Pressionado pelo dólar, pelo excesso de oferta no mercado transoceânico e pela demanda chinesa ainda anêmica, o minério de ferro voltou a ser cotado abaixo de US$ 50 a tonelada ontem. A queda confirma as previsões de analistas do setor, que esperavam nova rodada de queda da commodity durante o terceiro trimestre, para algo entre US$ 45 e US$ 50 até o fim do ano.
No porto de Tianjin, na China, o insumo terminou cotado em US$ 49,70 por tonelada, menor patamar em três meses e 4,4% abaixo do preço de segunda-feira. Além da dinâmica de oferta e demanda, pesou sobre o desempenho a alta do dólar, fruto da aversão ao risco com as incertezas quanto ao futuro da Grécia e seu efeito para o resto da zona do euro. Em termos de representatividade no mercado, a Europa é pequena, atendendo por cerca de 5% da demanda global por minério - ou seja, o contágio à commodity se dá pela via financeira, e não econômica.
Em abril e maio, o minério subiu na esteira da escassez de embarques no mercado chinês. Problemas de clima e de infraestrutura fizeram com que exportações brasileiras e australianas desacelerassem, levando a uma queima de estoque nos portos e usinas, o que elevou os preços.
Com a retomada da oferta e a demanda ainda enfraquecida, os fatores de pressão sobre o preço do insumo se intensificaram. O Citi, por exemplo, acredita que a cotação irá cair a US$ 40 na média de 2016, após fechar em US$ 52 durante 2015. O J.P. Morgan crê em níveis de US$ 56 e 53 neste ano e no próximo, respectivamente.
Contribuiu ainda para a instabilidade o tropeço no mercado de ações chinês. O principal índice de Xangai, por exemplo, caiu 27% em um mês. "A bolsa chinesa reflete também essa situação na Europa, as economias movem-se juntas", afirma Victor Penna, analista do BB Investimentos. Esse fator foi um dos principais motivos, além da volatilidade causada pela Grécia, para o dia ruim na Bolsa de Metais de Londres (LME, na sigla em inglês), onde o cobre caiu 4,5%, para US$ 5.339,50 a tonelada, o alumínio recuou 1,7%, para US$ 1.666 e o níquel recuou 9% - maior queda em cinco anos -, para US$ 10.650.
Todo o cenário negativo derrubou as ações da Vale a seu menor nível em anos no pregão de ontem da BM&FBovespa, mas os papéis se recuperaram e terminaram no azul. Os papéis ordinários subiram 2,15%, para R$ 18,03, e os preferenciais de classe A avançaram 1,27%, para R$ 15,16. No início da tarde, Vale ON foi negociada ao pior patamar desde outubro de 2008 e PNA, ao menor preço desde 2006. Considerando a inflação, nesses dois anos, o minério era negociado próximo a US$ 61 em valores de hoje.
A virada foi observada pelo mercado em geral. O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, chegou a cair 2% na mínima do dia, mas terminou no azul, com avanço de 0,37% para 52.344 pontos.
"A ação da Vale cai na esteira do minério. Se olharmos dados macroeconômicos chineses, vemos que não há recuperação em curso", afirma Penna, do BB Investimentos. "O país mostra esse arrefecimento constante, desaceleração, e isso afeta o consumo de aço."
Mas mesmo com a alta de ontem, a Vale aparece como bastante descontada em relação à concorrência, lembra o analista do BB. Na Nyse, os ADRs da Rio Tinto perderam 1,05%, para US$ 39,72. No caso da BHP Billiton, o recuo foi de 1,57%, para US$ 38,97. Em 2015 como um todo, as quedas são de 14% e 17%, respectivamente. A brasileira cai cerca de 18%.
"O preço da ação [da Vale] está bem descontado mesmo, se levarmos em conta o que ela já entregou em cortes de custos e ainda pode entregar, como as vendas de ativos, para aliviar o fluxo de caixa", comenta Penna.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo
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