A política industrial brasileira para a área de óleo e gás natural deveria ser menos baseada nas demandas da Petrobras e mais conectada às cadeias globais de valor, afirmou ontem o secretário-executivo de exploração e produção (E&P) do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (IBP), Antonio Guimarães.
"A política de conteúdo local [para a área de óleo e gás] é parte de um pacote maior. A questão é como vamos desenvolver a indústria nacional verdadeiramente conectada às cadeias globais de valor", disse Guimarães, durante painel na Arena Valor do Conhecimento, na Rio Oil & Gas.
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A opinião de Guimarães foi compartilhada pelo diretor da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro) Telmo Ghiorzi. "Os instrumentos de política industrial não estão alinhados entre si. A política industrial está confusa. Temos que mudar a regra e, em vez de conteúdo local, fazer conteúdo internacional", disse.
O executivo também afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está fazendo "política industrial na veia". "Ele [Trump] tomou decisão de trazer para os Estados Unidos fábricas que estavam produzindo lá fora. Ele diz que não precisa se fazer política industrial, mas é o primeiro a fazer - e fazer com força", completou.
Segundo Ghiorzi, o Brasil tem condições de fazer algo semelhante na área de óleo e gás. "Temos ingredientes para fazer isso: demanda local, petróleo de sobra, território e competência. Temos que fazer com que as regras sejam favoráveis para o Brasil."
De acordo com o diretor comercial da fabricante de tubos para a indústria petrolífera Tenaris, Idarilho Nascimento, a política de conteúdo local brasileira precisa ser equilibrada. "Não deve ser uma barreira de proteção ao mercado local. Isso inibe investimento. Ele [conteúdo local] não pode ser irreal, mas não pode ser zero".
Na mesma linha, o diretor de operações da petroleira PetroRio, Roberto Monteiro, destacou que um ponto que precisa ser pensado pelo próximo governo é como garantir competitividade aos bens que o Brasil já produz e tem condições de fazer. "Senão você acaba sucateando esse mercado por não ser competitivo."
Uma saída para a indústria brasileira, destacou Ghiorzi, é o investimento em inovação. Nesse sentido, o secretário-executivo de E&P do IBP lembrou que, de acordo com o programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), companhias investirão US$ 13 bilhões no segmento. A questão, segundo o executivo, é "como fazer que esse dinheiro não fique só na ponta fabril, mas que ele passe a agregar valor e fique na fronteira tecnológica [...]. P&D é o conteúdo local do futuro".
Fonte: Valor