As mineradoras estão cortando os gastos, desacelerando planos de investir bilhões de dólares em novos projetos e, em alguns casos, reduzindo a produção, num esforço para acompanhar o declínio na demanda e nos preços, enquanto enfrentam maiores custos de mão de obra.
"Não podemos simplesmente ficar sentados esperando que as coisas melhorem amanhã", disse Cynthia Carroll, diretora-presidente da Anglo American PLC, grande mineradora sediada em Londres, sexta-feira, depois que a empresa anunciou que estava cortando os gastos de capital este ano em 21%, ou US$ 1,5 bilhão.
O mesmo estão fazendo Vale SA, BHP Billiton e Barrick Gold Corp., a maior produtora mundial de ouro em volume de produção.
Murilo Ferreira, diretor-presidente da Vale, disse na semana passada que a empresa carioca, a maior produtora mundial de minério de ferro e pelotas de alto-forno, está revisando seus planos de investimento para 2012 "com base no fluxo de caixa", depois de amargar queda de quase 60% no lucro líquido no segundo trimestre. "Estamos trabalhando com um cenário de preços mais baixos do que os esperados para este ano", disse ele.
A fraca economia global está atingindo muitos metais, incluindo ouro, platina, níquel, aço e alumínio. A crise da dívida soberana na Europa está reduzindo o consumo no continente, e o crescimento econômico dos Estados Unidos continua anêmico. A China, que representa a demanda de maior crescimento para uma série de matérias-primas industriais, também está enfraquecendo.
Tudo isso contribui para baixar os preços. O Subíndice Dow Jones-UBS de Metais Industriais, que acompanha uma cesta de metais de alumínio a zinco, caiu 8% este ano, depois de perder 24% em 2011. Os futuros de carvão já caíram 11%, após um declínio de 13% no ano passado.
Os investidores temem que as quedas indiquem uma pausa - ou até mesmo o fim - do chamado "superciclo das commodities", que começou há cerca de dez anos. O superciclo tem sido impulsionado pelo apetite crescente da China e de outros países emergentes por matérias-primas, para atender ao aumento do padrão de vida de sua população.
"Cerca de metade dos investidores institucionais pararam de aplicar em recursos minerais e cíclicos", disse o consultor de investimentos americano John Tumazos.
Com os investidores se desfazendo de ações do setor, os produtores de commodities precisam procurar maneiras de proteger as margens de lucro e conservar capital para acalmar os acionistas.
Mas dar ré em grandes projetos e reduzir a produção traz riscos para a economia em geral. No curto prazo, os cortes podem frear a atividade em um dos poucos setores de bom desempenho na economia mundial, ao reduzir os investimentos em projetos de grande porte que muitas vezes criam empregos estáveis. Mais adiante também podem causar escassez de matérias-primas quando a economia melhorar, o que, por sua vez, pode gerar alta de preços.
Na semana passada a ArcelorMittal, sediada em Luxemburgo, a maior siderúrgica mundial em volume de produção, disse que nove de seus 25 alto-fornos na Europa estavam ociosos. Ontem, a Standard & Poor's cortou a nota de crédito da siderúrgica para o nível especulativo.
Este ano, a BHP fechou uma fábrica de carvão e a produtora norueguesa de alumínio Norsk Hydro ASA anunciou planos de fechar uma fundição, ambas na Austrália. Em junho a Aquarius Platinum Ltd. de Perth, na Austrália, disse que ia colocar sua mina na província de Mpumalanga, na África do Sul, "em regime de manutenção", pois os problemas de mão de obra e a queda nos preços "tornaram a mina economicamente inviável".
Investirdores estão esperando pela divulgação de balanço da BHP dia 22 de agosto, quando se espera que a companhia vá revelar detalhes de seus planos de investimento de capital, que podem incluir US$ 30 bilhões para a expansào de sua mina Olympic Dam no sul da Austrália. O projeto de cobre e urânio é considerado um dos mais importantes projetos de mineração do mundo. É capaz que a companhia o reduza, em vez de matá-lo de vez, dizem executivos da BHP.
Até mesmo as commodities de maior demanda estão enfraquecendo. As mineradoras de ouro, que se beneficiaram quando o preço do metal aumentou mais de seis vezes desde 2001, estão reduzindo os investimentos, agora que os preços estão 14% abaixo do pico de agosto, que foi um recorde histórico.
Muitas mineradoras também estão reagindo à mensagem dos investidores, que vêm puxando para baixo as ações dos produtores de commodities. Nos últimos seis meses, a anglo-australiana BHP e a Rio Tinto viram suas ações caírem cerca de 20%. O fundo Market Vectors Gold Miners ETF, que detém ações da Barrick e de mais de vinte outras mineradoras de ouro, caiu 20% este ano.
"Há um claro sinal dos acionistas para não se jogar dinheiro fora nessa série interminável de projetos", disse de Sidney Mike Elliott, diretor mundial para metais e mineração da consultora Ernst & Young.
A mineradora anglo-australiana Rio Tinto está fechando um escritório em Sidney e cortando empregos em Melbourne, segundo pessoas a par do assunto. As iniciativas não afetarão as atividades de mineração, mas são outra forma de conter custos quando a demanda diminui.
Sem dúvida, as mineradoras continuam planejando investir dezenas de bilhões de dólares nos próximos anos para garantir que possam atender à demanda futura, refletindo a convicção generalizada de que a oferta de commodities está apertada, de modo geral, e pode escassear quando a economia estiver mais forte.
Além disso, a produção de muitos materiais continua elevada em termos históricos. E os preços também: há quatro anos, o minério de ferro custava, em média, US$ 60,80 por tonelada, mas agora está na casa dos US$ 120.
Fonte: Valor / Liam Pleven e John W. Miller
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