A Arábia Saudita fez uma reprimenda pública contra os países produtores de petróleo que têm descumprido as promessas de corte na produção e avisou que desprezar os termos do acordo coletivo afeta o grupo como um todo.
“[Já] se tentou muitas vezes no passado usar táticas de produzir a mais e esconder o descumprimento, e [isso] sempre acaba fracassando”, disse o príncipe Abdulaziz bin Salman, ministro de Energia da Arábia Saudita, país que na prática é o líder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). “Eles não conseguem nada e afetam nossa reputação e credibilidade.”
PUBLICIDADE
“Falsas promessas não apenas desacreditam os que as fazem, mas também enfraquecem nosso objetivo coletivo [...] ser transparentes com o mercado e com este grupo sobre a produção e a respeito do cumprimento sempre é compensador”, disse antes do encontro virtual marcado para esta quinta-feira entre autoridades do setor petrolífero que vão monitorar os cortes de produção acertados em abril para contrabalançar a queda na demanda em razão do coronavírus.
Embora não tenha citado nomes em particular, Abdulaziz fez as declarações enquanto estava sentado próximo a Suhail Al Mazrouei, ministro da Energia, dos Emirados Árabes Unidos, um dos países que vêm produzindo centenas de milhares de barris de petróleo a mais do que o prometido nos últimos meses.
Mazrouei viajou a Riad para uma reunião com seu par saudita. Abdulaziz tem ficado enfurecido com as ações do país, um aliado tradicional da Arábia Saudita no Golfo Pérsico, segundo fontes.
“Mesmo com nossos esforços coletivos sem precedentes, quaisquer ações ou comunicados que coloquem em dúvida nosso comprometimento e determinação enviam a sinalização errada e corroem a estabilidade do mercado”, disse Abdulaziz.
Arábia Saudita, Rússia e outros países produtores aliados que integram o grupo conhecido como Opep+ acertaram em abril cortes de 9,7 milhões de barris por dia na produção a partir de maio. Desde então, esses cortes foram reduzidos para 7,7 milhões de barris diários, como parte de uma retomada gradual.
Os cortes ajudaram os preços a recuperar-se do patamar registrado em abril, de menos de US$ 20 por barril. Os preços, contudo, não passaram da faixa dos US$ 40 por barril, dadas as crescentes incertezas quanto ao futuro da demanda em meio ao frequente ressurgimento de surtos do coronavírus e das novas medidas para coibir sua disseminação.
A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula que a produção dos Emirados Árabes Unidos em julho superou em 420 mil barris diários sua cota de 2,45 milhões de barris. Em agosto, a cota dos Emirados Árabes Unidos foi elevada para 2,59 milhões de barris por dia e a produção real voltou a subir, superando o acertado em 520 mil barris.
O mercado petrolífero começou a ser dominado por especulações sobre as possíveis motivações dos Emirados Árabes Unidos para produzir acima da cota, ainda mais porque atualmente a tecnologia dos satélites permite rastrear os petroleiros, as exportações e o petróleo armazenado.
Os Emirados Árabes Unidos contestam os números da AIE. Embora o país admita ter produzido mais do que deveria nos últimos meses, ressalta que compensará essa produção extra.
As medidas para coibir a disseminação do coronavírus no país têm feito a população ficar em casa nos meses do verão, segundo o governo, o que fez a demanda por eletricidade superar as previsões e exigiu uma maior produção de petróleo.
A Arábia Saudita tem pressionado os países que produzem além da cota, entre os quais também estão a Nigéria e o Iraque, a compensar isso por meio de cortes extras.
“Promessas reiteradas que não são cumpridas no momento oportuno podem ter impacto temporário positivo e, quando [realmente] não são efetivadas, podem rebotar e trazer problemas a todos. Não se pode enganar o mercado continuamente”, disse Abdulaziz.
Fonte: Valor