De janeiro a setembro deste ano um total de 34,7 mil empresas brasileiras realizaram importações. O número é praticamente o dobro da quantidade de empresas - 17,7 mil - que exportaram no mesmo período, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Mantendo o ritmo, o número de importadores deste ano deve superar o de 1997, quando, embalado por um dólar a R$ 1,08, o país chegou a ter 37,9 mil empresas comprando mercadorias do exterior. Naquele ano, o país teve 13,9 mil exportadores.
"O quadro mostra o quanto o importado agora faz parte do cardápio comum de bens em oferta. Nesse ritmo devemos terminar 2010 com 38 mil a 39 mil importadores", acredita José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A ampliação da distância entre a quantidade de importadores e exportadores é resultado de uma tendência iniciada em 2005 e acentuada a partir de 2008, quando a quantidade de empresas que vendem ao exterior caiu 2,5% em relação ao ano anterior. Ao mesmo tempo, o número de importadores vem aumentando ano a ano. De janeiro a setembro de 2010 o volume de importadores aumentou em 56,7% em relação aos primeiros nove meses de 2006. No mesmo período a quantidade de exportadores caiu 5,6%.
Castro acredita que o câmbio explica boa parte desse desempenho. Ele lembra que o número de exportadores passou a aumentar a partir de 1999 e a tendência de redução iniciou-se em 2005.
Foi justamente nesses sete anos que o dólar experimentou grande valorização. Depois de cair para uma cotação média de R$ 1,08 em 1997, a moeda americana começou processo de apreciação em 1999, quando ficou no valor médio de R$ 1,82. O dólar chegou à cotação anual de R$ 3,07 em 2003 e passou a sofrer desvalorização a partir de 2005. Em 2007, o valor médio anual do dólar caiu para abaixo dos R$ 2. Numa tendência inversa, o número de importadores começou a cair em 1999 e voltou a se recuperar somente a partir de 2005. "Desde então são adicionados a cada ano cerca de 4 mil importadores. A única exceção foi de 2008 para 2009, por conta da crise", diz Castro.
Em 2006, explica Castro, as estatísticas do MDIC mostram um aumento do número de exportadores. Essa elevação, porém, diz, deve ser creditada a uma mudança de critérios na contabilização das empresas que atuam no comércio exterior. Passaram a ser contabilizadas as empresas que fazem as operações comerciais por meio de entrega dos Correios.
Além de um dólar desvalorizado, o que impulsiona as importações é o mercado interno altamente aquecido, o que alavanca desembarques não só de bens intermediários como de bens finais. "Quem não comprava do exterior passou a comprar", diz.
Ao mesmo tempo, a valorização do real e os preços das commodities acentuam a tendência do país de ter maior concentração das vendas ao exterior em um número menor de exportadores. De 2008 para hoje decresceu o número de grandes exportadores. De janeiro a setembro de 2008 eram 747 empresas que vendiam ao exterior acima de US$ 20 milhões. Nos primeiros nove meses deste ano o volume caiu para 684 exportadores. No mesmo período a quantidade de importadores que compram acima de US$ 20 milhões subiu de 754 para 812.
André Sacconato, economista da Tendências Consultoria, acredita que o quadro atual revela condições altamente favoráveis às importações. Ele diz, porém, que as empresas exportadoras tendem a ter um porte maior. Isso se intensifica num ambiente de dólar desvalorizado, que só traz rentabilidade ao exportador que tem escala e competitividade. O resultado é a redução da quantidade de exportadores.
"É bom lembrar que quando olhamos para o fluxo comercial em termos de valores, o quadro não é esse", diz. A balança comercial, pondera Sacconato, ainda tem superávit e as perspectivas de exportação, diz, são favoráveis, levando em consideração as estimativas de crescimento da economia chinesa. De janeiro a setembro deste ano as importações brasileiras somaram US$ 132,2 bilhões enquanto as exportações acumularam US$ 144,9 bilhões. "A perspectiva para a venda de bens industrializados ainda não é tão boa em razão da recuperação lenta dos Estados Unidos e da União Europeia. Mas isso não acontece somente para o Brasil. Acontece para todos."
Fonte: Valor Econômico/Marta Watanabe | De São Paulo
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