As sete principais siderúrgicas do mundo que já apresentaram seus resultados de 2015 tiveram uma perda de US$ 10 bilhões em seus resultados - saindo de lucro para prejuízo. O Valor levantou os dados das companhias e o prejuízo conjunto atingiu US$ 5,95 bilhões, ante lucro de US$ 4,1 bilhões um ano antes.
Além disso, a receita líquida agregada ficou em US$ 269 bilhões, queda de 19%. Essas mesmas empresas tiveram lucro operacional - no caso, antes de outras receitas ou despesas extraordinárias - de US$ 3,4 bilhões, forte recuo de 78,5%.
PUBLICIDADE
Os grupos são: ArcelorMittal, maior produtora mundial de aço, Nippon Steel & Sumitomo Metal, a segunda colocada no ranking, Posco (5ª), JFE (9ª), Tata Steel (11ª), Nucor (13ª) e ThyssenKrupp (19ª). Para efeito de comparação, a brasileira melhor colocada na lista é a gaúcha Gerdau, que ocupa o 16º lugar. Para a Thyssen e as asiáticas, foram considerados os balanços de seus períodos fiscais de janeiro a dezembro de 2014 e 2015. Nenhuma siderúrgica chinesa de relevância apresentou seus números e por isso não foram incluídas.
Todas as companhias citaram nos relatórios anuais a influência da China nesse quadro deteriorado do setor ao redor do mundo. O mercado global vive um excesso de capacidade de aço e calcula-se que mais de 400 milhões de toneladas venham apenas das produtoras chinesas. A China respondeu por 49,5% da fabricação internacional no ano passado, com 803,8 milhões de toneladas de aço bruto.
Essa onda do produto chinês tirou mercado das fornecedoras locais, derrubou os preços de referência da siderurgia e minou os ganhos das empresas no mundo. Mas o pior resultado de todas foi exatamente o da maior delas, a ArcelorMittal: prejuízo de US$ 7,95 bilhões. A perda não foi só operacional para a companhia sediada em Luxemburgo. Só de baixas contábeis relacionadas à expectativa pior de preço do aço e à área de mineração, foram US$ 6,2 bilhões de efeito negativo, informou a empresa no balanço.
"Está claro que a China tem o desafio de reestruturar sua indústria siderúrgica para atender a uma economia de crescimento mais lento, mas estamos encorajados pelos comentários de fechamento de capacidade [no país], disse Lakshmi Mittal, presidente do grupo, em nota. Não fossem os chamados "impairments", ainda assim o cenário deteriorado traria prejuízo de US$ 1,7 bilhão à Arcelor.
No relatório da administração, a Nippon Steel ainda cita a depressão do mercado de petróleo como um dos motivos não só para a queda nas vendas e nos resultados de 2015, como para que haja perspectivas piores para este ano. A fim de tentar salvar sua rentabilidade, o grupo japonês já anunciou que vai aportar recursos em sua parceira francesa Vallourec e aumentar a participação na fabricante de tubos.
Mas se os produtos chineses ajudaram a derrubar os preços e, portanto, a geração de receitas das siderúrgicas, as vendas não foram tão afetadas. As sete companhias citadas comercializaram 246,4 milhões de toneladas de aço bruto no ano passado, recuo de 1,9%. As empresas também citaram mercado ainda com boa tendência de demanda, como o automotivo e o de construção nos Estados Unidos.
A consultoria Capital Economics também lembra que o ano pode ser de queda nas exportações chinesas, tanto pela necessidade de obras de infraestrutura no país serem completadas como por conta dos processos de defesa comercial iniciados em vários outros mercados, contra a China. "Acreditamos que a produção chinesa vá declinar, em meio à crescente pressão do governo para redução da capacidade", afirma a instituição.
O alívio, entretanto, pode não ser suficiente. Se as previsões da maior fabricante de aço do mundo são algum indicativo de tendência para o setor, a situação não deve melhorar. A empresa estima queda de 13,5% em seu Ebitda e não considera nenhum potencial de melhora para o mercado siderúrgico - nem em preços, nem em economia nos gastos com matéria-prima.
Fonte: Valor Econômico/De São Paulo