Países e empresas precisam parar de investir em novos projetos de fornecimento de petróleo e gás natural para que o mundo possa zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, disse a Agência Internacional de Energia (AIE) nesta terça-feira.
O órgão com sede em Paris também apontou em um relatório divulgado hoje que a meta de zerar as emissões líquidas de carbono exigirá uma rápida aceleração da capacidade de produção das energias eólica e solar, além da suspensão das vendas de carros com motor a combustão até 2035.
A AIE disse hoje que atingir essa meta é crucial para limitar o aumento da temperatura global a 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais — um dos objetivos propostos pelo Acordo de Paris.
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Os Estados Unidos voltaram ao acordo neste ano e propuseram reduzir suas emissões pela metade até o fim da década. Outros signatários, como a União Europeia (UE) e o Reino Unido, disseram que planejam atingir a neutralidade de carbono até 2050. Grandes empresas em vários setores altamente poluentes estabeleceram metas semelhantes.
No entanto, a AIE disse que as promessas dos governos até agora, mesmo se forem totalmente cumpridas, ficariam muito aquém do necessário para zerar as emissões líquidas de carbono até meados deste século.
Oferecendo o que afirma ser o primeiro roteiro abrangente para atingir essa meta, a AIE disse que mais investimentos são necessários, além de alterações significativas na forma como o mundo produz e consome energia.
Segundo o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, o relatório destaca as mudanças que devem ocorrer para garantir um caminho ainda viável para zerar as emissões líquidas até 2050.
Ele acrescentou que espera que o aumento dos investimentos em energia limpa impulsione a economia global e o mercado de trabalho.
Várias das maiores empresas de petróleo do mundo, incluindo BP, Shell e Total, sinalizaram a intenção de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e investir mais em energia de baixo carbono. No entanto, as sugestões da AIE vão muito além do que qualquer uma dessas companhias prometeu até agora, com muitas delas ainda dependendo da receita do petróleo e do gás natural para financiar seus planos de transição.
A maioria dos países também não pediu o fim de novos projetos de combustíveis fósseis. Dos principais produtores do mundo, apenas a Dinamarca disse que deixaria de lançar novos planos de exploração de petróleo e gás. Movimentos semelhantes foram anunciados por França e Nova Zelândia, mas foram vistos como gestos simbólicos.
A AIE disse que, se o fornecimento global de petróleo e gás for reduzido de acordo com seu roteiro, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) controlaria em 2050 mais da metade do fornecimento global de petróleo. Atualmente, o cartel controla mais de um terço.
O apelo da AIE para que as vendas de carros com motor a combustão sejam interrompidas até meados da próxima década também vai além das políticas anunciadas por muitos países desenvolvidos, embora o Reino Unido tenha apresentado recentemente um plano para encerrar as vendas de novos veículos movidos a gasolina e a diesel até 2030.
Embora as empresas e os governos estejam incentivando a compra de veículos elétricos, eles representaram apenas 4,6% das vendas em 2020, disse a AIE.
Além disso, a AIE disse que o setor de energia global precisará de US$ 5 trilhões em investimentos até 2030 para garantir um fornecimento confiável de energia de baixo carbono. Os recursos permitiriam quadruplicar o crescimento anual das energias solar e eólica até o final da década, de acordo com o relatório, mesmo após a expansão recorde de 2020.
Embora a maioria das reduções nas emissões de carbono necessárias antes de 2030 possa ser alcançada por métodos amplamente já usados, o mundo dependerá de tecnologias atualmente pouco utilizadas ou em estágios iniciais de desenvolvimento para atingir as metas propostas para 2050.
A AIE destacou o hidrogênio com baixo teor de carbono, baterias avançadas e a captura de carbono como tecnologias que precisam ter o uso ampliado rapidamente.
Fonte: Valor