Um negócio que pode render até US$ 800 milhões para a Vale ameaça gerar uma disputa entre quatro pesos pesados da indústria mundial de alumínio: Alcoa, Rio Tinto Alcan, BHP Billiton e Norsk Hydro. O caso em questão é a venda de 40% do capital da Mineração Rio do Norte, que é uma produtora de bauxita, minério utilizado na fabricação do metal alumínio.
A Vale já manifestou o desejo de se desfazer dos 40% que detém na MRN, que é uma das maiores mineradoras de bauxita do mundo. Isso inclui a venda do bloco de ações (22%) que a empresa tem da Norsk Hydro.
A Vale decidiu deixar o setor em 2010, justificando que não dispunha de escala global para atuar de forma competitiva no setor de alumínio. Vendeu para a Hydro a quase totalidade de seus ativos de mineração, alumina e alumínio no país. Manteve em seu poder a participação na MRN e uma fatia minoritária na Paragominas, que também extrai e processa bauxita.
A Hydro é a principal interessada na aquisição da fatia da Vale na MRN, pois necessita de uma grande parcela da sua bauxita para garantir o suprimento da matéria-prima para suas fábricas de alumina e alumínio no Brasil e no exterior. Um acordo comercial permitiu que adquirisse todo o "take" de produto da Vale na MRN. Todavia, com a venda das ações da Vale na empresa isso muda de figura.
A MRN, com capacidade anual de fazer 18 milhões de toneladas de bauxita por ano é um consórcio produtor formado nos anos 70 com o objetivo de abastecer grandes empresas fabricantes de alumínio com a matéria-prima. Teve sempre a Vale como líder. Suas jazidas do minério, ainda com vida útil de 35 anos, e as operações estão situadas na região do rio Trombetas, em Oriximiná (norte do Pará). Os 100% da empresa são avaliados em pelo menos US$ 2 bilhões.
Há dois problemas a serem vencidos para viabilizar o negócio, segundo apurou o Valor. Um deles é que a Hydro, que hoje tem 5% da MRN, propõe comprar toda a parte da Vale, porém não quer que os demais sócios exerçam seus direitos de preferência. O receio é que, após a Vale fazer sua proposta de preço, um dos demais sócios apresente um valor superior para ficar com as ações e encareça o negócio.
Esse parece ser um desafio difícil a ser superado e vai depender, segundo uma fonte a par do assunto, muito do preço que a Vale fixar para sua participação. Outro ponto que preocupa: entrada na disputa de alguém de fora do consórcio, como os chineses, a russa Rusal, a Dubal-Mubadala ou uma trading, como a Glencore. Todos têm déficit de matéria-prima para suas fábricas, obrigados a recorrer ao mercado de alumina.
Há ainda outro complicador: é necessário um acordo de 100% dos donos de ações ordinárias da MRN para que se possa transferir a maioria do capital da empresa a grupos estrangeiros. Isso está estabelecido no seu estatuto. O controle nacional da MRN foi até agora garantido com os 40% de ações ON da Vale mais os 10% da Votorantim Metais-CBA.
Em tese, os grupos Alcoa, com 18,2%, BHP Billiton, 14,8%, e Rio Tinto, 12%, não precisariam aumentar suas participações na mineradora. As três companhias dispõem de outras fontes de bauxita que lhes garantem conforto, ao contrário da Hydro. A Alcoa, por exemplo, tem no Pará a mina Juruti, com capacidade para gerar o triplo das 4 milhões de toneladas que faz atualmente.
Porém, segundo fontes do setor, ter o domínio da produção de bauxita, bem como da alumina, produto da fase seguinte dessa indústria, é questão estratégica na competição global. E assegurar uma fonte de matéria-prima é fator de competitividade no mercado.
A Hydro precisa dos 45% de produção da MRN (sua parte e a da Vale) para complementar a produção da Paragominas e assim poder suprir com bauxita a refinaria de alumina Alunorte, que faz 6,3 milhões de toneladas e fica no Pará. Do total da bauxita consumida pela Alunorte, 40% vem da MRN e 60% da Paragominas. No futuro, vai precisar de mais minério, pois planeja tirar do papel a CAP (projeto ao lado da Alunorte), que poderá fazer até 7,8 milhões de toneladas de alumina ao ano. Mesmo com a expansão de Paragominas.
Alcoa, BHP e Rio Tinto até podem abrir concessões e fazer um arranjo que atenda, pelo menos em parte, o pleito da Hydro para ficar com a parte da Vale. Mas isso requer um acordo entre todos os acionistas da MRN para tirar o quesito "maioria de capital nacional" do seu estatuto.
O Valor apurou que a Votorantim não tem interesse em ampliar sua fatia de 10% na MRN para assegurar mais bauxita. A prioridade será desenvolver o próprio projeto de bauxita/alumina em Rondon, no Pará. Mas não está claro se está de acordo que a MRN passe ao controle de grupos estrangeiros, que são seus concorrentes.
No caso da negociação dos 40% da Vale envolver alguém de fora, especialmente grupos chineses e tradings, a indicação é que todos Alcoa, Rio Tinto, BHP e Hydro vão fazer um esforço para barrar a entrada de forasteiros.
Procurada, a Vale informou que não iria comentar o assunto nem informou se já fez uma proposta efetiva à Hydro. Todos os demais integrantes da MRN também não quiseram se manifestar, alegando que ainda não foram formalmente notificados pela Vale do processo de venda.
Em 2012, com venda de 17,1 milhões de toneladas de bauxita, a MRN teve receita líquida de R$ 946 milhões (US$ 463 milhões), com lucro líquido de US$ 49 milhões e resultado operacional (Ebitda) de 163 milhões. A produção, comercializada a preço de mercado, é retirada proporcionalmente pelos acionistas. Do total das vendas, 46,4% foi exportado, com geração de US$ 215 milhões em divisas ao país. A empresa tem 1.330 empregados. (Colaborou Olivia Alonso)
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
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