Uma série de iniciativas está marcando o ingresso da energia solar na matriz elétrica nacional. Com presença tímida, estimada em menos de 0,5% da geração elétrica no país, a fonte deverá ganhar espaço ao longo dos próximos anos. Fabricantes de equipamentos e soluções para o setor preveem um forte crescimento das vendas nos próximos anos, seja de projetos de geração centralizada (parques solares com grande capacidade), seja de microgeração distribuída (clientes comerciais ou residenciais instalando painéis fotovoltaicos para gerar energia e obter descontos na conta de luz).
"A Alemanha, que tem quase duas Itaipus de geração solar, tem uma incidência de sol 30% pior que vários lugares do Brasil", diz Gustavo Buiatti, da Econova, cuja receita cresceu dez vezes em 12 meses, para R$ 500 mil.
A empresa, que passa por uma reestruturação, deverá atuar em todo o Brasil, com destaque para as regiões Sudeste e Centro-Oeste. "O momento está muito positivo para o setor, mas se houvesse maior conhecimento das pessoas sobre o mercado estaria ainda mais forte", diz. Neste primeiro momento, o crescimento tem sido impulsionado pela mini geração de energia elétrica, por meio da Resolução 482, publicada há um ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e que estabelece que clientes residenciais e comerciais podem instalar painéis fotovoltáicos e abater das suas contas essa microgeração. Desde o início da medida, 131 sistemas de micro e minigeração já foram ou estão sendo ligados às distribuidoras de energia, aponta recente pesquisa do Greenpeace. "O número é positivo, mas poderia ser muito maior", destaca Ricardo Baitelo, da campanha de clima e energia do Greenpeace Brasil.
Pesquisa da Market Analysis com o Greenpeace identificou sete em cada dez brasileiros sabem nada ou muito pouco sobre o tema. No entanto, 90% dos entrevistados afirmaram ter interesse em saber mais.
No início deste mês, o Instituto Ideal assumiu o projeto "50 telhados", cuja meta é instalar, no mínimo, 50 telhados solares em casas e pequenas empresas, em cada uma das 20 cidades participantes da iniciativa até 2015. A primeira cidade contemplada pela ideia foi Uberlândia (MG), que já conseguiu bater a meta de potência instalada para o ano. Com o apoio de empresas do setor, a proposta já se estendeu a Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Goiânia (GO), Natal (RN), Fortaleza (CE) e Campinas (SP). "Esse mercado residencial e de pequeno comércio tem um grande potencial", diz o presidente do instituto, Mauro Passos.
Hoje estimam-se investimentos de cerca de R$ 20 mil para instalar os painéis fotovoltáicos e um prazo de dez anos para abater esse custo. "Em Minas Gerais, um dos Estados que mais têm feito demandas de instalação à rede, a tarifa é mais elevada, chegando a R$ 0,12 por kWh, o que permite um retorno do investimento em nove a dez anos. Cabe ressaltar que o governo mineiro isentou a cobrança de ICMS, o que aumenta a atratividade", diz Buiatti, da Econova.
A energia solar está no radar da CPFL Energia, que no fim de 2012 inaugurou a usina de Tanquinho, no interior paulista, com 1,1 MWp, maior empreendimento do gênero no Brasil. "Estamos aprendendo a operar, a fazer a manutenção, para adquirir mais conhecimento sobre essa fonte", afirma o gerente de inovação, Rafael Lazzaretti.
Não é a única iniciativa na área. A empresa costura os detalhes finais de um projeto inovador que será apresentado ao mercado em 2014. Para estudar o impacto da geração distribuída em sua rede, a CPFL está analisando uma iniciativa chamada de telhados solares.
Os valores do investimento e os detalhes mais específicos ainda não foram fechados pela empresa. A ideia é que o projeto possa abranger entre 300 a 600 ligações, com clientes residenciais e comerciais. O local em que a iniciativa será implementada também ainda não está definido. "Poderemos também avaliar como funciona a microgeração desses clientes e a sua conexão com a rede."
A movimentação não está presente apenas nos pequenos consumidores. No interior de São Paulo, em Taubaté, há um projeto solar de 77 MW que foi cadastrado no leilão A-3 realizado pelo governo federal nesse segundo semestre, mas que não saiu do papel pelo preço ofertado no certame. As cotações chegaram a R$ 125 o MWh, atraentes para usinas eólicas, já que estima-se que projetos solares teriam de receber um preço bem mais alto. "O preço ainda é um obstáculo para esses parques e a sua saída do papel dependerá de sinal econômico e de um leilão exclusivo do governo federal, já que não há espaço para a fonte concorrer com a eólica", diz o secretário paulista de Energia, José Aníbal.
Em Pernambuco, o governo estadual se prepara para realizar um inédito leilão exclusivo para contratação de projetos solares, em que o preço de referência será R$ 250 o MWh. As usinas terão 18 meses para entrar em operação, prazo que pode ser estendido em outros 18 meses, dependendo do regime de conteúdo local.
O secretário-executivo de Energia do Estado, Eduardo Azevedo, está otimista em relação ao sucesso da licitação e da atração de fabricantes de equipamentos para Pernambuco. "O leilão poderá ser um catalisador", afirma o secretário.
Fonte:Valor Econômico/Roberto Rockmann | Para o Valor, de São Paulo
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