A nova reorganização societária na Usiminas, com a saída dos acionistas Votorantim e Camargo Corrêa do bloco de controle, deve ocorrer em etapas, segundo apurou o Valor. As mudanças na empresa foram precipitadas desde o início do ano pelo movimento de compra de participações na empresa feito pela Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch. O desenlace passa pela Nippon Steel, principal acionista controladora da siderúrgica mineira, que está disposta a assumir o controle. O valor-piso para negociações entre a Nippon e seus sócios Votorantim e Camargo, que formam o bloco V/C, com 26% das ações votantes, foi estabelecido pela oferta não-oficializada da CSN, estimada em até R$ 5 bilhões. Ou seja, um patamar de R$ 40,00 por ação.
Representa um prêmio de 67% sobre a cotação do papel na sexta-feira: fechou a R$ 23,85, depois de passar o dia em queda por conta de comunicado divulgado pelos seus acionistas controladores negando entendimentos com a CSN.Dentro da estratégia para as Américas, a Gerdau e a argentina Techint são bem-vistas como futuras parceiras.Apesar dos comunicados dos integrantes do bloco de controle da Usiminas - Nippon Steel, Votorantim, Camargo Corrêa e o Clube dos Empregados da Usiminas (CEU) -, isso não significa que Votorantim e Camargo Corrêa, que receberam ofertas não solicitadas da CSN e negaram-se a negociar com Steinbruch, não estejam interessadas em vender essas participações.
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Os dois grupos não têm mais posicionamento estratégico na siderúrgica mineira, onde estão desde 1996 (Camargo) e 1998 (Votorantim).A posição dos dois grupos na Usiminas é atualmente de investidores financeiros. Não têm pressa de vender, mas também não faria sentido recusar propostas a preços que incorporem o potencial de ganho futuro da siderúrgica. O "upside" projetado para a Usiminas, alcançando uma geração de Ebtida (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de R$ 8,3 bilhões está previsto para ocorrer só em 2015, conforme informação recente da empresa. Quase metade desse valor viria do negócio de minério de ferro. Os dois grupos estariam dispostos a esperar quatro anos e apostar que isso, de fato, se materialize?Como os parceiros japoneses têm o direito de preferência na aquisição das ações e não querem sair da empresa nem se tornarem sócios de Steinbruch, a questão, agora, é de acerto de valores com os parceiros japoneses.
Além da Nippon, que é a líder dos acionistas japoneses, outros sócios importantes do grupo nipônico são a Mitsubishi e a Metal One, totalizando 27,8% de participação no capital controlador da empresa.Para uma fonte qualificada do setor, Votorantim e Camargo Corrêa não farão leilão de suas participações. "Elas vão procurar chegar a um entendimento bom para ambas e justo para os parceiros japoneses", afirma.Desde o fim do ano passado, Steinbruch já comprou no mercado 11,3% de ações ON (com direito a voto) da Usiminas, mas todas fora do bloco de controle. Com mais de 15% das PN (preferenciais, sem direitos a voto), hoje o empresário já é o maior acionista individual da sua concorrente direta no mercado de aços planos, com 13,2% do capital total.
A estratégia da Nippon será primeiro fechar o acordo de compra com Votorantim e Camargo e se fortalecer como acionista da Usiminas. Os japoneses passarão a deter 54% do capital votante se comprarem as participações dos dois grupos industriais, o correspondente a 28% do capital total da empresa.O passo seguinte da Nippon Steel, com vistas a sua estratégia de ampliar a atuação no mercado de aço das Américas, é buscar um parceiro com visões parecidas e com quem possa fazer um casamento de interesses comuns. O grupo Gerdau, décimo maior produtor do mundo, é bem-visto. Outro player mundial importante com o qual a siderúrgica japonesa tem bom relacionamento é a Ternium, controlada do grupo ítalo-argentino Techint, que atua na Argentina, México e EUA.
Para fontes ouvidas pelo Valor, pode ser precipitado da parte da Nippon simplesmente pôr outro acionista no lugar de Votorantim e Camargo. A operação inteligente é avaliar uma fusão de ativos - seja com Gerdau Açominas seja com a Ternium - que traga sinergias industriais e comerciais. E isso é difícil imaginar que os japoneses o façam da noite para o dia.Atualmente, a Nippon Steel conduz no Japão a união de seus ativos com os da Sumitomo Metal. Anunciada no início de fevereiro, a fusão das duas siderúrgicas, tem prazo para ser concluída em outubro de 2012.
Essa união, que leva de volta a Nippon ao segundo lugar no ranking mundial, atrás apenas da ArcelorMittal, busca fortalecer as duas empresas no mercado asiático e ganhar músculos para a briga com os chineses, que vêm ganhando força a cada dia na região. E o mercado japonês não tem perspectivas de crescimento da demanda.Outro motivo para não fechar um acordo apressado com Gerdau ou Ternium é que ambos os grupos são concorrentes da Nippon Steel no mercado global de aço, tanto em produtos planos como em longos. A estratégia de uma aliança com uma das duas companhias visaria principalmente as Américas. Nessa estratégia, a Ternium se encaixa bem no desenho comercial da região.Hoje, as operações da empresa na Argentina, México e EUA têm capacidade de laminação de produtos finais superior à de matéria-prima - produção de placas.
A Usiminas poderia complementar esse "gap" com placas excedentes de suas usinas de Ipatinga (MG) e Cubatão (SP).Para a Ternium, essa união significaria que ela deixaria de investir US$ 5 bilhões em um projeto para fabricar placas no Porto Açu, de Eike Batista, no litoral do Rio de Janeiro. Esse projeto ficaria, a principio, desnecessário para sua estratégia de abastecimento, considerando que há excedente de aço no mundo hoje.Outro fator de aproximação dos dois grupos é que Nippon Steel e Ternium têm uma parceria tecnológica e comercial numa operação no México.Da parte da brasileira Gerdau, que não é carta descartada, apesar de comunicado na sexta-feira negando negociações para compra das ações de Votorantim e Camargo, ela teria a oferecer como principal ativo a controlada Açominas, siderúrgica com amplo potencial de expansão e com projetos em curso de produção de chapas grossas e laminados a quente, dois produtos feitos pela Usiminas.Os ganhos de sinergias operacionais, logísticas e comerciais seriam enormes, avaliam especialistas do setor. "Seria um casamento perfeito, sonhado há décadas", disse uma grande conhecedora das duas empresas.
Além do mais, ambas detêm reservas de minério de ferro - matéria-prima cujos preços estão próximos de US$ 200 a tonelada - que seriam suficientes para abastecer sua produção. A lógica, afirmam, é que as duas empresas poderiam, no atual cenário de margens de ganhos comprimidas na siderurgia brasileira e mundial, racionalizar a execução de seus projetos futuros, reduzindo os custos de investimentos.Fonte:Valor Econômico/Por Ivo Ribeiro | De São Paulo