Baptista, presidente: expectativa positiva para 2017 só deve se transformar em número firme no segundo semestre
A unidade brasileira do maior grupo siderúrgico do mundo, o ArcelorMittal, tem conseguido atravessar a atual crise em situação relativamente melhor do que suas concorrentes. A terceira maior produtora de aços planos e segunda maior de aços longos do Brasil tem um volume de exportação considerável e com isso consegue operar próxima à capacidade plena, o que ajuda na diluição de custos fixos.
Em entrevista ao Valor, Benjamin Baptista, presidente da ArcelorMittal Brasil, disse que, mesmo assim, a demanda contida é relevante para suas operações. O executivo vê possibilidade de que a expectativa positiva para 2017 se transforme em números concretos mais para a segunda metade do ano. Por enquanto, no primeiro semestre, assim como outras siderúrgicas e companhias de outros setores, há previsão de estabilidade frente ao fim do ano passado.
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"A perda do mercado de aço foi muito expressiva nos últimos anos", disse o executivo. "Agora, conforme a economia for se ajeitando, acreditamos que o consumo terá bom crescimento."
No ano passado, segundo balanço publicado recentemente, a ArcelorMittal Brasil conseguiu reverter o prejuízo de 2015 e contabilizar lucro líquido atribuível a controladores de R$ 696,9 milhões. Ao mesmo tempo, a receita líquida da companhia caiu 22,5%, para R$ 17,24 bilhões.
Grande parte dessa piora de faturamento, explicou Baptista, se deveu às operações na Venezuela, além do mercado encolhido no Brasil. Ele ressaltou que a mudança da taxa de câmbio do bolívar considerada na contabilidade para registrar os números da divisão mudou consideravelmente, diminuindo os valores consolidados no balanço.
Mas o efeito crise brasileira, que derrubou o consumo aparente - nacionais e importados - de aço em 35% desde o fim de 2013, é mitigado pelo bom desempenho da ArcelorMittal no exterior. O grupo como um todo tem um entendimento de realizar vendas intercompanhias, o que ajudou a garantir a procura pelo aço da unidade brasileira. A usina de Tubarão, no Espírito Santo, por exemplo, vende 65% do que fabrica no exterior. Entre planos e longos, a proporção de exportados é de 52%.
"Conseguimos surfar nessa crise principalmente porque exportamos. Nós temos um esquema de logística muito bom, ao lado do porto, com custo baixo", explicou o executivo. "Por isso, grande parte do nosso parque produtivo opera com capacidade quase cheia. Os ajustes que estamos tendo de fazer nesse sentido são em aciarias elétricas, para o segmento de aços longos."
Mas, além da própria diluição "natural" de custos fixos por conta da baixa, ou quase nula, ociosidade, Baptista admite que também são necessárias melhorias operacionais. Por conta disso, por exemplo, o trabalho de manutenção preventiva se intensificou nos últimos anos, o que vem reduzindo despesas.
No ano passado, os custos da ArcelorMittal Brasil encolheram em 22,3%, para R$ 14,5 bilhões. As despesas com vendas caíram 43,4%, para R$ 494,8 milhões, e as gerais e administrativas recuaram 49,7%, para R$ 343,7 milhões.
Sobre preços, a mensagem de Baptista é mais criptografada. O presidente da subsidiária brasileira do grupo prefere não se comprometer com projeções formais, mas acenou com dificuldade de aumentos no cenário atual. "Todos vão tentar, de uma forma ou outra, repassar custos. Mas temos a valorização recente do real, temos que observar", afirma. Nas últimas semanas, a cotação internacional do aço vem caindo, o que também pressiona os preços internos. "A tendência geral é mais de estabilizar e até reduzir, mas é difícil prever", diz.
Fonte: Valor