Os estoques de petróleo bruto nos Estados Unidos atingiram seus maiores níveis em mais de 80 anos, próximo de 70% da capacidade total de armazenamento, segundo a Administração de Informação sobre Energia do país. O polo de armazenamento de Cushing, no Estado de Oklahoma, deve atingir sua capacidade máxima nos próximos meses. E embora as estimativas sejam imprecisas, o Citigroup acredita que as instalações comerciais de armazenagem de petróleo na Europa podem estar 90% cheias e os estoques da Coreia do Sul, África do Sul e Japão talvez tenham ultrapassado 80% de sua capacidade.
A escassez de locais para armazenar petróleo tem um risco: alguns analistas preveem que os preços do produto, que já caíram 50% desde junho de 2014, podem despencar ainda mais quando os produtores tiverem que vender petróleo com desconto para os poucos compradores que ainda têm espaço para estocá-lo.
Os consumidores, por outro lado, continuarão sendo os principais beneficiários do oceano de petróleo que as refinarias convertem atualmente em gasolina e outros combustíveis.
"Os níveis de estoque estão ficando assustadores", diz Harish Sundaresh, gestor de portfólio e estrategista sênior de commodities da Loomis, Sayles & Co., que administra cerca de US$ 230 bilhões. "Quando olho a [capacidade de] armazenagem, não parece que temos o suficiente."
Ainda assim, um alívio pode estar próximo. Mais tanques estão sendo construídos nos EUA e alguns navios-tanque de grande porte estão sendo alugados para armazenar o produto. Quando a oferta e a demanda por petróleo estavam quase equilibradas, depósitos de armazenagem em tanques ou em cavernas subterrâneas guardavam o produto durante alguns dias até que o negociante encontrasse um comprador.
Mas as petrolíferas estão extraindo quase 1,5 milhão de barris por dia a mais do que o mundo precisa, devido a uma combinação de queda na demanda e aumento da produção nos EUA. Isso significa que o petróleo armazenado hoje poderá ficar lá durante anos, dizem analistas. Se o excedente de oferta piorar, mais petrolíferas podem ser forçadas a fechar seus poços, efetivamente armazenando petróleo no subsolo.
Baseados na escassez de espaço de armazenagem, Sundaresh e sua equipe, que administram US$ 5 bilhões, apostaram que os preços do petróleo vão cair. Na sexta-feira, o petróleo para entrega em abril caiu US$ 1,15, ou 2,3%, fechando a US$ 49,61 por barril na Bolsa Mercantil de Nova York, a Nymex.
Espaço para armazenamento está se transformando em uma commodity negociável. O CME Group., dono da Nymex, vai lançar, em 29 de março, o primeiro contrato futuro de armazenagem de petróleo. O contrato permitirá que negociantes e produtores comprem e vendam o direito de armazenar certos tipos de petróleo em Lafourche Parish, no Estado da Louisiana, num mês específico.
Desde 2009, a última vez em que os estoques atingiram níveis altos, um boom na construção de tanques aumentou a capacidade de armazenamento dos EUA em milhões de barris. Esses tanques, porém, estão se enchendo rapidamente.
Próximo da cidade de Cushing, Mark Hurley, diretor-presidente da Blueknight Energy Partners LP, é o guardião de uma área repleta de tanques de petróleo. Os tanques, que agora podem armazenar cerca de 6,6 milhões de barris de petróleo bruto - suficiente para encher mais de 400 piscinas olímpicas -, estão totalmente alugados até o fim do ano. A Blueknight é administrada em conjunto pela empresa de commodities Vitol Holding BV e a firma de private equity Charlesbank Capital Partners.
"Recebemos muitas ligações para ver se temos algum espaço disponível", diz Hurley. Ele tem uma resposta curta para todos: não.
A Fairway Energy Partners LLC está planejando usar cinco cavernas subterrâneas, localizadas próximas a Houston, para armazenar cerca de 19 milhões de barris de petróleo até o fim de 2016. As cavernas, que foram criadas a partir da dissolução com água de formações naturais de sal, são adequadas para o armazenamento de petróleo ou de gás natural porque suas paredes de sal são impermeáveis.
A maior parte do petróleo processado em Houston costumava ser importado em navios, que eram dispensados quando os estoques ficavam grandes demais. Mas hoje as refinarias de Houston recebem grande parte do seu petróleo das petrolíferas dos Estados do Texas e Dakota do Norte e do Canadá. Como as leis dos EUA proíbem a exportação da maior parte do petróleo americano, os produtores têm poucos mercados onde vender seu produto.
"Muitos dos clientes com quem estamos falando estão começando a ver o mercado se esgotar", diz Christopher Hilgert, diretor-presidente da Fairway. Muitos negociantes veem Cushing como a base do excedente global de petróleo. A cidade é um centro de conexão de dutos que ligam campos de petróleo do Canadá e do oeste do Texas às refinarias localizadas ao longo da Costa do Golfo. Ela é, também, o maior centro de armazenamento comercial do país por capacidade e um local popular de estocagem, porque é lá que os barris que garantem os contratos futuros negociados na Nymex são entregues.
Em função de uma distorção atual no mercado - os preços futuros dos meses mais distantes estão mais altos que os dos meses mais próximos - os negociantes que armazenam petróleo em Cushing podem amarrar operações para vender petróleo a preços maiores.
"É dinheiro fácil", diz Brian Busch, diretor de mercados de petróleo da Genscape, provedora de dados que acompanha os níveis de armazenamento em Cushing. "Não há absolutamente nada que possa impedir" que os tanques de Cushing atinjam sua capacidade máxima, acrescenta. O volume armazenado em Cushing subiu para 49,2 milhões de barris na semana terminada em 27 de fevereiro, segundo a Agência Internacional de Energia. Os estoques lá tiveram alta de 7,8 milhões de barris em quatro semanas; nessa velocidade, a capacidade utilizável da área se esgotará até maio.
Operadoras de tanques de armazenamento, como a Plains All American Pipeline LP e a Phillips 66, afirmaram recentemente que preveem que as instalações em Cushing vão atingir a capacidade máxima. Quando isso acontecer, a maior parte dos tanques ainda disponíveis estará ao longo da Costa do Golfo americana ou em navios.
Os estoques comerciais de petróleo e de derivados nos países industrializados poderão chegar a um máximo recorde de 2,83 bilhões de barris até o meio do ano, alertou a Agência Internacional de Energia em fevereiro. A última vez que eles alcançaram esse patamar, em agosto de 1998, o petróleo era negociado a uma média de US$ 13,38 o barril, o equivalente a US$ 19,18 o barril hoje.
Fonte: Valor Econômico/Nicole Friedman | The Wall Street Journal
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