As exportações brasileiras de carnes para Cuba experimentaram seu melhor momento no ano passado, alcançando recordes tanto em valor quanto em volume. Segundo Tatiana Palermo, secretária de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as vendas mais do que dobraram entre 2014 e 2015, avançando de US$ 60,281 milhões para US$ 127,352 milhões, num salto de 111,3%. Esses valores corresponderam ao embarque de 56,1 mil toneladas em 2014 e praticamente 110,5 mil toneladas no ano passado, alta de 97%.
O forte crescimento, comenta Tatiana, foi puxado principalmente pelas vendas de frango, mas houve reação igualmente nos negócios envolvendo a carne bovina, embora em dimensão menor. No caso da carne de frango, responsável por 86,4% do total exportado pela indústria brasileira de carnes para a ilha, as exportações quase triplicaram, num aumento de 193,5% em valor, saindo de somente US$ 37,471 milhões para US$ 109,979 milhões.
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Foram despachadas em torno de 99,7 mil toneladas de carne de frango, representando uma elevação de 164%, o que parece refletir alguma variação no preço médio de venda ou uma mudança no mix de produtos exportados, com inclusão de cortes de maior valor.
O movimento mais intenso de embarques, no entanto, prossegue Tatiana, “representou uma substituição das importações provenientes dos Estados Unidos para Cuba, pelo produto proveniente do Brasil”. A queda nas importações dos EUA, motivada pela ocorrência de influenza aviária nas granjas americanas, avalia a secretária, correspondeu a um incremento similar nas exportações brasileiras de frango para aquele mercado, variando ao redor de US$ 70 milhões.
A questão sanitária, que levou Cuba a escolher novos fornecedores, contribui para a maior aproximação com a ilha, avalia o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. “Os EUA tiveram, além da gripe aviária, problemas com disenteria suína. Mas, neste caso, nossas exportações para Cuba continuam baixas, em torno de 300 a 500 toneladas por ano.”
Mas Turra lembra que se nota uma preocupação dos cubanos com o abastecimento de carne suína, tanto que o país tem habilitado novas plantas no Brasil para exportação. “Aurora, as cooperativas Copavel, Xanxerê, Cotrijuí e Frimesa, os grupos JBS e BRF, além da Globoaves, NaturalPork, Palmali, Pamplona e Pif Paf estão habilitados, têm interesse em exportar e alguns já exportaram no passado e podem retomar os embarques”, indica Turra.
O histórico entre os dois países, acrescenta o presidente da ABPA, mostra uma exportação média em torno de 35 mil a 40 mil toneladas de carne de frango por ano a partir de 2010, com receitas flutuando ao redor de US$ 33 milhões a pouco mais de US$ 40 milhões. Com o vigoroso aumento realizado no ano passado, as exportações nesta área passaram a acumular uma alta de 481% desde 2006, quando ainda se limitavam a US$ 18,928 milhões, com embarques de 31,3 mil toneladas.
Não se espera que o volume de negócios volte a dobrar em 2016, mas Turra acredita que deve ser mantido algum crescimento, “dentro das possibilidades do mercado cubano”. A aproximação maior entre Brasil e Cuba, acrescenta ele, pode ajudar nesse processo. Até o final de março, segundo Turra, espera-se a chegada ao Brasil da primeira missão cubana deste ano. “O país trabalha com o sistema de lista geral nas importações e, portanto, quem tiver interesse poderá se habilitar. Eles estão dispostos a visitar estabelecimentos e a conversar”, afirma Turra.
A despeito dos esforços e dos avanços registrados, o fato é que a participação do mercado cubano como destino das exportações totais da indústria brasileira de carnes mantém-se ainda bastante acanhada. A despeito de todo o incremento realizado no ano passado, a fatia cubana nas vendas do setor continuava limitada a 0,86% no valor exportado, somando 1,71% em volume.
A Avivar Alimentos, que abate 180 mil aves por dia na unidade instalada em São Sebastião do Oeste, em Minas Gerais, foi habilitada para exportar para Cuba no final do ano passado, mas ainda não iniciou as operações.
“Fizemos contatos com a Câmara de Comércio de Cuba, sem resultados concretos até o momento. Desde que exista demanda, temos interesse em exportar para o mercado cubano”, afirma Humberto Rocha, assistente de mercado externo do frigorífico. Por enquanto, as exportações mensais da Avivar, iniciadas em junho de 2014, ainda correspondem a metade da produção de um dia, estima Rocha, com destino a Hong Kong, Haiti, Guiné Equatorial e Serra Leoa.
Fonte: Valor Econômico/Lauro Veiga Filho | Para o Valor, de Goiânia