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). "Até 2015 será possível conhecer a viabilidade econômica e técnica para expandir a iniciativa", diz o responsável pelo projeto, Orestes Castañeda.
Fonte: Valor Econômico/ Martha Funke | Para o Valor, de São Paulo
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