Com o barril de petróleo cotado a bem mais de US$ 100, um gargalo nas exportações no Iraque vem impedindo que parte da produção do país, ampliada recentemente, chegue a um mercado sedento.
Devastada por anos de guerra e sanções internacionais, a infraestrutura no sul do Iraque não consegue dar conta da crescente produção em campos da região, onde BP PLC, Exxon Mobil Corp, Eni SpA e Royal Dutch Shell PLC conseguiram aumentar a produção entre 10% e 20% com a modernização de poços existentes e a perfuração de novos poços.
A mais de US$ 112 o barril, a cotação do petróleo está pouco abaixo do recorde recente - graças à instabilidade política no Oriente Médio e ao cessar das exportações da Líbia. O petróleo adicional do Iraque poderia atenuar um pouco a pressão sobre os preços.
Hoje, o Iraque exporta 2,1 milhões de barris de petróleo por dia. Só que portos no sul do país podem processar apenas 1,8 milhão de barris por dia para exportação. O restante da produção de petróleo é exportado por oleodutos que atravessam a Turquia e vão dar no Mar Mediterrâneo.
Até o fim do ano que vem, o Iraque quer aumentar esse volume para 4,5 milhões de barris. A menos que dê para aumentar a capacidade nos portos do sul, devastadados 30 anos atrás durante a guerra Irã-Iraque e nunca reconstruídos, muito desse petróleo não terá como sair dali. Se pudesse escoar tudo o que produz, o Iraque seria o terceiro maior exportador de petróleo bruto do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita, que exporta mais de 6 milhões de barris por dia, e da Rússia, que exporta 4,8 milhões de barris por dia.
O Iraque está correndo para construir novos oleodutos e instalações de armazenagem de petróleo para que a capacidade de exportação siga o ritmo do aumento da produção.
"Nesse momento, mais importante do que aumentar a produção de petróleo bruto é saber como armazenar e exportar esse petróleo", diz Dhiaa Jaafar, presidente da estatal South Oil Co., que supervisiona as exportações iraquianas de petróleo dos campos do sul.
Segundo Jaafar, a BP e a South Oil foram obrigadas há pouco tempo a reduzir a produção do campo de Rumaila devido à capacidade insuficiente de instalações portuárias no sul.
Faw - cidade peninsular do Golfo Pérsico onde o petróleo bruto fica esperando para ser transportado, por dutos, a petroleiros no mar - ainda traz as marcas da devastação sofrida durante a guerra travada entre 1980 e 1988 pelo governo de Saddam Hussein com o Irã. Durante a guerra, a península foi ocupada por tropas iranianas.
A reconstrução foi adiada pela invasão e ocupação do Kuait em 1990 e 1991, por anos de sanções que se seguiram e pela crise que se instalou após a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003. Parte dos destroços de 64 imensas instalações de armazenagem de petróleo bombardeadas por aviões iranianos mais de 25 anos atrás ainda está à vista; o que restou de outros tanques de armazenagem foi vendido recentemente como sucata a empresas particulares de Basra, ali perto.
A expectativa é que Iraque e Arábia Saudita supram boa parte da capacidade adicional de produção de petróleo exigida para satisfazer a crescente demanda de mercados emergentes nos próximos 20 anos. Segundo projeções recentes da BP, o crescimento dos mercados emergentes vai aumentar a demanda por petróleo, biocombustíveis e outros combustíveis em 16,5 milhões de barris por dia até 2030. Boa parte dessa demanda adicional seria satisfeita por um acréscimo de 13 milhões de barris por dia na produção de países da Opep, sobretudo Arábia Saudita e Iraque.
"Sem o Iraque - com suas enormes reservas e oferta potencial -, o resto do mundo dificilmente vai dar conta da demanda projetada para o período de 2020 a 2030", diz Ann-Louise Hittle, diretora de análise do mercado petrolífero da Wood Mackenzie, de Boston. "Isso faria os preços do petróleo subirem muito e levaria a uma desaceleração do avanço na demanda, com implicações para o crescimento econômico mundial", acrescenta.
Depois de anos de dependência de uma rede de oleodutos que levam seu petróleo até a Turquia e dali para o resto do mundo, o Iraque agora pretende exportar o grosso do que produz de seu próprio território. A ideia é usar novos terminais de carga no extremo norte do Golfo Pérsico, na estreita faixa de território iraquiano entre o Kuait a oeste e o Irã a leste.
Já que os campos de Rumaila, Majnoon, Qurna Oeste e Zubair estão no sul do país, logisticamente é mais fácil exportar o petróleo pelo Golfo Pérsico. Foi o bombardeio dos terminais de exportação do sul e a subsequente tomada da península de Faw pelo Irã que obrigaram o Iraque a recorrer a novos oleodutos via Turquia e Arábia Saudita durante a guerra Irã-Iraque, o que desviou a exportação de petróleo iraquiano do Golfo Pérsico. O oleoduto saudita foi fechado quando o Iraque invadiu o Kuait em 1990. Nunca foi reaberto.
"Nossos terminais de exportação no golfo são os mais seguros, próximos e rápidos", diz Jaafar. Também são os mais baratos, pois com eles o Iraque não tem de pagar o pedágio à Turquia para levar seu petróleo até o Mediterrâneo. O projeto de US$ 1,4 bilhão para eliminar gargalos e aumentar a capacidade de exportação para 4,5 milhões de barris por dia envolve a construção de 16 novos tanques de armazenagem em Faw e de três novos oleodutos para levar o petróleo a quatro novos terminais flutuantes no golfo.
Fonte: Valor Ecnômico/Hassan Hafidh | The Wall Street Journal, de Faw, Iraque
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