A produção global de aço bruto manteve em agosto a toada de queda que se repete mês a mês ao longo de 2015. Com o novo resultado negativo, a produção nos oito primeiros meses do ano acumula queda de 2,3%, frente a igual período do ano passado, para 1,08 bilhão de toneladas, aponta a Worldsteel Association, entidade que reúne os 65 principais fabricantes mundiais. A redução, ainda que traga alívio aos países produtores em um momento em que o consumo global não retornou os níveis anteriores à crise global de 2008, é considerada insignificante para endereçar o principal problema da indústria em anos recentes: a superoferta de aço.
Com capacidade instalada de 2,38 bilhões de toneladas e consumo aproximado de 1,66 bilhão de toneladas, a indústria siderúrgica global convive nos últimos anos com um excedente da ordem de 719 milhões de toneladas. Não restam dúvidas de que a China, que responde por metade da produção global e por 417 milhões de toneladas desse volume excedente, é o maior "vilão" nesse cenário. "E o que é pior: estão previstas capacidades adicionais de 106 milhões de toneladas no Oriente Médio, Índia e China até 2017. As consequências são as quedas dos preços dos principais produtos no mercado internacional", diz o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
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Acusada de práticas desleais no comércio internacional, a China tem como principais atores as usinas estatais ou mistas altamente subsidiadas pelo governo. A situação levou uma série de associações siderúrgicas dos principais países produtores, incluindo o Brasil, a divulgar um manifesto em junho em que alertam para a ocorrência de "um novo padrão de normalidade" no mercado de aço, "no qual todas as regiões sofrem em função de um drástico aumento das importações desleais alimentado por uma imensa sobrecapacidade. Pairando sobre isso está a China".
Uma situação que pode se tornar mais crítica. Com perspectiva de crescimento do PIB em 6,8%, este ano, e 6,3%, em 2016, a economia chinesa está em processo de desaceleração. Com menores encomendas dos setores demandantes de aço, a expectativa é que o consumo aparente chinês caia de 737 milhões de toneladas para algo em torno de 600 milhões de toneladas de aço nos próximos anos - para uma capacidade instalada de 1,2 bilhão de toneladas. O excedente se transformaria em exportação. "Não há milagre. Ou a China corta capacidade instalada ou aumenta as exportações", diz Lopes.
No caso do Brasil, em que as usinas convivem com um cenário de vendas e consumo interno com retração de dois dígitos em 2015 e em que o mercado externo surge como solução no curto prazo. os preços internacionais deprimidos retiram parte da competitividade dos exportadores. Haja vista que, no acumulado de janeiro a agosto, as vendas externas brasileiras cresceram 51,7% (em volume) e 7,9% (em valor). "O efeito China é sentido pelas usinas brasileiras no quesito preço. O principal fator de risco para o mercado externo está relacionado a como se comportará a produção e o consumo na China", diz analista da Tendências Consultoria, Felipe Beraldi. Nas importações, a desvalorização do real contribuiu para a redução de 8% nas compras de produtos siderúrgicos de janeiro a agosto.
Fonte: Valor Econômico/Felipe Datt | Para o Valor, de São Paulo