A situação de uma das principais siderúrgicas do país virou assunto de governo em Minas Gerais. O governador Fernando Pimentel (PT) tem procurado mediar pessoalmente um entendimento entre os dois maiores acionistas da Usiminas, o grupo italiano Terniun - Techint e a japonesa Nippon Steel & Sumitomo. Todavia, até agora, seu esforço deu em nada.
O governo fala na necessidade de uma reestruturação da gestão e financeira e avalia que os japoneses - que há mais de um ano comandam efetivamente a empresa -- estão subestimando a gravidade do momento por que passa a empresa, disse ao Valor Marco Antônio Castello Branco, presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) e ex-presidente da Usiminas.
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O temor é que a empresa seja forçada a iniciar uma onda de demissões em massa em Ipatinga (MG), no chamado Vale do Aço, como fez em Cubatão (SP), e que acabe entrando num processo de recuperação judicial. Perder uma empresa do porte da Usiminas seria um grande golpe para a economia de Minas, que, além de sentir os efeitos da retração do país, já convive com a possibilidade de que outra grande companhia mineira, a mineradora Samarco, feche suas portas em definitivo.
"Desde que assumiu, o governador tem tido contatos regulares com os sócios da Usiminas, os grupos Techint e Nippon", disse Castello Branco. O objetivo é tentar um acordo que "possa levar os acionistas a preservarem a empresa, empregados, fornecedores e clientes". Ele diz que o Estado tem poucos instrumentos na mão para agir no caso. "É um esforço muito ligado a tentar mediar, mas todas as tentativas têm sido infrutíferas."
Castello Branco disse que já houve várias reuniões de Pimentel com Paolo Rocca, herdeiro e principal nome do grupo Techint e Paolo Basseti, que está à frente da Ternium no Brasil; com Eiji Hashimoto e Yoichi Furuta, da Nippon, e com o presidente da Usiminas.
A empresa divulga quinta-feira seus números do último trimestre e de 2015. Ela vem acumulando resultados operacionais fracos e alto endividamento. O excesso de oferta de aço no mundo associado à retração da demanda doméstica são dois dos fatores que prejudicam o setor. Mas a crise foi agravada na siderúrgica com a desavença entre os sócios sobre a gestão da empresa, que vinha desde 2013. No fim de 2014, se agravou com o afastamento, pelo conselho de administração, do presidente e dois vice-presidentes ligados à Ternium. A briga foi para os tribunais e CVM, sem reversão das destituições.
"A Nippon não tem feito com que a Usiminas tenha uma desempenho comparável com outras siderúrgicas. Todo o setor passa por problemas, mas nenhuma delas chegou à situação da Usiminas. Há um problema estrutural de gestão", disse Castello Branco, que presidiu a empresa de 2008 a 2010 e deixou o cargo sem apoio dos acionistas da época e empregados, tendo a gestão questionada.
Ele diz que o governo tenta aprofundar o diálogo mais com os japoneses, por estarem na direção da empresa. E que Pimentel não toma parte entre os sócios, mas que a visão no governo é que a situação da companhia pode não estar sendo avaliada corretamente pela Nippon. "Sentimos que há subestimação por parte da Nippon. É preciso haver um plano de recuperação crível, com refinanciamento de dívida e aporte de capital".
Fonte: Valor Econômico/Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte