Os Estados Unidos estão cumprindo as condições para reconquistar sua posição de potência industrial mundial, apesar dos indícios dos meses recentes de que a recuperação está perdendo impulso, afirma um estudo publicado na sexta-feira.
A recuperação está sendo puxada por vários fatores, como custos mais baixos de energia, a vigência de gastos maiores com mão de obra em países concorrentes como a China e o grande potencial dos portos americanos de usar capacidade ociosa para aumentar as exportações, segundo relatório do Bolston Consulting Group (BCG).
Em vista disso, os EUA têm potencial para aumentar as exportações de produtos em até US$ 130 bilhões até 2020, incorporando, no processo, mais 5 milhões de postos de trabalho à economia.
Os consultores estimam que, em decorrência das mudanças estruturais, os EUA terão, até 2015, competitividade de custo de 5% a 25% maior nas exportações de produtos manufaturados, comparativamente a países como Alemanha, Japão e Reino Unido. Em especial, a perda de competitividade de custo sofrida pelos EUA em comparação com a China está começando a cair.
Em 2010, o custo de fabricar US$ 1 em produtos numa indústria chinesa era, em média, 12% inferior ao custo equivalente nos EUA. Mas até 2015 a discrepância de custos se reduzirá a 7%, segundo a consultoria.
Hal Sirkin, especialista em indústria de transformação do BCG, observou: "Está ocorrendo uma série de mudanças estruturais na economia dos EUA que dará impulso à indústria de transformação, apesar de algumas delas ainda não terem aparecido nos dados [de produção]".
As descobertas geraram ceticismo entre alguns analistas econômicos, especialmente à luz da fragilidade dos dados de produção das fábricas nos últimos meses. No ano passado, os EUA perderam sua condição de maior fabricante mundial de produtos manufaturados em favor da China. Foi a primeira vez em mais de cem anos que país deixou de ocupar o posto.
O professor Gary Pisano, da Faculdade de Administração de Empresas de Harvard, disse: "Ainda não vejo os indícios de que esteja de fato ocorrendo o tipo de transformação no comportamento [das empresas, que possa representar uma prolongada recuperação da indústria de transformação]".
Alan Tonelson, do US Business and Industry Council, um grupo de lobby pelo livre mercado, disse que as conclusões otimistas do BCG não levaram em consideração os "incentivos mais elevados" que os países concorrentes tendem a oferecer às suas empresas domésticas a fim de impulsionar a produção industrial. "É pouco provável que países como a China fiquem de braços cruzados se os Estados Unidos de fato melhorarem na produção industrial", disse Tonelson.
Há, além disso, sinais de que o nível de atividade industrial está começando a cair nos Estados Unidos, depois do período de solidez de 2010 e 2011, quando a indústria de transformação abriu mais de 400 mil novas vagas, compensando, assim, em parte, algumas das maciças reduções de nível de emprego observadas durante a crise da economia de 2008 e 2009.
Em agosto o índice industrial do Instituto de Administração do Abastecimento (ISM, nas iniciais em inglês) mostrou seu terceiro mês consecutivo de fragilidade, quando o setor fechou 15 mil postos de trabalho.
Mesmo assim, as ideias do relatório do BCG são corroboradas por uma série de grandes empresas do setor de produção, como a General Electric e a Toyota, que estão expandindo seus investimentos nos Estados Unidos, em parte visando aumentar as exportações.
Os anúncios levaram alguns a compartilhar a opinião dos consultores de que os Estados Unidos poderão estar às vésperas de uma tendência de "reinternalização", pela qual parte da produção manufatureira perdida voltaria gradualmente ao país.
O assessor econômico George Magnus, do UBS, disse: "Estou bastante convencido pela substância dos argumentos [do BCG] de que o pêndulo [da manufatura] começa a voltar a se inclinar em favor dos EUA, afastando-se de países como a China".
A fabricante de equipamentos de irrigação ET Water, da Califórnia, repatriou a produção industrial da China para os EUA no ano passado.
Fonte: Financial Times / Peter Marsh
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