Analistas divergem sobre o efeito que a guerra comercial entre China e Estados Unidos terá sobre a economia brasileira. Para alguns, a escalada tarifária vai resultar em desaceleração da demanda chinesa e, consequentemente, do crescimento mundial.
Assim, haverá queda dos preços das commodities, que afeta em cheio o Brasil, cuja pauta de exportação é dominada pelas matérias primas.
PUBLICIDADE
Para outros, no entanto, o efeito para o Brasil será principalmente positivo, porque o país poderá aumentar suas exportações, principalmente para a China.
Somando as rodadas de sobretaxas, US$ 250 bilhões (R$ 1,03 trilhão) de um total de US$ 505 bilhões (R$ 2,08 trilhões) de exportações chinesas para os EUA passaram a ser sobretaxadas e US$ 110 bilhões (R$ 454 bilhões), de um total de US$ 130 bilhões de exportações chinesas para os EUA foram afetadas. O presidente americano, Donald Trump, ameaça taxar mais US$ US$ 267 bilhões (R$ 1,1 trilhão), o que, na prática, significaria que todas as exportações chinesas para os EUA passariam a ser alvo de sobretaxa.
O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Roberto Azevedo, expressou preocupação com o plano do presidente americano. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse que os chineses responderiam conforme o necessário no caso de uma guerra comercial com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que alertou que tal guerra só prejudicaria todos os lados -
O então ministro da Fazenda do Brasil, Henrique Meirelles, criticou a decisão do governo americano de impor tarifas sobre o aço e o alumínio importados, dizendo que o protecionismo é negativo e prejudicaria inclusive a indústria americana. ?É negativo para todos os envolvidos e nós somos contra isso. A União Europeia montou um esforço para impedir que o presidente dos EUA imposse as tarifas, prometendo uma resposta firme e alertando quanto aos grandes danos que poderiam ser causados por uma guerra comercial transatlântica - Em resposta à tarifa da Casa Branca quanto ao aço, a União Europeia vai adotar medidas punitivas contra US$ 3,5 bilhões em produtos norte-americanos, entre os quais motocicletas Harley-Davidson, jeans Levi Strauss e bourbon - Em uma tréplica, o presidente americano ameaçou as montadoras europeias com uma tarifa sobre importações se a União Europeia retaliar contra seu plano de adotar tarifas sobre alumínio e aço - Além disso, após anunciar as medidas, o presidente americano Donald Trump afirmou no começo de março que só reconsideraria retirar a sobretaxa dos produtos do Canadá e do México diante de um novo acordo comercial entre as Américas, o Nafta -
Dias depois de anunciar as tarifas, dando um pontapé a guerra comercial global, o governo dos EUA preparou novas barreiras - mais uma vez contra a China - O objetivo é mirar em um suposto roubo de propriedade intelectual americana, com medidas que incluiriam, além de tarifas, a redução de vistos a pesquisadores chineses, restrições a investimentos do país asiático nos EUA e ações na OMC, segundo o ?The New York Times? - Na ação mais significativa de seu governo contra o poderio econômico da China, o presidente Trump decidiu, então, impor tarifas sobre US$ 60 bilhões em produtos chineses. O montante correspondia a cerca de 10% das exportações chinesas para os EUA -
Em março, o presidente Trump afirmou que seu governo iria impor tarifas de importação para aço e alumínio de 25% e 10%, respectivamente. A ação afetou não apenas a China, como a União Europeia e também o Brasil - Leah Millis/REUTERS
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), é inevitável que os efeitos da guerra comercial entre China e Estados Unidos sejam negativos para o Brasil.
“A economia vai desacelerar, os preços das commodities vão cair, e 65% do que o Brasil exporta são produtos básicos”, diz Castro.
Para ele, eventuais ganhos seriam transitórios. É o caso da soja. Os EUA fornecem US$ 14 bilhões (R$ 57,8 bilhões) em soja para a China, e o grão passou a ser sobretaxado. Com isso, a soja brasileira passou a receber um prêmio, diante da provável limitação de fornecimento americano.
“Mas a cotação da soja está em queda de 20% desde junho e, no ano que vem, com a supersafra americana, deve cair ainda mais; então o prêmio vai apenas compensar a queda na cotação”, diz Castro.
Para o professor de Economia do Insper Otto Nogami este é o momento em que o governo brasileiro deveria estar negociando com os chineses para remover barreiras tarifárias e abrir mercado.
Fonte: Folha SP