A China e o Brasil são os emergentes que mais aumentaram seu endividamento desde o início da crise global em 2007, revela levantamento do Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa os maiores bancos do mundo.
Pequim lidera o aumento de dívida total (governo, famílias, empresas não financeiras), que atingiu cerca de 200% do PIB no primeiro trimestre deste ano, ante 138% no começo de 2007. O Brasil vem em seguida, com débito total de 140% do PIB, numa alta de 34 pontos percentuais no período.
Entre dez grandes emergentes, a dívida pulou de 105% do PIB no começo de 2007 para 136% no primeiro trimestre de 2013.
Para o IIF, embora o fenômeno possa ser visto em parte como expansão do setor financeiro, o fato é que maior endividamento não significa necessariamente maior crescimento econômico.
"Na verdade, alto endividamento aumenta a fragilidade dos agentes econômicos, particularmente famílias e empresas, a choques negativos como subidas inesperadas nas taxas de juros globalmente", diz em relatório enviado a seus sócios.
Em contraste com várias economias desenvolvidas que reduziram a acumulação de dividas desde 2008, nos emergentes houve uma aceleração na tomada de créditos. O nível de divida dos governos manteve-se estável, enquanto no setor privado aumentou fortemente.
O Brasil destaca-se nos dois lados. Hoje, o país tem a maior dívida pública em relação ao PIB, entre os emergentes, chegando a 68%. A India vem em seguida com 67%, a Polônia com 55% e a China com 22%.
Ao mesmo, o endividamento de empresas não financeiras brasileiras quase dobrou, de 24,8% do PIB em 2007 para 44,7% em fim de março deste ano. Foi a maior alta entre os principais emergentes. Mas a maior acumulação é na China, com o débito das empresas representando 145% do PIB.
No Brasil, as famílias contraíram dívidas que chegam a 27,4% do PIB, o quarto maior percentual, superado pela Africa do Sul (40,7%), Polônia (35%) e China (32%). A alta nos preços do setor imobiliário e robusto crescimento do crédito tiveram papel importante no endividamento das famílias.
Os níveis de débito dos emergentes em todo caso continuam inferiores aos das economias desenvolvidas.
Mas para o Rabobank, da Holanda, a dívida da China, particularmente, alcança um nível suficientemente "assustador" para se questionar se é possível, ou mesmo desejável, que seu crescimento econômico seja mantido em pelo menos 7,5% ao ano, como quer o governo.
O banco afasta o risco de crise da dívida "no momento", mas vê nas cifras uma "forte indicação". Avalia que, se não houver uma mudança de direção, "algum tipo de crise de dívida pode ocorrer nos próximos dois ou três anos", embora o governo central tenha enorme poder para combater essa ameaça.
O estudo nota que a economia chinesa quase triplicou entre o fim de 2005 e o primeiro semestre deste ano, enquanto a divida total (incluindo todos os níveis de governo, empresas, famílias e setor financeiro) aumentou seis vezes e passou de US$ 4,2 trilhões para US$ 25,3 trilhões. Isso representa 285% do PIB ante 185% no fim de 2005, incluindo o setor financeiro.
O banco comparou a alta de endividamento entre grandes economias desde o fim de 2007 em termos de Poder de Paridade de Compra (PPC), que permite uma comparação fácil e reconhece que um dólar pode comprar mais em alguns lugares do que em outros.
Nessa base, o Rabobank ilustra o recente papel da China como motor global do crédito: Pequim injetou a enorme soma de US$ 23,8 trilhões (em termos de PPC) em crédito na sua economia em apenas cinco anos e meio - cifra sem comparação com o que todas as outras economias, desenvolvidas ou emergentes, tiveram no mesmo período.
Fonte: Valor Econômico/Assis Moreira | De Genebra
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